Por que investir em startups no Brasil ainda é um ato de resistência?

Escrito por
Cláudia Schulz producaodiario@svm.com.br
Cláudia Schulz é presidente da Associação Brasileira de Startups
Legenda: Cláudia Schulz é presidente da Associação Brasileira de Startups

O Brasil é, hoje, o principal ecossistema de startups da América Latina. Mas essa posição de destaque contrasta fortemente com a tímida participação do país no cenário global de investimento anjo. Segundo a pesquisa da Anjos do Brasil (2023), enquanto os Estados Unidos contavam com 368 mil investidores-anjo que aportaram mais de US$22,3 bilhões em 2022, o Brasil teve 7.963 investidores e aportes de R$984 milhões — apenas 0,9% do total norte-americano. É urgente entender por que estamos tão aquém do nosso potencial e agir para transformar esse cenário.

O investimento anjo é o ponto de partida para milhares de startups. Mais do que capital financeiro, ele envolve acompanhamento estratégico, rede de contatos e experiência prática — o chamado smart money. Em um ambiente de alto risco e baixa previsibilidade como o das startups, esse apoio inicial é muitas vezes a única forma de tirar ideias do papel e transformá-las em negócios viáveis. Um estudo internacional conduzido por Lerner, Schoar, Sokolinski e Wilson (2016) mostra que startups financiadas por investidores-anjo têm entre 14% e 23% mais chances de sobrevivência nos primeiros 1,5 a 3 anos, além de registrarem um crescimento de 40% no número de empregados em comparação às que não recebem esse tipo de financiamento.

Apesar de sua relevância, o investimento anjo no Brasil enfrenta entraves significativos. O principal deles é o tratamento tributário desfavorável: atualmente, os ganhos sobre esse tipo de investimento são tributados com alíquotas que variam de 15% a 22,5%, as mesmas aplicadas a ativos de renda fixa, mesmo sendo muito mais arriscado. Além disso, o país não oferece incentivos fiscais específicos para essa modalidade, nem permite a dedução do valor investido no imposto de renda, como ocorre em países como Reino Unido, França, Portugal e Israel.

A consequência é clara: o cenário fiscal e regulatório desestimula investidores a apoiarem empresas em estágio inicial. Segundo a pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) - “Identificação de lacunas regulatórias no investimento anjo no Brasil", 66% dos investidores-anjo entrevistados avaliam que a tributação atual afeta negativamente sua decisão de investir. E 96% afirmam que incentivos fiscais poderiam aumentar o volume de investimentos. Essa percepção revela que não se trata apenas de carga tributária elevada, mas de um ecossistema que ainda não reconhece plenamente o papel estratégico do investimento anjo na economia.

No Brasil, entre as mais de 2.500 startups respondentes, apenas 43,1% conseguiram algum tipo de investimento. O acesso ao capital segue como uma das maiores barreiras ao desenvolvimento de novos negócios. Ao mesmo tempo, países que adotaram políticas de incentivo — como o Enterprise Investment Scheme no Reino Unido — viram uma explosão na base de investidores e no crescimento de startups.

Rever a tributação sobre investimento anjo não é apenas uma pauta tributária: é uma política de desenvolvimento nacional. A inovação não nasce espontaneamente — ela depende de um ambiente regulatório estável, seguro e atrativo. Incentivar o investimento em startups significa impulsionar soluções para desafios públicos, gerar empregos qualificados e promover tecnologia nacional. É colocar o Brasil na rota da nova economia global.

Nesse sentido, é fundamental que o Congresso Nacional avance com propostas como o PL 3.922/2023, que permite a dedução parcial do IR sobre aportes em startups, e o PLP 252/2023, que cria um novo modelo de contrato com mais segurança jurídica para investidores e empreendedores. Tais medidas podem ser o início de uma virada.

O futuro do Brasil como potência inovadora a nível global depende, urgentemente, de uma mudança na forma como tratamos quem escolhe investir no novo, no arriscado, no transformador. No cenário atual, investir em startups no Brasil ainda é um ato de resistência — à burocracia, à insegurança jurídica e a um sistema tributário que desincentiva justamente quem aposta no progresso. Sem os investidores-anjo, muitas ideias promissoras jamais chegam ao mercado. É hora de deixar de punir a coragem e começar a valorizá-la. Alinhar nossa legislação às práticas internacionais é um passo essencial para transformar resistência em estímulo e estagnação em futuro. O Brasil não pode mais adiar essa decisão.

Cláudia Schulz é presidente da Associação Brasileira de Startups

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