IA na redação: igualdade de oportunidades
Em 2024, algo inédito começou a acontecer no município de Cedro, no interior do Ceará. Alunos da rede pública passaram a ter acesso a um recurso até então reservado a cursinhos de elite: a prática sistemática de redação com correção detalhada e imediata. Ganho coletivo de imensurável valor coletivo.
A tecnologia por trás disso é simples de explicar, mas poderosa em seus resultados. Criamos uma plataforma de correção de redações com inteligência artificial que simula os critérios oficiais do ENEM e do SAEB – a Gradily. E como é isso: o aluno escreve à mão, envia uma foto e, em segundos, recebe feedbacks objetivos, competência por competência.
É sabido que corrigir 60, 100 ou 300 redações consome o tempo dos educadores, quem é professor sabe do que falamos. Agora, esse tempo é devolvido a eles, não como folga, mas como liberdade para acompanhar os alunos com mais foco e estratégia.
A experiência em Cedro mostrou algo essencial: quando você retira as barreiras logísticas da educação, os alunos respondem com protagonismo. Vimos alunos do EJA redescobrirem o gosto pela escrita, crianças do ensino fundamental progredirem rapidamente e professores se tornarem curadores de conteúdo e não apenas corretores.
A inteligência artificial não substitui o professor, evidentemente. Mas pode, sim, ser um copiloto poderoso. Ao lado do humano, amplifica o alcance do ensino e torna possível o que antes parecia distante: que alunos da rede pública também escrevam 50 redações por ano, como os alunos da rede privada.
Com dados gerados pela plataforma, é possível indicar com precisão quais turmas precisam de reforço, em quais competências, e propor atividades específicas para cada realidade. Professores relatam que passaram a dar aulas com mais intencionalidade, e alunos demonstram mais confiança e autonomia. O tempo poupado vira tempo de qualidade.
O primeiro passo foi dado no mencionado município do Centro-Sul cearense. E o sonho maior é que cada aluno do Ceará tenha, também, as mesmas oportunidades de aprendizado. Porque talento não escolhe CEP, mas as oportunidades, infelizmente, ainda nos escolhem. E é isso que estamos decididos a mudar.
Samuel Brasil é educador