Escola integral, solução parcial

A discrepância é eloquente e dispensa rodeios: ampliar a carga horária, isoladamente, não assegura melhores resultados

Escrito por
Davi Marreiro producaodiario@svm.com.br
Consultor pedagógico e professor
Legenda: Consultor pedagógico e professor

O debate sobre o impacto do Ensino Médio Integral (EMI) na qualidade da aprendizagem voltou a ganhar destaque com a recente pesquisa do Instituto Sonho Grande, divulgada pela Agência Brasil. Os dados mostram que alunos matriculados em tempo integral alcançam resultados mais altos no Enem 2024, sobretudo na redação e em matemática, quando comparados aos colegas do turno parcial. À primeira vista, os números parecem confirmar a tese de que ampliar a jornada escolar eleva o desempenho.

Permitam-me a franqueza: costumo ouvir que “o pessimismo da razão não deve abalar o otimismo da vontade”. Belo lema para discursos de palanque, mas pouco útil diante de uma realidade bem mais áspera do que gostariam alguns gestores. O jornalista João Vianney escancara, por exemplo, uma contradição incômoda: estados que lideram em matrículas no Ensino Médio Integral, como Ceará e Piauí, não figuram entre os primeiros colocados nas médias do Enem ou do Saeb.

Em contrapartida, unidades federativas com baixíssima adesão ao tempo integral, como Santa Catarina e o Distrito Federal, ocupam as primeiras posições. A discrepância é eloquente e dispensa rodeios: ampliar a carga horária, isoladamente, não assegura melhores resultados.

Refletir sobre nossas estruturas sociais e educacionais é apenas o primeiro passo para aproximar o país de uma “vizinhança mais utópica”. Dados do Instituto Sonho Grande e a análise de Vianney expõem nossas fragilidades estruturais: continuamos presos a instrumentos restritos de avaliação. O Saeb, segundo João Paulo Cêpa, ainda se apoia em uma matriz anterior à BNCC e não dialoga com ela.

O Enem, como ressalta Rodrigo Travitzki, falha em seu papel de avaliação processual: a média no exame não indica a qualidade da escola, nem para responsabilização, nem para avanço democrático ou social. Assim, mesmo diante de alguns avanços, o país segue sem métricas abrangentes para medir a efetividade do Ensino Médio Integral e a aprendizagem. Apesar disso, como diria Thomas More, os “utopianos” mantêm a esperança de que, com o tempo, as políticas educacionais se tornem mais consistentes e se aproximem da escola que sonhamos.

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