Adultos hipnotizados pelas telas: o vício além da infância

Escrito por
Antonio Netto producaodiario@svm.com.br
Antonio Netto é professor
Legenda: Antonio Netto é professor

Muito se discute sobre os impactos do excesso de telas na vida das crianças, e com razão. Porém, raramente, se reconhece que o problema não é exclusivo delas: os adultos também estão cada vez mais viciados em dispositivos digitais, muitas vezes em intensidade igual ou até maior. E, se o exemplo deveria vir dos mais velhos, o silêncio sobre esse vício adulto soa como contradição perigosa.

A Organização Mundial da Saúde já incluiu o transtorno do jogo digital no CID-11 – transtorno do jogo (gaming disorder) –, reconhecendo, oficialmente, o comportamento como aditivo. Mas não se trata apenas de games. Um estudo francês com mais de 21 mil adultos mostrou que mais de um terço apresentava sinais de uso compulsivo do smartphone, evidenciado pelo hábito de usar o aparelho ao dirigir, ao deitar-se ou até no banheiro.

A contradição, entretanto, é que muitos desses adultos impõem regras rígidas às crianças, exigindo limites que eles mesmos não respeitam. O resultado é a naturalização do excesso. Nas refeições, no tempo de lazer e até durante conversas presenciais, as telas ocupam o primeiro plano, enquanto as relações humanas ficam em segundo. O impacto não é apenas individual, mas coletivo: cresce o número de adultos que dormem mal, sofrem de ansiedade, relatam sintomas depressivos e apresentam doenças crônicas relacionadas ao sedentarismo digital.

Não se trata de demonizar a tecnologia. Ela é parte do cotidiano contemporâneo, mas seu mau uso cobra um preço alto. O desafio, portanto, é construir uma cultura de moderação. Isso exige políticas públicas, campanhas de conscientização e, sobretudo, autocrítica. Estabelecer zonas livres de telas em casa, pausar o uso em determinados horários, priorizar relações humanas fora do digital são passos simples, mas urgentes.

Reconhecer o vício nos adultos não significa desviar o foco das crianças: significa ser coerente. Afinal, que autoridade tem os mais velhos para cobrar equilíbrio se vivem de olhos colados às telas? A saúde, a convivência e a credibilidade moral dependem desse choque de consciência.

Antonio Netto é professor

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