A tutela: escolas e os conselhos

Escrito por
Davi Marreiro producaodiario@svm.com.br
Consultor pedagógico e professor
Legenda: Consultor pedagógico e professor

Nada evidencia melhor a terceirização política do que o Conselho Tutelar carregando problemas que muitos evitam, um herói forçado no palco da irresponsabilidade estatal. Parafraseando Ambrose Bierce, a responsabilidade tornou-se um fardo descartável e leve o bastante para ser arremessado aos ombros, mais convenientemente, do povo. O refúgio político da vez é a Lei nº 15.231, sancionada em outubro de 2025, que obriga escolas a notificarem casos de violência e vulnerabilidade de alunos aos conselhos tutelares. No entanto, a lógica por trás da norma revela mais um episódio da já consolidada “terceirização moral” do poder público: transfere-se a execução sem garantir condições mínimas de efetividade.

A politicagem, ao delegar sem estruturar, transforma o dever em retórica e o amparo em burocracia. O resultado é uma rede de proteção fragilizada, onde o Conselho Tutelar atua como último reduto de uma engrenagem que não funciona. Exagero? Segundo a Agência Brasil, o país conta com cerca de 6.100 conselhos tutelares em 5.570 municípios. À primeira vista, a cobertura parece suficiente, até que se observa a dimensão da responsabilidade imposta. De acordo com o Censo Escolar de 2024, são 47,1 milhões de estudantes em 179,3 mil escolas. A equação é óbvia e cruel: estrutura mínima diante de uma demanda gigantesca.

Além disso, os números que justificam a lei são irrefutáveis. Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou aumento de cerca de 250% nos casos de violência escolar, somando 13,1 mil vítimas em 2023, segundo o Ministério dos Direitos Humanos e a Fapesp. No mesmo período, os registros de violência autoprovocada, automutilações, ideação e tentativas de suicídio, cresceram 95 vezes.

Diante de dados tão alarmantes, a lei parece inquestionável. No entanto, o perigo está justamente na aparência de solução. Sob o pretexto da prevenção, a escola que deveria acolher passa a monitorar; e o Conselho Tutelar, que deveria proteger, é empurrado ao papel de executor de uma política que observa mais do que ampara. No fim, o discurso de cuidado pode facilmente se converter em manual de “descontrole”, eficiente apenas em manter as aparências.

Davi Marreiro é consultor pedagógico

Gonzaga Mota
08 de Novembro de 2025
Doutora em educação, professora da educação básica, membro da Coordenação Colegiada do Fórum EJA/CE
Clarice Gomes Costa
08 de Novembro de 2025
Pedro Venturini é administrador
Pedro Venturini
07 de Novembro de 2025
Wellington Sampaio
Wellington Sampaio
06 de Novembro de 2025
Luiz Gustavo Neves é empreendedor
Luiz Gustavo Neves
04 de Novembro de 2025
Aldelfredo Mendes é diretor comercial
Aldelfredo Mendes
02 de Novembro de 2025
Artur Marques é presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP)
Artur Marques
02 de Novembro de 2025
Professor aposentado da UFC
Gonzaga Mota
01 de Novembro de 2025
Haley Carvalho é procurador-Geral de Justiça do Ceará
Haley Carvalho
31 de Outubro de 2025