A eficiência do Estado com seus empregados é a base para reforma administrativa

O ruído provocado por essa fala revela a gravidade do dilema político

Escrito por
Murillo Torelli producaodiario@svm.com.br
Professor
Legenda: Professor

A recente entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao podcast 3 Irmãos reacendeu um debate que poucos quiseram encarar com honestidade: a estabilidade do servidor público não pode ser confundida com imunidade à produção. Haddad defendeu que a estabilidade existe, mas que ela deve conviver com “regras claras de desempenho, padrão de qualidade e padrão de eficiência”, isso mostra que o serviço público tem de produzir resultados para a sociedade que o financia.

O ruído provocado por essa fala revela a gravidade do dilema político. De um lado, há a base de apoio entre servidores e sindicatos, naturalmente alarmada com qualquer sinal que aparenta fragilizar direitos conquistados; do outro, a sociedade com eleitores de todos os lados políticos exige serviços públicos mais céleres e funcionais, especialmente nas áreas que mais importam: saúde, educação, segurança e judiciário. Esse desalinhamento entre proteção laboral e demanda por entrega efetiva torna a reforma administrativa uma prioridade política que não pode ser empurrada com a barriga.

Importante lembrar o quadro legal: a própria Constituição Federal prevê instrumentos para lidar com desempenho insuficiente no serviço público, mas a regulamentação prática desse mecanismo ficou no limbo por décadas, até hoje pendem normas complementares e procedimentos concretos que garantam, com segurança jurídica, a responsabilização por baixo desempenho. O vácuo regulatório é um dos principais responsáveis pelo sentimento de impunidade e pelos incentivos perversos que afetam a eficiência da máquina pública.

Com tal fato questiono: Será que é possível associar a visão progressista (do governo Lula) com eficiência no serviço público? Merece resposta direta: sim, é teoricamente possível, mas depende do que se entende por “progressista”. Se ser progressista significa defender o acesso universal a serviços de qualidade e o uso responsável dos recursos públicos, então eficiência é prioridade óbvia. O que costuma travar a associação é que, na prática política, parte da esquerda equaciona proteção de direitos formais com defesa automática do status quo funcional, confundindo garantias trabalhistas com privilégios.

Para que a esquerda (ou qualquer campo identificado como progressista) incorpore a bandeira da eficiência sem perder coerência, precisa aceitar três compromissos mínimos: mensurar resultados, garantir processos justos para servidores e combater privilégios e apadrinhamentos que penalizam o cidadão contribuinte de impostos. Sem esses compromissos, “eficiência” vira rótulo vazio ou pretexto para precarização. E, sinceramente, a sociedade perde.

Modernizar o Estado é uma exigência civilizacional. Defender a estabilidade e a eficiência não é contraditório, é uma combinação necessária. Mas cabe ao campo reformista e ao campo conservador (e a qualquer cidadão honesto) pressionar por reformas que elevem a entrega pública, protejam os trabalhadores dignos e responsabilizem os maus servidores e gestores. Se a política seguir a via do diálogo institucional, com leis claras e fiscalização cidadã, a reforma administrativa pode ser uma vitória do Estado que serve à nação e não um instrumento de pulverização de direitos nem de manutenção de privilégios.

 

Gonzaga Mota
08 de Novembro de 2025
Doutora em educação, professora da educação básica, membro da Coordenação Colegiada do Fórum EJA/CE
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