Diferentes impactos na construção dos Portos

Escrito por Redação ,
Legenda: O uso de técnicas modernas, baseadas em avançados estudos, e a experiência com o porto do Mucuripe (foto de cima), construído na década de 30 do século passado, permitiram que o porto do Pecém (imagem de baixo) fosse edificado sem causar impactos ambientais consideráveis para as praias cearenses
Foto: fotos: kid júnior

Após a edificação do equipamento do Mucuripe, a passagem de sedimentos foi interrompida, surgindo erosão nas praias do litoral oeste

Fortaleza A justificativa mais comum para a erosão que assola a zona costeira cearense, sobretudo o Litoral Oeste, é a construção do porto do Mucuripe, na década de 30 do século passado. Em parte, a versão tem fundamento. Entretanto, outros fatores associados ajudaram a desencadear o grave problema.

É o que argumenta o professor Davis Pereira de Paula, doutor em Ciências do Mar, e cuja tese de doutorado foi intitulada "Análise dos riscos de erosão costeira no litoral cearense". Conforme o especialista, para construção do porto, "as dunas que margeavam aquela região foram degradadas. Parte delas foi usada para aterrar a área do empreendimento portuário".

Davis Pereira revela que o primeiro relato de erosão na nossa costa ocorreu no ano de 1933. A rigor, não foi o porto propriamente dito que causou o problema e sim as intervenções feitas para defendê-lo, como o enrocamento (espécie de enorme espigão de pedras). Com isso, os sedimentos (principalmente areia) que eram transportados da Praia do Futuro deixaram de passar. Parte deles ficou retido no espigão do Titanzinho e uma outra porção formou um banco submerso na orla. Por isso, até hoje, o porto sofre assoreamento e é necessário a realização de dragagens para retirar a areia. Além do mais, a partir de então, diminuiu de forma considerável o fluxo sedimentar para as praias do oeste de Fortaleza".

Para o especialista, esses fatores antrópicos (produzidos pelo homem) influenciaram, em parte, o que está acontecendo atualmente às praias de Caucaia, como Icaraí e Iparana. "O problema ali foi mais agravado ainda pela ocupação da bacia do Rio Ceará em toda aquela região no entorno da Barra do Ceará, associado, é claro, aos demais espigões edificados para recuperar as praias de Fortaleza".

Os impactos decorrentes da edificação do porto, na opinião do professor, podem ser considerados aceitáveis para a época. "Na ocasião em que a construção foi feita, não tínhamos as informações e as técnicas atuais, que nos permitem estudar melhor os fenômenos naturais e que podem ser utilizadas para evitar problemas como os que foram registrados ali no Mucuripe", ressalta Davis Pereira.

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O porto do Pecém, a exemplo do Mucuripe, fica também numa ponta rochosa. "A diferença é que ele é offshore, afastado da costa, sendo interligado por uma ponte vazada que permite o transporte de sedimentos. "Não há comparação em termos de impactos ambientais. O uso da tecnologia e o conhecimento em relação ao que aconteceu no Mucuripe foram fundamentais para que não fossem ocasionados problemas semelhantes".

O professor conta que naquela região ocorre uma pequena erosão na Taíba mas que não existem estudos que a relacione com a edificação do equipamento. "Muito pelo contrário. A praia do Pecém era uma das mais erodidas do nosso litoral. Hoje, o que constatamos é o surgimento de uma boa faixa de areia. O espigão construído em alto mar criou uma condição de menor agitação marítima, propiciando a deposição de areia ali".

Fernando Maia
Repórter

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