Fragmentos de óleo são encontrados na Praia de Canoa Quebrada, no Aracati ; veja vídeo

Pedaços de piche também foram localizados em pelo menos outras três praias do município. Ainda não há informações sobre a origem do material

Escrito por Lígia Costa , ligia.costa@svm.com.br
vários pedaços de piche na areia
Legenda: Maioria dos pedaços de piche foram localizados na Praia de Canoa Quebrada
Foto: Reprodução

Mais de dois anos após o maior vazamento de óleo registrado na costa brasileira, fragmentos de piche (asfalto líquido) foram encontrados em Canoa Quebrada e em, pelo menos, outras três praias do município do Aracati, no Litoral Leste do Ceará. 

Secretária de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda da cidade, Fátima do Carmo detalha que o material começou a ser recolhido por equipes da Prefeitura, na manhã desta quarta-feira (26), nas faixas de areia das praias de Majorlândia, Quixaba, Cumbe, além de Canoa Quebrada, onde há uma maior concentração.

A Prefeitura ainda recebeu informações da presença de fragmentos na praia de Lagoa do Mato, mas a maré alta impediu a averiguação nesta quarta, justificou a secretária. 

VEJA VÍDEO DO MATERIAL NA FAIXA DE AREIA DE CANOA QUEBRADA:

Em 2019, Aracati esteve entre os municípios atingidos pelas manchas de óleo. A diferença, pontua Fátima, é que desta vez o material surgiu em uma quantidade bem inferior e mais fragmentado. Contudo, ainda não foi mensurada a quantidade exata de tudo o que já foi recolhido. 

"São pequenos pedaços [de piche], parecendo bolinhas de gude, mas quando junta tudo fica muita coisa. Em alguns lugares se misturam com areia, em outros lugares se misturam com as algas, então a gente não consegue nem mensurar, na verdade, quantos quilos a gente conseguiu coletar hoje". 

Ainda não há informações sobre a origem do material localizado em Aracati ou se o mesmo tem alguma relação com o óleo surgido na costa do Nordeste em 2019.

dois homens fardados recolhendo piches com pás
Legenda: Equipes da Prefeitura de Aracati iniciaram a coleta de parte do material nesta quarta (26)
Foto: Reprodução

Monitoramento das áreas e investigação

Segundo Fátima do Carmo, a Prefeitura de Aracati, a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) e a Marinha do Brasil estão atuando conjuntamente para realizar o monitoramento das áreas atingidas e investigar a origem do material.

A cada turno, equipes são enviadas às praias para verificar se houve ou não aumento do material, em relação ao que já foi recolhido. 

"A Marinha já pegou uma quantidade [do piche] para fazer estudo, para saber que tipo de piche ou de óleo se trata, mas não temos mais informações de onde veio ou se vai continuar chegando", afirma. 

"Já comunicamos à Secretaria de Meio Ambiente do Estado, a Marinha já está também conosco monitorando pra ver se [o material] vai chegar em outros lugares ou se vai ficar direcionado no Aracati. A gente está estranhando não receber relato de [haver a mesma substância em] nenhum lugar", soma a secretária. 

Marinha também colheu material em Fortim

Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Marinha do Brasil informou que "tomou conhecimento" do "aparecimento de vestígios oleosos" no litoral do Ceará na terça-feira (25).

Conforme a instituição, militares da Agência da Capitania dos Portos em Aracati (AgAracati) e agentes da Prefeitura de Aracati retiraram material não somentes das praias de Cumbe, Canoa Quebrada, Majorlândia e Quixaba, em Aracati; como também de Canto da Barra, em Fortim.

"Amostras do material foram coletadas e serão enviadas para análise no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), no Rio de Janeiro. Estão programadas, para amanhã (27), novas ações de monitoramento e limpeza das praias", finaliza a Marinha.

pedaços de piche misturados às algas na faixa de areia de canoa quebrada
Legenda: Fragmentos de piche foram encontrados na faixa de areia de pelo menos quatro praias de Aracati
Foto: Reprodução

Impactos diversos

Na avaliação da secretária Fátima do Carmo, apesar de o município atuar desde o início para controlar a situação, a presença de óleo nas praias de Aracati prejudica o meio ambiente, a vida marinha, assim como também impacta na economia da cidade, cujo maior destaque é a vocação turística.

"Para o município, o impacto é terrível porque é uma cidade que vive muito do turismo e dos serviços. Uma grande receita nossa é de turismo, mas se começamos a não receber mais turistas porque se tem óleo nas praias, isso impacta economicamente a cidade".

Em nota publicada nas redes sociais, na noite desta quarta, a Prefeitura de Aracati lamentou o novo "desastre ambiental" e informou que os trabalhos serão realizados "todos os dias, até a limpeza total de nossa orla e a população pode nos ajudar enviando informações de locais onde aparecerem manchas, como também, se voluntariando para ajudar nos mutirões de limpeza".

nota oficial da prefeitura de aracati
Legenda: Em nota oficial, Prefeitura lamenta "mais este desastre ambiental"
Foto: Divulgação

Material é semelhante ao visto em 2019, diz pesquisador

Para o professor e pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), Rivelino Cavalcante, o material encontrado nas praias do Aracati se assemelha ao que foi visto em 2019, derivado do petróleo, podendo ser bruto ou processado. 

"Parece ser um material oleoso. Pode ser petróleo, pode ser petróleo cru, pode ser piche, mas o mais importante é que ele é um material semelhante ao material que chegou em 2019. Só vamos saber se é o mesmo material depois que coletarmos e fizermos as análises".

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Independentemente da quantidade, frisa o pesquisador, a substância provoca impactos ambientais. "Nós não sabemos onde é que esse material estava. Podia, por exemplo, estar retido dentro do oceano e os peixes, os organismos estarem sendo expostos a ele. Sendo pouco ou muito, qualquer material que não é natural do ambiente ele causa impacto". 

Como os fragmentos estão à deriva nas praias do Aracati, Rivelino Cavalcante avalia que eles devem se espalhar para outros pontos da orla cearense.

"O que estamos vendo aí é que ele [material] está chegando pelo Litoral Leste. Ou seja, do mesmo jeito como aconteceu em 2019: chegou primeiro nas praias do Litoral Leste e depois conseguiu chegar até, por exemplo, no extremo Oeste do Estado, já chegando no Piauí. Certamente vai aparecer em outros lugares". 

 

 

 

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