Lucro ou prejuízo era sempre uma dúvida

Escrito por Redação ,
Legenda: Comerciante há mais de 30 anos, Werbeth Leite trabalha hoje na sua fazenda no município de Milhã, onde produz queijos para venda. Ele lembra das dificuldades enfrentadas pelo comércio na hiperinflação e das mudanças após o Plano Real

"O Plano Real salvou o comércio". A afirmação é de Werbeth Leite, comerciante há mais de 30 anos e que hoje trabalha na sua fazenda localizada no município de Milhã, a cerca de 311 quilômetros de Fortaleza, onde produz queijos para venda. Na época da hiperinflação, ele optou por trocar a capital Fortaleza pela pequena cidade do Sertão Central cearense, com o objetivo de buscar mais oportunidades. "Tinha um mercadinho em 1992, mas a situação era caótica. Não dava para saber se teria lucro ou prejuízo no fim do mês, já que a inflação corroía tudo", conta.

>Realidade de incertezas difícil de ser esquecida

>Moeda brasileira ganha valor

Conforme diz, a saída dos comerciantes da época era "acompanhar a maré", prestando muita atenção na valorização de cada produto perante a moeda vigente. "A inflação era muito rápida e nenhum produto escapava da variação. Tínhamos um determinado custo de estoque em um mês, mas no outro já era uma mudança drástica. O comerciante precisava ter muito jogo de cintura para driblar estes efeitos", pontua.

Demanda pautada

Werbeth lembra também que a demanda se pautava, basicamente, em oportunidade de preço. Segundo ele, quando surgia um produto mais em conta no mercadinho, a procura dos clientes pelo item era instantânea e bastante elevada, com as pessoas formando filas para comprar por um valor mais acessível. Em contrapartida, os produtos que ficavam muito mais caros "da noite para o dia" acabavam acumulados na prateleira, o que gerava ainda mais prejuízo para os comerciantes.

Fiado era perigo

No Interior do Estado, até hoje é comum os mercadinhos locais venderem fiado, com as dívidas feitas pelos consumidores sendo anotadas, muitas vezes, em cadernetas para serem pagas no início do mês, por exemplo, quando a maioria recebe seus salários. Segundo Werbeth, a situação não era diferente no início da década de 1990, o que representava um grande perigo para os comerciantes, devido ao risco de calote pelo aumento inesperado dos preços.

"As pessoas faziam dívidas acreditando realmente que poderiam pagar por elas. Ocorre que, por conta da inflação descontrolada, acabavam tendo seus salários corroídos e ficavam sem condições de cumprir os compromissos. Isso era ruim tanto para os consumidores como também para os comerciantes".

Salvação do varejo

Com a estabilização trazida pelo real, ele destaca que a situação mudou "da água para o vinho", já que ficou mais fácil do comércio calcular corretamente a demanda, evitando estoques, além de saber exatamente qual seria o seu lucro no fim do mês. "Por isso que digo que o Plano Real salvou o comércio. Hoje você consegue se planejar, preparar ações estratégicas. Não sei como seria se ainda tivéssemos naquela situação", opina.

Depois do Plano Real, Werbeth Leite prosperou em Milhã. Em algum tempo, o mercadinho virou supermercado, que depois foi expandido. Além disso, ele chegou a ter uma farmácia, loja de eletrodomésticos, funerária, distribuidora, galeria, dentre outros negócios no município. Hoje, o experiente comerciante aposta na agropecuária para driblar os efeitos da crise, fabricando queijos que são vendidos no Interior e em Fortaleza.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.