Dilma encontrará demandas de setores que estão 'no limite'

Indústria, serviços, agricultura e comércio do Estado receiam o agravamento da crise e apresentam demandas

Escrito por João Moura - Repórter ,
Legenda: Segmentos como calçados, construção civil e indústria metalmecânica amargam perdas expressivas após um período de investimentos, com base na crença de que o País continuaria crescendo
Foto: Foto: Kid Júnior

Se a última viagem da presidente Dilma Rousseff ao Ceará, em setembro de 2014, foi marcada sobretudo pelos anseios em torno das eleições, a visita desta sexta-feira terá um foco bastante distinto. Esforçando-se para reconquistar a popularidade perdida após o enfraquecimento da economia e os escândalos de corrupção ligados à Petrobras, a chefe do Executivo nacional irá se deparar com uma série de demandas de segmentos que afirmam não ter como suportar novos ajustes e encargos.

> Presidente receberá empresariado

> Caixa diz que atraso do MCMV é de R$ 34,7 mi

> Apenas 47,9% das casas foram entregues no CE

> Transnordestina levará triplo do tempo para ficar pronta

Longe de estarem restritas a pequenos grupos, as queixas partem dos principais setores econômicos do Estado. "Nós estamos no limite do estrangulamento", aponta o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) do Ceará, Freitas Cordeiro. Um dos temores do comércio, afirma o líder classista, é que o governo federal, na tentativa de conter a inflação, aumente a taxa de juros e cause um impacto ainda maior sobre o consumo, o que resultaria em um número significativo de demissões no setor, agravando a crise econômica.

"As empresas já estão exauridas. Se o governo tentar aumentar as cargas, vai estar procurando um medicamento que vai matar o carrapato, mas vai levar a vaca junto, porque estamos no nosso limite", destaca. Para Freitas Cordeiro, o governo deve agora esforçar-se para dar sinais positivos para o setor, possibilitando índices maiores de formalização daqueles que atuam no comércio.

O presidente da FCDL acrescenta que as queixas do setor não estão ligadas a fatores políticos. "Não nos interessa quem está na presidência. O que nos interessa é dialogar com quem está lá, para que todos possam contribuir e prestar o maior apoio, fazendo a gente sair da crise", salienta Freitas.

"Euforia"

Setor mais fortemente atingido pela crise econômica, a indústria também anseia por uma retomada no curto prazo. Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart, o setor foi influenciado pela "euforia" do primeiro mandato de Dilma, realizando uma série de investimentos com a perspectiva de continuidade do crescimento do País.

Agora, compara, os custos elevados e a queda no consumo levaram setores como construção civil, calçados e indústria metalmecânica a amargar perdas significativas.

"Acho que a indústria cearense está dentro do contexto nacional. Ela não precisa ter nenhum tratamento especial", afirma. De todo modo, ressalta, o governo deve dar mais atenção às políticas de desenvolvimento regional, uma vez que a participação do Nordeste no Produto Interno Bruto (PIB) nacional não tem crescido de forma significativa.

Beto Studart diz considerar os cortes recentes anunciados pela presidente da República para buscar equilíbrio fiscal insuficientes. "Ela (Dilma) anunciou que vai fechar dez ministérios e cortar mil cargos comissionados. Isso não representa nada. Ela não deveria nem ter dito isso. Só a Fiec já cortou 700 cargos (na atual gestão)", compara.

Agropecuária

Já no setor agropecuário, a principal preocupação em relação ao governo federal é a continuidade de medidas voltadas para o enfrentamento à seca. Uma delas, aponta o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Flávio Saboya), é a renegociação das dívidas dos produtores rurais.

Vencimento das parcelas

Conforme explica Saboya, as dívidas renegociadas dos pequenos produtores têm parcelas com vencimento definido para este ano, o que tem deixado os agropecuaristas apreensivos.

Outro pleito do setor, complementa, é a manutenção dos polos emergenciais criados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A companhia, justifica, possui nove polos de distribuição no Estado, mas, devido à seca, foram criados outros 11 de forma emergencial, os quais foram fechados em janeiro último. O setor pede que os 11 polos se tornem equipamentos fixos no Estado. Ele ressalta ainda a demanda por novos subsídios para a aquisição de milho no Ceará, para de minimizar os efeitos da estiagem.

Legislação trabalhista

Por sua vez, o setor de serviços demanda algumas mudanças na legislação trabalhista. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-CE), Rodolphe Trindade, entre os pleitos do segmento está a possibilidade de contratar aprendizes de 16 a 18 anos para atividades hoje consideradas insalubres. "Mas não tem como considerar insalubre o trabalho de um jovem que vai trabalhar de garçom e manusear uma faca ou trabalhar em frente a uma chapa para fazer sanduíche", comenta.

Outra iniciativa almejada, aponta, é a regulamentação do trabalho intermitente, que permitiria a contratação de trabalhadores com uma jornada móvel, baseada na demanda do estabelecimento. "Se você tiver um restaurante com dois cozinheiros, mas um deles está de férias e o outro adoeceu, você vai ter que fechar as portas naquele dia? Se você puder contratar uma pessoa só para aquele dia, ganha todo mundo, tanto o trabalhador quanto a empresa, que vai ter segurança jurídica", argumenta. Trindade destaca ainda que o setor espera maior simplificação na área tributária, além de maior agilidade nos processos de licenciamento.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.