Romeiros do Pe. Cícero depredam marco histórico

Escrito por Redação ,
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Foto: Francisco Demontier
Juazeiro do Norte (Sucursal) – Uma parte da muralha construída no Horto, o canhão trazido pelos soldados do coronel Franco Rabelo e fotografias, é tudo que restou do chamado movimento sedicioso de 1914. O canhão que voltou-se para trás bombardeando sua própria tropa está bem guardado no Memorial Padre Cícero, mas a muralha vem sendo devastada pouco a pouco. Boa parte das pedras é levada pelos romeiros, a fim de “amolar facas”.

O padre salesiano, José Venturele, responsável pela área da Colina do Horto, informa ter reconstruído parte da muralha de pedras no ano passado. Ela fez parte do chamado Círculo da Mãe de Deus que incluía valas num total de nove quilômetros, mas, hoje, restam apenas cerca de 600 metros lineares do marco. O sacerdote diz reconhecer a importância histórica do muro e garante que se empenha no controle para evitar a destruição.

O professor e historiador, Daniel Wálker de Almeida Marques, defende que a Prefeitura de Juazeiro do Norte determine a restauração “de pelo menos cem metros das muralhas para efeito de resgate daquele evento”. Ele observa que, no local, há pedras suficientes para a reconstrução “e a tarefa não seria difícil, pois ainda existe o mapa mostrando os locais”. De acordo com Daniel, a parte intacta é muito pequena e o restante encontra-se destruído.

SÍMBOLO — A muralha constitui-se num referencial do caminho como se fosse a porta de entrada para o Santo Sepulcro. Segundo historiadores, o Círculo da Mãe de Deus foi uma denominação dada pelos romeiros ao cinturão de valados e trincheiras construído ao redor de Juazeiro em dezembro de 1913. O objetivo era proteger a recém criada Vila das Tropas do governo Franco Rabelo, que estavam aquarteladas no Crato e ameaçavam de invasão.

Como não se sabia por onde os soldados viriam, a decisão do movimento comandado por Floro Bartolomeu da Costa foi no sentido de fechar todas as entradas com trincheiras e valados. Na época, Juazeiro liderava uma ação com o fim de derrubar Franco Rabelo e já sediava uma espécie de governo paralelo com o que o coronel não concordava e estava disposto a destruir a cidade. As trincheiras visavam prevenir, mas houve enfrentamento no Sítio Macacos, com muitos mortos e feridos de ambos os lados.

O canhão pesando 328 quilos e feito a partir de moedas de cobre e níquel, foi trazido pelos soldados do coronel Franco Rabelo. Na hora da detonação, de tão pesado, voltou-se contra as tropas de Rabelo matando vários homens. O fato foi contado repetidas vezes na literatura de cordel e apontado como “milagre de Padre Cícero”. Já a idéia da construção das trincheiras, segundo o historiador Daniel Wálker, foi de Antônio Vilanova.

Natural de Assaré, ele atuou como cabo-de-guerra de Antônio Conselheiro, o beato de Canudos. Vilanova não participou dos combates em defesa de Juazeiro, mas deu a idéia que terminou sendo decisiva para a vitória local. Na época, Padre Cícero pediu a colaboração dos juazeirenses no que foi atendido. O círculo tinha uma extensão aproximada de nove quilômetros de valados com oito metros de largura e cinco de profundidade. Ele foi construído num tempo recorde de seis dias de trabalho integral envolvendo homens, mulheres e crianças.