Magia do circo atrai público e renova tradição no interior

Escrito por Redação ,
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Mesmo diante das diversas opções de diversão, o circo ainda atrai grande número de espectadores

Crato - Hoje tem marmelada? Tem sim senhor! Hoje tem goiabada? Tem sim senhor! Respeitável público: o circo está de volta, trazendo a magia e o fascínio que sensibilizam adultos e crianças. Nas cidades do interior, os espetáculos são atrações de grande valia. Não importa se é luxuoso ou apenas uma humilde tenda sob a qual artistas anônimos, pelo amor à arte, tentam tirar seu sustento a partir da alegria dos espectadores. Mesmo diante das inúmeras opções de lazer, o circo ainda mexe com a vida das cidades.

Esta semana, chegou ao Crato o Circo Portugal Internacional, instalado no Parque de Exposições, que não foge à regra dos grandes circos, com malabaristas, equilibristas, palhaços, show de ilusionismo, globo da morte. Um dos destaques desta temporada é a apresentação das "águas dançantes".

Na noite de estreia, a arquibancada, com capacidade para 3.500 lugares, faltou pouco para lotar. Nas noites subsequentes, o movimento aumentou. O médico Macário José Brito Bezerra, conhecido como "Macarim", é um eterno apaixonado pelo circo. Vai a todos os espetáculos, até mesmo daqueles circos que nem cobertura possuem. Costuma levar os artistas para sua casa, onde oferece comida e banho de piscina.

"Quando chega um circo no Crato, eu faço amizade com os artistas", conta o médico, explicando que, no caso do Circo Portugal, o contato com o administrador José Arlindo da Silva foi acidental. Ele foi atendido por Macarim no Hospital São Francisco, depois de um pequeno acidente automobilístico.

Na noite de estreia, lá estava o médico, acompanhado da mulher e dos filhos, para alimentar um sonho que ele acalenta desde criança: ser artista de circo. "O circo é mais do que uma diversão. É um remédio para tristezas, angústias, dificuldades e decepções que ocorrem todos os dias no picadeiro da vida", prescreve o médico, lembrando que "não é sem razão que mais de um milhão de eleitores elegerem o palhaço Tiririca deputado federal".

Globo da Morte

Para os jovens, a principal atração é o globo da morte, com seis motoqueiros, que chegam a ficar a dois palmos um do outro. "É um número muito perigoso", diz o jovem motoqueiro Maicon Portugal, que nasceu e cresceu dentro do circo. Ele alerta que o sucesso do número depende muito mais da máquina do que da habilidade. "Para nós, motoqueiros, o globo da morte é mais um número circense. Mas, quando a moto falha, tudo pode acontecer. E já aconteceu".

O palhaço Xavequinho, dublê de palhaço e motoqueiro, conta que uma vez, em plena apresentação, a corrente de uma das motos arrebentou, três delas chegaram a bater e os motociclistas caíram. Outra vez choveu e o globo pegou umidade. Tornou-se escorregadio, a quarta e quinta moto caíram. Ele lembra que nasceu motoqueiro. Sua mãe era uma das integrantes do globo da morte. Saiu do circo para a maternidade onde ele nasceu. Antes da apresentação, a música que se ouve é o ronco dos motores. A tensão cresce, quando eles soltam o guidon em velocidade.

Sonho

"Levo os artistas para casa alimentando sonho infantil: ser artista de circo".

Macário José Brito
Médico

"Falta apoio do poder público para a cultura circense. A dificuldade é grande".

José Arlindo da Silva
Administrador do Circo Portugal

"O circo está no meu DNA, no sangue. Sou filho e neto de artistas de circo".

Maicon Portugal
Motoqueiro do globo da morte

Fique por dentro
A origem

É praticamente impossível determinar uma data específica de quando ou como as práticas circenses começaram. Mas pode-se apostar que se iniciaram na China, onde foram encontradas pinturas de 5 mil anos, com figuras de acrobatas, contorcionistas e equilibristas. Esses movimentos faziam parte dos exercícios de treinamento dos guerreiros e, aos poucos, a esses movimentos foram acrescentadas a graça e a harmonia. No Egito, há registros de pinturas de malabaristas. Na Índia, o contorcionismo e o salto são parte dos espetáculos sagrados. Na Grécia, a contorção era uma modalidade olímpica, enquanto os sátiros já faziam o povo rir, uma espécie de precursor dos palhaços. A estrutura do circo como se conhece hoje se originou em Londres, na Inglaterra. Trata-se do Astley´s Amphitheatre, inaugurado em 1770 pelo oficial inglês da Cavalaria Britânica, Philip Astley.

VIDA
Artistas percorrem o País, superando desafios dia a dia

Mas a vida no circo não é nada fácil. A cada dia um novo público, e novas cidades. Como judeu errante ou cigano, eles percorrem o País inteiro, levando emoções e alegria. Apesar de ser um mundo de sonhos, os artistas são pessoas comuns que trabalham arduamente, mas que vão às compras e passeiam no momentos de folga.

O Circo Portugal, que tem sede em Brasília, é uma família. 92% dos artistas pertencem à família Portugal, que está em sua quarta geração. Eles vivem em "trailers", mini-apartamentos móveis, com tudo o que uma casa comum possui: cozinha, fogão, geladeira, pia, mesa de refeições, quartos, banheiro e os eletrodomésticos da atualidade: TV, micro-ondas, rádio, máquina de lavar roupas. A alimentação é fornecida pelo próprio circo, que também cuida da educação das crianças.

Em cada cidade, as crianças circenses são matriculadas. Antes que o espetáculo chegue a um Município, um funcionário se encarrega de procurar uma escola para matriculá-los. Uma lei federal obriga que as instituições de ensino público e particulares ofereçam, em qualquer época do ano, as vagas para crianças circenses.

Palhação

Entre os personagens que trabalham no circo, mágicos, trapezistas, acrobatas, dançarinas e equilibristas, o palhaço é uma atração a parte. É ele quem, com suas palhaçadas, faz o público adulto esquecer os problemas do dia a dia. As crianças, principalmente, vão ao circo só para ver o palhaço. Sentado ao lado do seu "trailer", o palhaço Xavequinho, cujo nome de batismo é Rodrigo Falcão, nem parece com aquele personagem que, no picadeiro, faz piruetas por todos os lados. Cai, levanta, pula, sobe, desce, dança, faz caretas, anima os espectadores com suas artes e piadas. Aqui, ele é o pai de família. Casado, pai de dois filhos, Xavequinho, que é filho do dono do circo Veneza, acompanha, com interesse, os acontecimentos do dia a dia.

Ele diz que a comunidade circense não espera ajuda de Tiririca, eleito deputado federal. "Ele é um autêntico representante do povo. Eu o conheço. É uma pessoa simples, humilde, mas os políticos não vão permitir que ele faça alguma coisa por nós, artistas. Uma andorinha só não faz verão".

Antônio Vicelmo
Repórter