Cury defende flexibilidade na educação de seres humanos

Escrito por Redação ,
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O psicoterapeuta Augusto Cury esteve no Cariri, onde destacou a importância da educação e da criação de filhos

Crato O escritor e psicanalista Augusto Cury, considerado o "papa da autoajuda" pelo fenômeno editorial de títulos como "O Código da Inteligência" e "O Vendedor de Sonhos", se mantém na lista dos autores mais lidos do País desde 2005, com mais de 15 milhões de exemplares vendidos. Recentemente, ele esteve no Cariri, onde participou, como palestrante, do Congresso de Educação, que abordou o tema "Família e Escola, construindo saber, transmitindo valores".

Para Cury, não há diferença entre o nível de ensino do Nordeste e do Sul do País. Porém afirma que o nordestino é mais afetivo, aprendeu com as adversidades da vida a suportar as dificuldades. Para ele, a educação contextualizada é importante, mas precisa de cursos profissionalizantes que atendam à demanda regional. Ex-ateu e crítico ferrenho da sociedade moderna, afirma que a sociedade passou a valorizar o sujeito do tipo estressado, nervoso.

Sentado no "hall" de entrada do Hotel Encostada da Serra, no sopé da serra do Crato, ele iniciou a entrevista, dizendo que "a sociedade moderna se tornou um grupo de estranhos, próximos fisicamente e distantes interiormente. Pais, que são manuais de regras e de éticas e apontam o que apenas é certo ou errado, estão aptos para lidar com máquinas, mas não para educar seres humanos". Ao fazer este comentário, Cury ensina que "a educação de seres humanos exige flexibilidade".

"É mais difícil educar um filho do que dirigir uma empresa com milhares de funcionários, ou administrar uma cidade com milhares de pessoas". A avaliação do escritor vem acompanhada de uma orientação. Ele diz que "os pais devem ser generosos, altruístas e solidários com os filhos. Não adianta apenas puni-los diante de seus erros. É necessário primeiro conquistar o território da emoção, ou seja, antes de punir, elogiar, explicar e nunca dar ênfase na punição como objeto de mudança de personalidade".

O escritor aconselha também que os pais que passaram pelas intempéries com dignidade, tem que falar, para os filhos, sobre as lágrimas que eles viveram, como uma forma de mostrar que souberam superar os desafios e não perderam o foco dos seus objetivos. "Pais que nunca choraram diante de seus filhos ou que nunca falaram sobre os dias mais difíceis de suas vidas, nunca vão ensinar seus filhos a chorar as suas próprias lágrimas", lembra o escritor. Para ele, "não há ser humano que não derrame lágrimas, seja no vínculo do rosto, ou no teatro psíquico, silenciosamente".

Desmistificar heróis

"Ninguém é digno do podium se não usar os seus fracassos para conquistar o sucesso", disse o autor de "O Código da Inteligência", acrescentando que para formar seres humanos é necessário desmistificar os heróis.

Os verdadeiros heróis, segundo afirmou, "são aqueles de carne e osso, os imperfeitos que não têm a necessidade neurótica de estar sempre certos. São os que têm coragem de pedir desculpas, de abraçar e dizer: eu te amo".

Para Augusto Cury, a educação mundial está transformando o mundo num grande hospital de doentes mentais. De acordo o Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan, 50% das pessoas, mais cedo ou mais tarde, terão um transtorno psíquico. A Organização Mundial de Saúde (ONU) acredita que, nos próximos 10 a 20 anos, a depressão vai se tornar a mais importante de todas as doenças. 20% dos adolescentes já desenvolvem quadro depressivo.

Anorexia Nervosa

Ao apresentar estes números, o psiquiatra adverte que "o nosso modelo de educação massifica os jovens, que são bombardeados com o excesso de informação". Ele lembra que os jovens não estão desenvolvendo o gerenciamento da emoção, do pensamento, o romance com a própria vida, uma autoestima consolidada. Augusto Cury chama a atenção para o que ele classifica de "anorexia nervosa que consiste não na adoção de um modelo tirânico de beleza. São pessoas que não comem para não engordar".

No Brasil, de acordo com Cury, cerca de 1 milhão e 900 pessoas estão sendo vítimas deste sistema social doentio. No mundo são cerca de 50 milhões. A relação com os alimentos, que deveria ser poética, que financia à vida, tem sido traumática.

Nova síndrome

O psiquiatra anunciou a descoberta da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Ele explica que "pensar demais é o maior vilão da qualidade de vida. É um desgaste maior do que o provocado por uma atividade laboral muscular".

O pensar demais, segundo Cury, desenvolve sintomas importantes como acordar cansado, fatigado, dor de cabeça, dores musculares, queda de cabelo, nó na garganta, gastrite, irritabilidade, hipertensão, flutuação emocional, impaciência, intolerância, insônia, déficit de concentração e déficit de memória. Muitos milionários são miseráveis, vivendo em palácios. Estes são alguns dos assuntos destacados na entrevista com o escritor.

Cury lembra que, no passado, o número de informações dobrava-se a cada dois ou três séculos. Hoje, dobra-se a cada cinco anos. "Este excesso de informação é registrado no cérebro, gerando uma quantidade de janelas psicodisponíveis como nunca houve na história da humanidade". Ele exemplifica que uma criança de 7 anos de idade tem mais informações do que um imperador romano. "São informações não elaboradas que não se transformam em experiências e sabedoria. Por isso, os jovens vivem estressados. Reclamam quando ficam cinco minutos sem fazer nada".

Educação

Para Augusto Cury, os professores são mais importantes do que os psiquiatras porque eles lavram o solo da inteligência dos alunos para que estes aprendam a proteger as suas emoções. "Mais importantes do que os magistrados porque estimulam os alunos a se colocarem no lugar dos outros".

No entanto, de acordo com o psiquiatra, apesar da importância dos professores, o sistema em que eles estão inseridos está doente. Um dos erros da educação, de acordo com o escritor, é não estimular a arte da dúvida que, na filosofia, é o princípio da sabedoria. O outro erro, conforme Cury, "é a não humanização do conhecimento". Quase não se fala no produtor de conhecimentos, suas lágrimas, desafios, perdas, insônias e rejeições. Isso leva os alunos ao não pensar. Eles se tornam servos, espectadores passivos do conhecimento.

O psiquiatra diz que "a juventude está sendo transformada numa massa de consumidores passivos de produtos e serviços e não de ideias". Consequentemente, não estão desenvolvendo as funções mais importantes do intelecto, como pensar antes de reagir e capacidade de suportar contrariedades.

Ele sugere mudanças entre os professores. Estes devem voltar às salas de aulas mais equipados pedagogicamente, aptos a estimularem os alunos a fazerem a mais importante viagem: para dentro de si mesmo. Dentro dessa concepção, Cury propõe que os alunos, na sala de aula, não fiquem enfileirados como soldados que estão sendo preparados para uma guerra. Este modelo cria uma hierarquia intelectual. Os alunos devem se sentar em círculo, ou em meia-lua. Ele sugere também o uso de música ambiente durante as aulas, para motivar o território da emoção, desacelerando o pensamento, melhorando o nível de concentração e, também, de assimilação.

Sem diferença

Para Cury, não existe diferença entre o nível educacional do Nordeste e do Sul do Brasil. No entanto, explicou que, do ponto de vista emocional e afetivo, o nordestino é mais desenvolvido. Ele lembra que todas as sociedades que passaram por dificuldades, frustrações, tendem a desenvolver a solidariedade para sua sobrevivência. Isso ocorreu também em alguns países da Europa. Mas, no campo educacional, não há diferença. Os erros são os mesmos.

Na sua visão, cada escola deveria ser responsável pelo seu orçamento na contratação de professores, reformas e compra de equipamentos. Os professores deveriam ganhar mais e trabalhar menos. Trabalho intelectual excessivo gera desgaste. O salário dos professores deve ser de acordo com o rendimento dos alunos.

Educação contextualizada

Na sua avaliação, a educação contextualizada é muito importante porque leva os alunos a lidar com os fatores que vão vivenciar ao longo da trajetória de vida: seca, desemprego, dificuldades geográficas, que estimulam o processo de superação da vida. "Mas é fundamental uma educação voltada para a formação de técnicos capazes de atender à demanda do crescimento. Existe um complexo de inferioridade. Muitos preferem os diplomas de médico, dentista, quando o País não tem espaço social para tanto".

Inteligência multifocal

Autor do livro "Inteligência Multifocal", Augusto Cury fala sobre a necessidade de proteger a emoção. Ele diz que já tratou de pessoas milionárias que, na verdade, eram miseráveis morando em palácios porque nunca aprenderam a proteger a sua emoção. São pessoas excelentes nas suas áreas de atuação, mas não eram líderes de si mesmo.

Uma das formas de proteger a emoção é aprender a doar, sem esperar a contrapartida do retorno. Quem espera demais, pode ter uma vida miserável. É preciso entender que, por trás de uma pessoa que fere, há uma pessoa ferida. E, finalmente, compreender que as relações humanas, por melhores que sejam, sempre serão uma fonte de estresse. "Podemos conviver com animais e nunca sofrer uma decepção. A convivência com o ser humano é complicada, um dia haverá decepções. A maior vingança contra o inimigo não é odiá-lo, mas perdoá-lo", orienta o escritor.

Novo livro

Ao fim da entrevista, Cury anunciou o lançamento do seu novo livro "De Gênio e Louco, Todo Mundo Tem um Pouco". Em seu novo livro, Augusto avalia as pessoas que, apesar do seu potencial para a genialidade, são tolhidas da sociedade. Além disso, alerta a juventude para se preparar para enfrentar os problemas ambientais do futuro.

FIQUE POR DENTRO
Trajetória

Augusto Jorge Cury (Colina, 2 de outubro de 1958) é médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor. Desenvolveu a Teoria da Inteligência Multifocal, sobre o funcionamento da mente e o processo de construção do pensamento. Seus livros já venderam mais de 15 milhões de exemplares no Brasil. É pesquisador na área de qualidade de vida e desenvolvimento da inteligência, abordando a natureza, a construção e a dinâmica da emoção e dos pensamentos. O autor desenvolve teorias científicas sobre a construção do pensamento, disseminadas no seu centro de estudo intitulado Academia de Inteligência, na qual exerce função de diretor. É pesquisador na área de qualidade de vida e desenvolvimento da inteligência, abordando a natureza, a construção e a dinâmica da emoção e dos pensamentos.

Antônio Vicelmo
Repórter