Cachoeiras são convite aos esportes de aventura na serra

A estação das chuvas garantiu novas águas para as cachoeiras da Serra da Meruoca, cenário ideal para o ecoturismo

Meruoca. “Tranqüilidade e concentração, porque a adrenalina é logo no início. Mão direita sempre segurando a corda que sai do equipamento atrás do corpo. Pernas firmes, abertas e muita atenção para o visual, porque é lindo demais!”. Essas são, mais ou menos, as últimas palavras que os instrutores-irmãos, Anderson Rhusten e Adhler Rolvane, resumem para o aspirante a praticante de rappel, quando já estão pendurados na pedra, presos apenas por uma corda, e segundos antes de se aventurarem, de costas, sobre uma rocha de quase 30 metros de altura.

E não é somente a panorâmica que é deslumbrante. A sensação de ficar solto na Terra também é bem diferente. O Diário do Nordeste acompanhou um grupo de sete amigos que, no último fim de semana, subiu a Serra da Meruoca, distante cerca de 30 quilômetros de Sobral, para praticar uma atividade que, a cada dia, vem atraindo jovens de todas as idades, principalmente os que gostam de turismo e também esporte de aventura.

Os carros pararam na beira de um açude na entrada da cidade da Meruoca e, de lá, o grupo seguiu a pé, pela trilha fechada, de mato alto, carregando o material necessário para a prática segura de rappel, que são: cordas de polipropileno, feitas de fibra sintética resistente ao atrito; mosquetões, de duralumínio, utilizados na ancoragem, ou amarração, da corda em que é feita a descida; freio oito, também de duralumínio, é a peça que dá o controle da velocidade da descida; fitas tubulares, aconselhadas para ancoragens; cadeirinhas, tipo de cinta envolvendo pernas e cintura; capacetes e, ainda, luvas.

“Essa trilha é relativamente fácil, fica distante cerca de um quilômetro da cidade e, de caminhada, apenas meia horinha. Mas, apesar do pequeno grau de dificuldade, o grupo deve sempre estar junto, pois há trechos de subida íngreme, onde é necessário ajudar uns aos outros e, a qualquer momento, o inesperado da natureza pode aparecer, como animais, chuvas, quedas, enfim. É importante saber que nunca se deve ir sozinho praticar um esporte como esse”, explica um dos aventureiros, Anderson.

Pedra do Bocão

O local escolhido para “batizar” alguns do grupo que praticavam rappel pela primeira vez teve sua razão de ser.

De acordo com Adhler Rolvane, a Pedra do Bocão permite demonstrativos das duas categorias da técnica: “o rappel em positivo”, quando os pés estão em contato com a pedra durante a descida, e também o “rappel em negativo”, praticado em vãos livres, sem contato dos pés com a rocha.

“É importantíssimo utilizar corretamente o equipamento, porque é ele que te dá total segurança. No mais, é ter cuidado e curtir o passeio, porque a sensação é maravilhosa”, disse Rolvas. O atual presidente da Associação dos Praticantes de Esportes na Natureza (Aspen), e professor do curso de Educação Física da Universidade Estadual do Vale do Acaraú, Adalberto Pereira da Silva, disse que, na Serra da Meruoca, é possível praticar 80% das atividades esportivas na natureza, como: mountain bike (bicicleta), canyoning (escalada em cachoeiras), orientação (trilhas com mapas e bússolas), trekking (caminhadas), caving (caverna), camping (acampamento), cavalgada e outros.

“Temos também os açudes para práticas de canoagem, caiaque. Desde 1995, fazemos rappel, foi nossa primeira prática. Em 1997, fomos os primeiros a colocar esporte de aventura na grade curricular. Hoje, temos um projeto de extensão que cataloga todos os municípios da região norte e o potencial que cada um tem para a prática de ecoturismo”, destacou Adalberto.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Emoção começa nas trilhas da serra

Meruoca. A descida na pedra é relativamente rápida, mas a prática em si do rappel é somente o desfecho de uma aventura que começa bem antes dessa hora. Por isso mesmo, toda viagem, desde a preparação do material que será utilizado, até a apreciação das diferentes paisagens, cores, bichos, orquídeas e aves fazem a trajetória especial. De acordo com Anderson e Rolvane, a maneira mais segura de praticar essa técnica é participando do curso, ministrado pela Associação dos Praticantes de Esportes na Natureza (Aspen), e seguir treinando sempre.

“O curso ajuda muito na parte da teoria, inclusive no deslocamento. É preciso que as pessoas estejam conscientes de tudo que elas podem ou não devem fazer em um ambiente como este. Por mais próximo da cidade que seja, é hostil, pode-se encontrar aranhas, lagartos, serpentes. Além disso, o curso alerta para a educação ambiental, para o visitante ter cuidado de não deixar lixo ou marcas na natureza”, alertou Anderson.

Recentemente, a Aspen ministrou curso para formação dos cinco primeiros pilotos de asa delta da região, e há outro grupo se preparando para participar da 3ª Etapa do Campeonato Cearense de Orientação, que acontecerá dia 28 de maio, em Crateús. Segundo Adalberto Silva, a idéia da Associação é formar pilotos locais para, depois, atrair eventos nacionais e internacionais para a região.

“Hoje temos quatro instrutores qualificados para rappel, Wilson Pontes, Rômulo Aguiar, eu (Adalberto) e o Marconi Matos, que também é instrutor de escalada. Para quem quer começar, o curso básico tem 20 horas, depois vem o avançado, com outras 20 horas. Sempre lembrando que rappel não é considerado esporte, mas uma técnica de descida vertical, usada em resgate pelas forças armadas, corpo de bombeiros, limpadores de prédios e outros”, explicou o professor.

Na viagem do fim de semana para a prática de rappel, o grupo também fez trekking e, alguns, praticaram arvorismo, subindo em árvores para conseguir ascensão à pedra. “Estamos definindo uma área em Ibiapina, onde a Aspen terá uma sede no campo. Quem gostar de natureza é só se aproximar, nossa tribo é bem light”, disse Adalberto. A sede da Aspen fica no curso de Educação Física da UVA. 

Mais informações:
Associação dos Praticantes de Esportes na Natureza (Aspen)
Curso de Educação Física da Universidade Vale do Acaraú
(88) 3677.4254

Natérica Rocha
Repórter