Qual é 'fio do bigode' das empresas?

Foto: Shutterstock

O termo fio do bigode vem do alemão “Bei Gott” que significa “por Deus” e é usado em juramentos. Na tradução popular virou “Bigode” e assim, culturalmente, nasceu a expressão “fio do Bigode” para tratar situações em que se podia confiar na palavra do outro por ter “vergonha na cara”, e o fio do bigode já seria suficiente como garantia.

O tempo passou, e o bigode não é mais o suficiente para se confiar grandes valores sem junto com o fio retirado da cara, tenha um belo contrato assinado e de preferência feito por um advogado qualificado.

Eis que um Bigode da bola entrou no mundo das Finanças

A semana começou com o caso do jogador William Bigode e sua sociedade na empresa de investimentos que prometia 5% de rendimentos por mês. Uma promessa tão maravilhosa que tem que ser meio alheio das coisas do mundo para poder acreditar. Basta fazer uma conta simples, se você investe R$ 1.000 em uma aplicação na empresa indicada pelo Bigode, em 40 anos você teria mais dinheiro que o PIB do Brasil, algo acima dos R$ 14 trilhões. Tá nítido que não faz muito sentido. Outro ponto importante é a instituição escolhida, a XLand Holding, que fica no Acre, região que, por mais que seja um estado próspero, está longe de ser a sede padrão para empresas do mercado financeiro.

A XLand não é uma marca que tenhamos algum tipo de informação que faça alguém colocar milhões apenas por confiar na marca. Nitidamente o 'Fio do Bigode' do William tem força e ele conseguiu convencer os colegas a investir. Chamou atenção da mídia o valor de mais de 6 milhões de reais aportados pelo atleta Scarpa no fundo apresentado pelo grande amigo. Logo o Scarpa, que no mundo da bola é reconhecido como um dos mais dotados de estudos.

Até onde uma marca consegue chegar? 

A pergunta que fica é: se fosse a Apple oferecendo algo tão improvável, você investiria? Até quanto uma marca consegue fazer um cidadão investir parte da grana de sua vida nela? Digamos que a empresa da maçã fizesse uma promessa muito além da realidade e muitos entrassem nessa promessa, será que para evitar a quebra de uma marca poderosa, investidores iriam tentar salva-lá e assim dar alguma garantia a seus credores?

Você deve estar pensando “a Apple jamais faria uma marmota dessas”. Concordo que a empresa fundada por Steve Jobs, que já quase quebrou na década de 90, não iria ofertar algo tão absurdo assim. Ocorre que no mercado moderno, o 'fio do bigode' está na força das marcas. É na construção dela que está o grande valor, e não no preço dos produtos.

Se um dia a Apple oferecer algo que pareça estranho, a sua força fará com que muitos arrisquem, pois sua reputação permite a crença. Assim, um erro dessa magnitude teria um efeito de muitos em busca de salvar a marca pelo seu valor. Não é nem de longe o caso da XLand. Não me parece que grandes investidores estejam, neste momento, buscando uma forma de salvar essa marca. 

Quanto você investe na força da sua marca? 

“(...) um nome, termo, símbolo, desenho ou uma combinação desses elementos que deve identificar os bens ou serviços de um fornecedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los dos da concorrência”.
AMA - American Marketing Association

Quando falamos que marcas permitem absurdos de consumo apenas pelo seu poder, parece que estamos falando alguma lorota. Vamos direto ao ponto, do quanto ela gera valor. O homem mais rico do mundo, segundo a Forbes, não é o Elon Musk (talvez volte na próxima semana). O líder na lista dos ricaços é o dono da LVMH, o francês Bernard Arnault. Vendendo produtos que você não tem necessidade, este cidadão tem um patrimônio de US$ 150 milhões. Como assim ele é muito rico vendendo algo que ninguém necessita? Pois é, ninguém necessita de uma bolsa de R$ 80.000, mas a sociedade moderna sente a necessidade de ostentar uma marca de valor que passe para os outros o tamanho do seu próprio poder. Como ele faz isso? Com marcas de luxo que passam exatamente esta mensagem. Christian Dior, Givenchy, Dom Pérignon, Veuve Clicquot, Tag Heuer, Tiffany & Co e outras tantas em um portfólio de 75 marcas, essa é a base do patrimônio do homem mais rico do mundo. 

“O luxo começa onde a necessidade termina”
Coco Chanel

Ao investir na força das marcas, as empresas de Bernard Arnault conseguiram alcançar o máximo do posicionamento em busca de valor. Ninguém compra uma bolsa da Christian Dior preocupado se a costura vai aguentar ou se o couro é bom mesmo para não estragar. A entrega é outra, o posicionamento foi além da questão física e isso se constrói com campanhas, coerência, assessoria de imprensa, branding, tempo, conceito, presença, design, inovação e uma série de ações que compõem o mix de marketing que uma empresa pode dispor.

Ocorre que esse investimento é visto por muitos como custo e, a maioria acaba ficando na guerra de preços, lutando por campanhas de ofertas, descontões, oportunidades únicas e pouquíssimo de marca. Fica difícil aumentar a margem quando o que você entrega é o que qualquer um poderia entregar. Se você não tem um bigode tão poderoso quanto o do William, é recomendável que cuide bem da sua marca, pois o 'fio do bigode' dela pode valer bem mais que o patrimônio líquido de seu negócio.

Veja também