'Personal marido', cachorrinho e psicotrópicos: o mercado da solidão faz suas cifras

Legenda: Pet, plantas e residências menores tornaram-se mercados bem rentáveis.
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O Brasil teve um crescimento de pessoas que moram sozinhos de 73% entre o penúltimo e o último Censo e isso equivale a aproximadamente 10% da nossa população. São dados até antigos uma vez que o Censo 2020 foi adiado, logo a tendência é um número ainda maior. Essa realidade é mais forte em países mais ricos. Canadá, Finlândia, Alemanha e Noruega têm pelo menos 30% da população total morando sozinha. 

Vídeo game, iPods, streamings, redes sociais, apps de paquera, imóveis menores, supermercados com produtos em tamanhos menores ou já cortados… A indústria já entende esse tal consumidor de modo bem claro.

Por mais divertido que seja ver sozinho uma temporada inteira da série predileta no fim de semana, pedir comida pelo aplicativo e arrumar confusão no grupo da família, chega um momento do dia que ver pessoas, conversar, interagir, conviver e se relacionar se tornam essenciais.

Na transição tecnológica que estamos, a ausência de convivência de humanos com humanos, nos colocaram de frente com os psicotrópicos, os mais rentáveis e práticos solucionadores das doenças da solidão. 

Só que a necessidade ainda não estava sanada. Precisávamos de algo que nos tratasse naturalmente a longo prazo, algo que fosse vivo, então vieram os Pets. Cachorros e gatos são os gigantes do suplemento emocional da última década, basta ver o tamanho das empresas que estão surgindo a cada dia. No Brasil, esse mercado faturou R$ 51 bilhões em 2021. A título de comparação, o mercado de Pets no Brasil superou o de café e o de delivery. 

O companheirismo como moeda afetiva

Em paralelo, outras tentativas do mercado foram crescendo.

O “personal marido” foi o mais rudimentar modelo de serviço humano para humanos solitários. Não vamos entrar na seara de acompanhantes que secularmente servem humanos, pois não era exatamente uma questão de solidão e sim algo mais antropológico.

Eis que surge no Japão um rapaz que presta o serviço de companheirismo, um modelo comercial, que oferta sensações normais de sociabilidade para solitários. Não estamos falando de transações sexuais, é apenas companhia fraterna.

Por mais doido que isso possa ser, os clientes podem começar a descobrir novamente como é viver entre humanos e essa talvez seja a transição mais difícil e importante para quem se isolou da convivência com a nossa própria espécie.

Ainda existe muito para crescer nessa retomada dos isolados, e talvez descubramos que a saída seja apenas voltar a viver sem fugir dos humanos. Eles podem ser perigosos, mas no fim são exatamente o suco do que nós mesmos construímos enquanto sociedade. Se enfrentarmos, talvez a reciprocidade comece a ser vantajosa. 

E até lá? Bom, até lá o mercado vai desenvolver muitos serviços para os solitários, se a sua empresa não compreendeu a força desse segmento, está na hora de você sair da sua bolha e começar a prestar atenção no íntimo dos humanos que estão ao seu redor.