De pulseira a biometria facial: como funcionam os sistemas de segurança em hospitais de Fortaleza

Secretaria destaca protocolos, enquanto trabalhadores apontam falhas na proteção de usuários dos espaços

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Fachada da emergência do HGF
Legenda: Fachada da emergência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), de gestão estadual
Foto: Fabiane de Paula

O chocante caso de violência dentro do Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, na última terça-feira (23), expôs a vulnerabilidade na segurança de trabalhadores e usuários de unidades de saúde. Mesmo com protocolos que vão de cadastros simples até biometria facial, profissionais apontam fragilidades diárias e históricas nos postos de trabalho.

O Diário do Nordeste conversou com representantes das categorias sobre as principais demandas, e questionou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) sobre:

  • Como a entrada das pessoas é autorizada/controlada nas unidades; 
  • Que procedimentos de vistoria/segurança são realizados antes de alguém entrar; 
  • Quais profissionais, agentes públicos ou privados, compõem o efetivo de segurança interno das unidades de saúde.

Os questionamentos foram enviados às duas Pastas na manhã da última quarta-feira (24). Até a publicação desta reportagem, a Sesa – que detém a administração de 9 hospitais públicos da capital cearense – não se pronunciou sobre o assunto.

Já a SMS, que administra outros 9 hospitais da cidade, destacou que em todos eles “os pacientes são acolhidos e cadastrados na entrada, onde, após a verificação documental, recebem pulseira de identificação”. A mesma análise documental e identificação é realizada com acompanhantes e visitantes. 

Veja também

O acesso de funcionários, frisa a secretaria, “é realizado pela portaria, onde os profissionais são recebidos e o controle de frequência é efetuado por meio de biometria digital”.

Já o IJF “tem sistema de câmeras de monitoramento e controle de acesso por meio de registro eletrônico de biometria facial para acompanhantes e visitantes, além de cartão de acesso para servidores e prestadores de serviços”.

“Entre as regras de acesso ao hospital, os usuários devem apresentar documento oficial com foto para registro no sistema e não são autorizadas as entradas com bolsas, mochilas e capacetes”, acrescenta a SMS.

Na última terça (23), o ex-funcionário Francisco Aurélio Rodrigues de Lima, 41, preso por assassinar o copeiro Francisco Mizael Souza da Silva durante o expediente, utilizou a biometria facial para entrar no hospital, mesmo cerca de 2 anos depois de ser demitido. 

O instituto é um dos 6 hospitais municipais que contam com efetivo fixo da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF). Além dele, também há agentes nos hospitais Dra. Zilda Arns Neumann (Hospital da Mulher) e Dra Lúcia de Fátima Ribeiro Sá (Hospital da Criança), e nas maternidades Nossa Senhora da Conceição e Gonzaga Mota (Gonzaguinhas da Barra do Ceará e do José Walter).

“Os postos de saúde contam com sistema de videomonitoramento e com o apoio da Guarda Municipal, que realiza rondas na área de abrangência dos equipamentos”, adiciona a SMS.

“De brigas a assaltos”

Corredor do IJF, em Fortaleza
Legenda: Corredor do Instituto Dr. José Frota, hospital municipal de Fortaleza
Foto: Kid Júnior

Uma das melhorias nas condições de trabalho pleiteadas por profissionais de saúde é o reforço da segurança, como resume José Quintino Neto, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará (Sindsaúde/CE).

“Da atenção primária à secundária até o IJF, são inúmeros os relatos diários desde brigas da população interna a assaltos a trabalhadores e usuários. Temos pleiteado junto à gestão que possamos ter guarnições da GMF protegendo ostensivamente”, frisa.

Quintino pontua que a insegurança ronda “todas as regiões da cidade”, mas observa que “há mais casos próximos às periferias”. 

“Quanto mais as unidades de saúde se avizinham desses perímetros dominados por facções, mais expostas elas são. Na Unidade de Atenção Básica Luís Franklin, em Messejana, por exemplo, foram dois assaltos em uma semana”, relembra.

Os casos ocorreram no início de 2023, quando a unidade foi assaltada três vezes em menos de 4 meses. No período, profissionais de saúde chegaram a paralisar as atividades em protesto por mais segurança.

O Sindsaúde abrange os trabalhadores de nível médio e técnico que atuam na área em todo o Estado. A reportagem procurou também ouvir o Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren/CE), entidade que representa uma das categorias da linha de frente da assistência. Até esta publicação, o conselho não disponibilizou membro para entrevista.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.