Seca tem preocupado produtores locais

O atual baixo nível dos reservatórios prejudica o cultivo da fruta, que é um dos destaques das exportações do Estado

Escrito por Redação ,
Legenda: Algumas empresas, para incrementar as atividades, estão investindo em terras em outros estados como na região de Açu, no Rio Grande do Norte
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Bem adaptado ao clima quente, seco, com alta luminosidade e temperatura, o melão encontra, no Ceará, condições ideais para se desenvolver. Nas regiões onde a fruta é cultivada, o verde das lavouras irrigadas contrasta com a vegetação acinzentada da caatinga. Mas o baixo nível dos reservatórios cearenses acendeu um sinal de alerta para os produtores que, para atender a demanda dos mercados interno e externo, têm buscado soluções para garantir o fornecimento de água adequada ao cultivo.

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"O problema é que, neste quinto ano de seca, estamos com menos de 10% da capacidade dos estoques de água no Estado e a prioridade é o consumo humano", diz Erildo Pontes, diretor técnico do Instituto Frutal. "Essa limitação impede um resultado melhor para o setor no segundo semestre", De acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos, a outorga de direito de uso de recursos hídricos, em situações de escassez o uso prioritário da água é para o consumo humano e também para o de animais.

"Não há como discordar que seja dada prioridade ao consumo humano, mas isso, de certa forma, deu uma parada no setor. E algumas empresas, para incrementar suas atividades, estão investindo em terras em outros estados como na região de Açu, no Rio Grande do Norte, onde há reserva de água, podendo priorizar a agricultura", diz Flávio Saboya, presidente da Faec. "Acredito que isso seja temporário".

A Agrícola Famosa, por exemplo, cuja fazenda-sede fica situada 70% no município de Icapuí e 30% em Mossoró, além de produzir no Ceará e no Rio Grande do Norte, também produz em Pernambuco e está investindo em campos no Piauí. No perímetro irrigado do Tabuleiro de Russas, no vale do baixo Jaguaribe, que até pouco tempo era uma das regiões mais produtiva do Estado, a situação se agravou.

"Nós tivemos perdas em Quixeré e Russas, que estão sofrendo com o problema, pois os canais foram secando", diz Marcellus Fernandes, atendente de exportação da Famosa. "Uma das coisas que a gente pode fazer é migrar para novas terras. Na seca, a importância de migrar é grande para a sobrevivência do produto". No Ceará, os produtores dependem do fornecimento Cogerh, via Canal do Trabalhador, que já vem dando prioridade ao consumo humano.

Investimentos

Além de buscar novas áreas, outra solução para viabilizar o abastecimento hídrico nas lavouras é a perfuração de poços profundos. A Agrícola Famosa investiu na aquisição de duas perfuratrizes, que custam em torno de R$ 2,5 milhões cada. A empresa, que conta com três poços profundos (de 500 metros de profundidade), já está perfurando outros oito poços para abastecer suas fazendas, ao custo de R$ 1 mil por metro perfurado. "Estamos conseguindo manter a produção por causa dos três poços profundos. Mas se não tiver inverno no próximo ano, a solução para a fazenda é fazer mais poços, porque a água que estamos recebendo dos canais de irrigação está chegando com o nível de salinidade muito alto", comenta Walmir Souza, técnico em agropecuária da Agrícola Famosa.

Na atual situação, uma das esperanças do setor para diminuir a dependência das chuvas é a conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco, que os beneficiaria. "Esperamos que se concretize logo a transposição, que está muito próxima de ser concluída. Isso garantiria o consumo humano e sobraria para a agricultura. Porque a grande vocação do Ceará é a agricultura irrigada", diz Pontes..

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