Raio-X da indústria: setor perde força na economia do CE

A participação industrial no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado foi de apenas 20,5% entre 2010 e 2013

Escrito por Redação ,

A história tem mostrado que a grande maioria dos países que se desenvolveram de forma rápida e eficiente o fizeram apoiados em suas respectivas atividades industriais. No Brasil, apesar de ser relativamente nova, já que só veio a se solidificar a partir da década de 1930, a indústria também tem exercido papel fundamental no crescimento nacional, mas, ao longo dos últimos anos, dá sinais de que vem perdendo o fôlego.

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Prova disso é que, segundo estudo inédito divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre 2010 e 2013 - último dado disponível para levantamento estadual - o setor perdeu força na economia de 23 das 27 unidades da Federação, incluindo o Ceará, posto que a participação industrial no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado apresentou retração de 1,5 ponto percentual (p.P.) no período.

Nacionalmente, a contribuição da indústria para o PIB apresentou queda ainda maior, de 2,5 p.P., passando de 27,4% para 24,9%. Apesar de registrar um decréscimo menor, a participação do setor na economia do Ceará foi de apenas 20,5% de 2010 a 2013, tendo em vista que o PIB industrial do Estado foi de R$ 19,4 bilhões, ante um total de R$ 94,6 bilhões. "Ainda não temos os número fechados, mas estimamos que, entre 2014 e 2016, a situação fique ainda pior, com o setor respondendo por menos de 20% da economia cearense. Com certeza vamos encolher mais", afirma Guilherme Muchale, economista da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Segundo ele, o setor chegou a representar 25% do PIB cearense há 10 ou 15 anos.

Ainda de acordo com o estudo "Perfil da Indústria nos Estados", da CNI, a participação do Ceará no PIB industrial do País também não apresentou qualquer crescimento no período analisado, permanecendo em 1,7% no ano de 2013. Vale salientar que o levantamento abrange a indústria de transformação, extrativa, construção e também serviços industriais de utilidade pública. "Se levássemos em conta apenas o setor de transformação, que é quem mais compete com o produto importado, teríamos um resultado ainda mais crítico", reforça Muchale.

Nordeste recua

Considerada a região que mais cresce no País, o Nordeste passou longe de escapar da tendência de encolhimento da indústria, posto que, no período analisado pelo estudo, oito, dos noves estados, registraram queda da participação industrial em suas respectivas economias. A Bahia, por exemplo, apresentou a maior retração do País, com recuou de 6,6 p.P. Entre 2010 e 2013, seguida por Piauí (-3,9 p.P.), Sergipe (-3,3 p.P) e Alagoas (-1,7 p.P.). Assim como o Ceará, Rio Grande do Norte (-0,5 p.P.), Paraíba (-0,3 p.P.) e Pernambuco (-0,3 p.P.) também viram o setor encolher, ao passo em que só o Maranhão avançou no período, com a participação industrial no PIB local aumentando em 2,2 p.P.

O que também chama atenção é o fato da indústria ainda responder por uma pequena fatia da economia de vários estados nordestinos. No Piauí, por exemplo, o setor tinha participação de apenas 12,4% no PIB em 2013, exatamente a metade da média nacional. Alagoas (17,6%) e Paraíba (17,9%) também apresentavam impactos menores da atividade industrial. No Sergipe, contudo, o estudo da CNI registrou a maior taxa de participação da indústria no Nordeste: 25,7% do PIB local.

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Explicações

Para Guilherme Muchale, vários fatores podem explicar o encolhimento da indústria ao longo dos últimos anos, mas tudo gira em torno da perda de competitividade do setor e da economia brasileira em geral. Segundo ele, os problemas passam pelo chamado custo Brasil, impactado pela alta carga tributária, assim como a carência de infraestrutura, menor nível de escolaridade, burocracia para se abrir uma empresa e pagar impostos, além da elevação de tarifas como a da energia elétrica. "Isso tudo pesa muito na hora de tentar ser competitivo no mercado internacional", diz.

Falando em mercado internacional, o economista da Fiec lembra que falta, no País, acordos bilaterais com outras nações para o livre comércio, inclusive com redução na tarifas de exportação. "Se pegarmos o número de acordos que nós temos e compararmos com outros países latinos, como Chile e Equador, que têm apostado bastante nisso, veremos que há uma carência enorme", comenta.

Soluções

Apesar de reconhecer o momento complicado que vive a indústria cearense e nacional, Guilherme Muchale garante que há condições do setor se recuperar, mas, para isso, seria necessário um grande esforço por parte do governo. "Condições existem, o que faltam são efetivas ações políticas. Seria preciso fazer, por exemplo, um grande plano de desenvolvimento do País, com visão de longo prazo", destaca. "Precisamos de medidas que deem aos industriais uma carga tributária com condições de competição, que implementem reformas estruturais, como tributária e previdenciária, além de questões que envolvem a própria segurança jurídica das indústrias", complementa.

Por fim, o economista da Fiec classificou como "urgente" o desenvolvimento da indústria brasileira no mercado externo, com o País promovendo mais acordos bilaterais de livre comércio e investindo em inovações tecnológicas. "Temos um câmbio benéfico para às exportações no momento. Precisamos multiplicar ações como a da ZPE (Zona de Processamento de Exportação) Ceará, reduzir a burocracia, diminuir as barreiras. Podemos até ter uma retomada já em 2017. Basta o País querer", finaliza Muchale.

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