Presidente evita falar sobre a volta da CPMF

Ao longo do evento, a presidente também apresentou aos empresários a situação do tesouro nacional

Escrito por João Moura - Repórter ,
Legenda: Por duas horas e meia, a presidente Dilma Rousseff, juntamente com os ministros presentes ao evento, ouviu as demandas de representantes do setor produtivo cearense
Foto: FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES

Ao longo da reunião em que detalhou a situação da economia nacional e ouviu as demandas de representantes do setor produtivo cearense por duas horas e meia, a presidente Dilma Rousseff evitou falar diretamente no possível retorno da Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF). Embora tenham dito considerar positivo o diálogo com o Executivo federal, os empresários presentes ao encontro manifestaram o receio em relação à volta do tributo, que foi extinto em 2007, mas é novamente alvo de discussão em meio à tentativa do governo de promover ajuste fiscal.

>Dificuldades são momentâneas e País voltará a crescer, afirma Dilma

>Casas: espera das famílias inscritas foi de até 6 anos

>Nordeste deve ter desempenho melhor que o País

>Diálogo com populares encerra agenda no Ceará

"A presidente falou sinceramente da exaustão do tesouro nacional, das dificuldades que ela está passando por conta da política do mandato anterior, que redundou nessa péssima situação que estamos passando", contou o presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Beto Studart.

Para ele, a volta da contribuição deverá ser aprovada no Congresso, uma vez que, ao reforçar também os cofres estaduais e municipais, a medida contará com forte apoio político. "A CPMF deveria sair de forma concomitante com uma série de medidas e reformas estruturantes, para que, quando a CPMF cair, o governo já esteja reformado adequadamente".

Segundo o presidente da Fiec, Dilma apresentou aos presentes à reunião - fechada para a imprensa - que existe "um déficit público já para 2015 e, em 2016, pior ainda, por conta do problema da Previdência Social". A presidente, acrescenta, afirmou que as ações realizadas no último mandato foram "uma questão de sobrevivência" para alimentar a economia e vencer a crise internacional iniciada em 2008. "Agora, só a retórica não vai modificar o panorama. Precisamos os assistir aos fatos reais e s providências reais para que a indústria volte a se desenvolver", comentou Studart.

Também presente ao encontro, o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) do Ceará, Freitas Cordeiro, destacou que o setor é contrário à medida. "As empresas estão exauridas. Nós saímos dessa crise é com produção, não é com recessão", comentou. De todo modo, comentou, o contato com a presidente agradou os presentes. "Só o fato de o governo ouvir nossas sugestões, e nós estamos precisando dessa proximidade (já é positivo)", disse.

Definição

Antes do encontro, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, ressaltou que ainda não há definição sobre o tributo, mas informou que, caso a CPMF seja estabelecida novamente, ele defenderá que a cobrança aconteça de forma temporária.

A contribuição foi defendida, durante o encontro, pelo ex-ministro e presidente da Transnordestina Logística Ciro Gomes. "O País tem uma crise fiscal grave, já está com o limite absolutamente deprimido de despesa, em áreas como saúde", disse.

Ciro Gomes afirmou que a CPMF teria pouco impacto para o setor produtivo. "É um imposto ruim, é regressivo, incide em cascata, tem todos os defeitos, mas é a única coisa que pode ser feita agora, porque não há necessidade de mexer na Constituição", comentou.

Demandas foram apresentadas

O empresariado cearense apostou em apresentar, à presidente Dilma Roussef e aos quatro ministros presentes no encontro realizado ontem à tarde, no Centro de Eventos do Ceará (CEC), uma pauta com demandas que, sem exigirem grandes investimentos, podem contribuir para a recuperação do desempenho dos setores produtivos no Estado - e também em todo o País.

"Ela deixou a cargo dos ministros e sinalizou como algo positivo, até porque essas demandas não exigem investimentos, só atitudes", enfatizou o presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), Honório Pinheiro. Segundo ele, foram apresentadas cinco demandas à presidente e aos ministros: a simplificação dos processos para quem produz; a redução da maioridade para entrada no mercado de trabalho - atualmente estabelecida em 18 anos-; a votação do projeto que amplia o Simples Nacional; a regulação dos cartões de crédito; e a aprovação da 'jornada flex'.

"Isso foi uma escuta, o que se espera agora é agir", acrescentou Pinheiro. O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Severino Ramalho Neto, salientou que as exigências feitas à presidente "não têm nada de novo" e que refletem, também, os anseios da população, citando problemas como a alta da inflação e dos juros e a queda da produtividade no País. "O recado foi dado, e uma das maneiras de se mudar isso é conversando, como já está sendo feito. Agora, outros passos têm que ser dados", ponderou.

O presidente da Associação Brasileira dos Atacadistas e Distribuidores do Brasil, José do Egito, destacou o tempo cedido, pela presidente, à apresentação das exigências dos cearenses. "Ela passou quase duas horas com a gente, e isso não aconteceu nos outros Estados. Ainda que tardio, o momento foi bastante válido", afirmou.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.