Petrobras cogita baixar preço dos combustíveis

O presidente da estatal, Aldemir Bendine, disse, ontem, que ainda não há uma determinação sobre o assunto

Escrito por Redação ,
Legenda: A avaliação da diretoria é que há margem para redução de preços neste ano por conta da desvalorização do dólar e da queda nas vendas de combustíveis nos primeiros meses do ano
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Brasília A redução dos preços da gasolina e do diesel no Brasil é um assunto que estaria sendo discussão na Petrobras, mas uma decisão sobre o tema não é imediata. Na tarde dessa segunda-feira (4), o presidente da estatal, Aldemir Bendine, encaminhou um e-mail a todos os membros do Conselho de Administração dizendo que "não houve qualquer decisão tomada no sentido de ajustar preços dos principais derivados".

>Vendas caem pela 2ª vez no bimestre

Bendine destacou ainda que a companhia monitora permanentemente a composição de custos e o comportamento do mercado e debateu se a redução dos preços poderia reverter a retração das vendas, que chega a 10% este ano. "Não houve qualquer avanço além disso - apenas um debate sobre a elasticidade do mercado neste momento e seus efeitos na nossa estratégia e nos nossos resultados", ressaltou.

No domingo (3), alguns integrantes do Conselho trocaram mensagens questionando a decisão pela redução de preços, veiculada na imprensa. A avaliação de alguns conselheiros é que o colegiado tem posição "afinada com o mercado" e a redução de preços abalaria a estratégia da companhia para reconquistar credibilidade.

"A Petrobras, em função de seu caixa, tem que maximizar o retorno com seus produtos. Esta é a filosofia e recomendação do conselho. Maximizar sem expor a companhia à competição que pode ser desvantajosa", ponderou um conselheiro. De acordo com ele, a tomada de decisão "operacional" não pode depender do conselho, pois demanda agilidade. Ainda assim, o conselho deveria ter sido consultado para avaliar se a redução de preços condiz com a estratégia de longo prazo da companhia. Mas a avaliação da diretoria é que há margem para redução de preços neste ano por conta da desvalorização do dólar e da queda nas vendas de combustíveis nos primeiros meses do ano. Em janeiro e fevereiro, as vendas caíram 11%, ante uma base já reprimida em 9% em 2015.

O tema também não passou pelo colegiado da BR Distribuidora, responsável pela venda dos combustíveis. No balanço de 2015 da estatal, a BR registrou prejuízo de R$ 1,2 bilhão ante lucro de R$ 2,1 bilhões em 2014. A queda foi explicada pela redução das vendas.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Medida elevaria os prejuízos

Não acredito nessa possível redução nos preços dos combustíveis pelo fato de a Petrobras não ter nenhuma base de sustentação técnica e financeira para isso. Essa discussão tem um caráter muito mais populista do que prático em seus efeitos sobre o atual cenário econômico do País. Isso elevaria significativamente os prejuízos da Petrobras, que em 2015 já amargou um déficit de R$ 34,8 bilhões, e de sua subsidiária BR Distribuidora, cujo prejuízo no ano passado foi de R$ 1,2 bilhão. Cogitar uma eventual redução no preço dos combustíveis é uma falácia, uma tentativa de aplacar uma calmaria social. A Petrobras, que já manteve seus preços represados artificialmente durante quatro anos, precisa é voltar a lucrar, e não ter novos prejuízos para gerar mais impactos negativos à economia brasileira. A empresa necessita, acima de tudo, sanear suas finanças, enxugar a máquina, como o Aldemir Bendine (presidente da Petrobras) vem propondo. Uma das alternativas, além do Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV), seria a redução do número de cargos comissionados.

Bruno Lughetti

Consultor na área de Petróleo e Gás

Como a estatal revende combustíveis a preços mais altos que no mercado externo, desde o final de 2014, outras distribuidoras passaram a ampliar importações e revender a preços mais competitivos no mercado doméstico. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) indicam que a BR Distribuidora tem perdido participação no mercado.

De dezembro de 2014 a igual mês do ano passado, a participação da BR no mercado de venda de gasolina, caiu de 28,5% para 27,7% no último ano. Já no segmento de óleo diesel, foi de 38,52% para 37,23%.

Produção

A produção de petróleo e gás natural no Brasil no mês de fevereiro totalizou 2,950 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), conforme a ANP. A produção total de petróleo em fevereiro foi de aproximadamente 2,335 milhões de barris por dia (bbl/d), queda de 0,8% em relação ao mês anterior. Na comparação com fevereiro de 2015, houve recuo de 4,0%.

A ANP divulgou ainda que a produção de petróleo do pré-sal foi de 873,5 mil barris de petróleo por dia (bbl/d), enquanto a de gás natural somou 34,6 milhões de metros cúbicos por dia (m3/d). No total, o pré-sal somou 1,091 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boe/d), um aumento de 6,0% em fevereiro ante janeiro.

Em fevereiro, os campos marítimos produziram 93,3% do petróleo no País.

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