Grupo enfrenta receio de investidores globais

Rumos das economias dos Brics geram dúvidas, o que pode fazer com que se busque outros mercados

Escrito por Redação ,
Legenda: Além dos baixos índices de crescimento, o problema mais recente tem sido a desvalorização das moedas em relação ao dólar
Foto: AG. REUTERS

Considerados por muito tempo motores do crescimento da economia mundial, os Brics enfrentam, agora, dúvidas e temor por parte dos investidores internacionais, que poderão buscar novos destinos para aplicar seus recursos. Suas economias vêm dando sinais de fraqueza ante problemas domésticos e ao ritmo de cortes dos estímulos que o FED (banco central norte-americano) tem dado à economia dos Estados Unidos, e também frente à demora em uma maior recuperação dos países que compõem a Zona do Euro.

Além dos baixos índices de crescimento, sobretudo no Brasil, o problema mais recente tem sido a desvalorização de suas moedas. O dólar na comparação com o real, por exemplo, chegou a valer, na última semana, R$ 2,43, a maior cotação registrada em cinco anos.

Como outros ministros da Fazenda dos Brics presentes recentemente a Davos (Suíça), para o Fórum Econômico Mundial, Guido Mantega culpou a crise dos países desenvolvidos pela redução do crescimento de emergentes, mas disse que "o Brasil tem condições de crescer a taxas maiores". E foi enfático, negando qualquer tipo de crise nos emergentes. "Não acredito que haja crise de meia-idade dos Brics. Até porque ainda estão na juventude", argumentou.

Líderes do crescimento

Mantega afirmou também acreditar que os Brics continuarão a liderar o crescimento da economia mundial, porém, para que isso ocorra, é preciso que os países desenvolvidos façam mudanças importantes nos seus modelos de crescimento.

Para tanto, citou o modelo de crescimento chinês, que, segundo ele, precisa aumentar sua demanda interna e diminuir o nível de investimentos.

"A China sai de uma fase para outra com qualidade de crescimento. Não acho que voltará a crescer como em 2007, mas vai crescer. A Índia vai continuar crescendo também, mas não 8%, 9%, mas poderá crescer 6%, o que já é um nível elevado para a economia mundial. Como é uma economia de renda baixa, haverá convergência de renda baixa para média", argumentou.

Na sua avaliação, a China permanecerá como a economia que mais cresce no mundo, mas com taxas de 6,5% ou 7% ao ano - não voltará mais a patamares de 12% ou 14%.

Caso brasileiro

No caso do Brasil, as mudanças serão em um sentido quase inverso ao necessário na China, afirmou Mantega. "Nós já temos um mercado consumidor avançado. Fizemos grande inclusão social, expandimos a classe média, reduzimos a pobreza. Nós temos um grande mercado consumidor. Para ativar esse comércio, falta crédito. Hoje está escasso. O mais importante é que o investimento vai fazer a economia brasileira crescer", afirmou.

Otimismo

O ministro fez, inclusive, uma previsão otimista sobre a formação bruta de capital fixo, que pode chegar a 24% do Produto Interno Bruto (PIB), declarando que esse aumento é uma resposta ao baixo investimento nas últimas décadas. (ADJ)
 

Maior presença mundial é buscada

De acordo com Sérgio Veloso dos Santos Júnior, pesquisador do Brics Policy Center - organização dedicada ao estudo dos países integrantes do grupo de emergentes - o foco do Banco de Desenvolvimento em discussão será o financiamento de infraestrutura, mas não necessariamente nos países membros. "Saindo do papel, esse banco será uma espécie de credor para fortalecer a presença dos Brics no cenário Global", explica.

Conforme disse, até onde se sabe sobre o direcionamento da instituição, "não se pode esperar um aumento na capacidade da infraestrutura no Brasil, por exemplo". "Entretanto, o desenvolvimento da infraestrutura do continente africano certamente será o grande tabuleiro onde os cinco países iriam jogar",afirma.

Segundo Veloso, isto aconteceria porque cada um dos integrantes dos Brics têm bancos de desenvolvimento próprios, com estruturas e propósitos voltados para a realidade de cada um . "O Brasil tem o BNDES, a China por sua vez, vários bancos de fomento", destaca.

Para ele, como a estrutura da instituição financeira não foi discutida na cúpula da África, a decisão poderá sair no encontro a ser realizado em Fortaleza.

"A ideia surgiu na cúpula realizada na Índia, quando os presidentes dos cinco países encomendaram de seus respectivos ministros de Finanças e da Fazenda um estudo de viabilidade para esse banco, e na reunião da África do Sul foi apresentada a conclusão. Então, é bem provável que a decisão de sua criação, assim como sobre a sua estrutura, saia agora", emenda. (ADJ)

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