Eletrobras ganha R$ 9,1 bi em valor de mercado

A notícia de que o governo planeja privatizar a companhia fez as ações subirem mais de 49% ontem

Escrito por Redação ,
Legenda: O governo federal deve submeter hoje ao Conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) a proposta de privatizar a Eletrobras
Foto: FOTO: PAULO MENEZES

São Paulo. Após o governo federal anunciar, na segunda-feira (21) à noite, que tem planos de privatizar a Eletrobras, as ações da companhia dispararam na Bolsa de Valores ontem (22), fazendo seu valor de mercado aumentar R$ 9,13 bilhões em um único dia, segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica.

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As ações ordinárias da Eletrobras, que dão direito aos acionistas voto nas assembleias, subiram 49,3%, para R$ 21,20. Já as ações preferenciais, que dão aos acionistas prioridade no recebimento dos lucros da empresa, avançavam 32,08%, a R$ 23,55.

Com a forte valorização, a companhia passou a ser avaliada na bolsa brasileira em R$ 29,30 bilhões, ante R$ 20,17 bilhões no fechamento do pregão da véspera.

De acordo com o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, o governo descartou incluir a Eletronuclear e a Usina Hidrelétrica de Itaipu no processo de desestatização da Eletrobras. No caso da empresa responsável pelas usinas nucleares brasileiras, o motivo é uma questão constitucional e, no caso de Itaipu, por se tratar de usina binacional, depende de acerto com o Paraguai. "Está escrito na Constituição que quem tem de ser o controlador (das usinas nucleares) é a União. A ideia não é ferir a Constituição. Já Itaipu será analisada em função dos acordos bilaterais com o Paraguai", explicou.

A expectativa é que, controlada pela iniciativa privada, a Eletrobras favoreça, a médio prazo, uma tarifa tarifária mais barata. "Com a eficiência e redução do custo, nossa estimativa é de que no médio prazo tenhamos uma conta de energia mais barata", afirmou o ministro.

A decisão de desestatizar a Eletrobras deve ser submetida hoje (23) ao Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). A União tem 51% das ações ordinárias, que são aquelas com direito a voto.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, disse que ainda não foi definido o percentual de ações que será repassado à iniciativa privada.

Nova York

O American Depositary Receipt (ADR) que representa ações ordinárias (ON) da Eletrobras fechou em alta de 48,54% nos negócios do mercado à vista em Nova York.

Para a agência de classificação de risco Moody's, a intenção do governo de privatizar a Eletrobras é um fator de crédito negativo para a estatal. De acordo com a avaliação da vice-presidente e analista sênior da Moody's, Cristiane Spercel, o plano introduz incertezas sobre em que medida o governo suportaria a Eletrobras em momentos de necessidades inesperadas.

Paralisação

A Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel) começa a discutir nesta semana uma possível paralisação de funcionários, em protesto ao anúncio de que o governo federal pretende privatizar a estatal do setor elétrico. Além do mobilizar os empregados no Rio, onde se localiza a sede da empresa, o diretor da entidade Emanuel Mendes revela que a Aeel pretende levar o tema para ser debatido no próximo dia 30 em Brasília com os outros representantes do sistema Eletrobras no País.

Risco

A ex-presidente Dilma Rousseff disse ontem (22) que privatizar a Eletrobras ameaça a segurança energética do País. "Vender a Eletrobras é abrir mão da segurança energética. Como ocorreu em 2001, no governo FHC, significa deixar o País sujeito a apagões", criticou a petista em sua conta no Twitter.

Dilma, que foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2005, disse ainda que o resultado da privatização da Eletrobras""é um só: o consumidor vai pagar uma conta de luz estratosférica por uma energia que não terá fornecimento garantido".

Opinião do especialista

Mercado recebe privatização com surpresa

Fiquei surpreso com o anúncio da possível privatização da Eletrobras, uma importante holding do setor elétrico brasileiro. Por enquanto, só se sabe que a privatização deverá abranger os segmentos de geração, distribuição e transmissão de energia. O governo federal ainda não detalhou o que pretende fazer, mas acho que, a princípio, os ativos vinculados à companhia que deveriam ser privatizados, como Chesf, Furnas e Eletronorte. É difícil imaginar uma holding privada controlando empresas estatais. A privatização, como um todo, é benéfica para o País. Mas, ao querer colocar a Eletrobras no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), parece que o governo está pensando exclusivamente em gerar caixa. Isso não pode ser uma coisa imediata. Entendemos a difícil situação fiscal do Brasil, mas esse processo deve ser feito pensando na melhoria da prestação do serviço e na redução das tarifas de energia a médio e longo prazo.

Jurandir Picanço
Consultor em energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec)

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