Dólar alto deve afetar despesas com viagens

O crescimento da despesa líquida com viagens foi de 15% em setembro, sobre igual mês do ano passado

Escrito por Redação ,

Brasília. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, previu ontem, que a elevação do dólar em relação ao real deve influenciar as despesas com viagens nos próximos meses. Em encontro há um mês com jornalistas, o técnico já havia previsto uma diminuição da expansão desses gastos por conta do câmbio, o que acabou não ocorrendo.

Ele comentou que o aumento de viagens ao exterior reflete a elevação da renda real da população. “À medida que permanece o aumento de renda real de 2,5%, é um fator que estimula o aumento dessas despesas de viagens. A renda é que é fundamental”, analisou.

Maciel disse, porém, que o dólar tem impacto nessa conta. “É possível que o dólar mais elevado venha a se refletir nos próximos meses”, projetou. Ele salientou que as despesas com viagens cresceram 18%, em 2013, na comparação com o ano anterior. “Este ano moderou de forma significativa, mas ainda temos recordes”, admitiu.

Despesas

O crescimento da despesa líquida foi de 15%, em setembro, sobre o mesmo mês do ano passado, enquanto a bruta registrou alta de 11%, no período. “A característica dessa rubrica é de crescimento gradual ao longo do tempo. É importante perceber que há um crescimento, mas ao mesmo tempo moderação”.

O técnico salientou que, em outros momentos, o crescimento dessa conta já foi de 25% e isso chamava mais atenção. No acumulado do ano até setembro, a alta está em 4,5%. Questionado sobre se o aumento de viagens não preocupava o BC por conta das compras de produtos industrializados adquiridos no exterior, Maciel disse que o objetivo de viagens internacionais é “turismo ou negócio”.

Dados parciais

Maciel apresentou também os dados parciais de algumas rubricas das contas do setor externo. Todos os números são de outubro, até o dia 22. Segundo ele, o saldo líquido de viagens está negativo em US$ 1,2 bilhão no período, com receitas de US$ 337 milhões e despesas de US$ 1,537 bilhão. No caso de computação e informação, a rubrica está negativa em US$ 168 milhões e, no de pagamento de royalties, em US$ 109 milhões. Já aluguel de equipamentos registra um saldo negativo no período de US$ 825 milhões.

Maciel disse que até 22 de outubro ingressaram US$ 124 milhões em ações negociadas no País. A parcial para renda fixa negociada no País mostra ingresso de US$ 90 milhões. “A abertura do Global 2025 com liquidação no início do mês teve influência”, disse. O BC ainda divulgou a parcial para taxa de rolagem, até 22 de outubro. A taxa total, nessa parcial, está em 110%. Para papéis, em 158%; para empréstimos diretos, 100%.

Déficit do País alcança 3,7%; o maior desde 2002

Brasília.O déficit do País nas suas transações de bens e serviços com o exterior alcançou 3,7% do PIB (Produto Interno Bruto), nos 12 meses encerrados em setembro. É o maior percentual, na comparação com o tamanho da economia nacional, desde fevereiro de 2002, quando estava em 3,9%.

O aumento dos gastos brasileiros com serviços estrangeiros e a queda no saldo comercial do País estão entre os motivos que levaram a uma elevação desse resultado negativo nos últimos anos. No acumulado do ano, o déficit nas transações de bens e serviços com outros países somou US$ 62,7 bilhões, outro recorde. Já na comparação com o PIB, o resultado passou de 3,61% nos nove primeiros meses de 2013 para 3,72% no mesmo período de 2014.

Estudo recente do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostrou que o Brasil está entre os dez países com os maiores déficit mundiais, o que não acontecia desde 2006. O resultado brasileiro só é menor que os de Turquia e Reino Unido.

Condições financeiras

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o aumento do déficit para níveis superiores aos do início da década passada ocorreu principalmente em 2012 e 2013, mas está praticamente estabilizado desde então. O Banco Central prevê fechar o ano com déficit de 3,5% do PIB.

Para o governo, o importante é que as condições de financiamento desse resultado negativo continuam positivas, com cerca de 80% do valor sendo coberto por IED (Investimentos Estrangeiros Diretos). “O fundamental aqui é olhar as condições de financiamento. O IED segue ingressando no País em níveis expressivos”, afirmou.

Para o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a diferença entre déficit e investimentos diretos ainda é pequena. “Não é motivo de preocupação no curto prazo, diante do estoque de US$ 380 bilhões de reservas internacionais”, diz o instituto.

Gastos no exterior batem recorde

Brasília. Os gastos dos brasileiros em viagens internacionais somaram US$ 2,39 bilhões em setembro, segundo maior valor para todos os meses da série histórica do Banco Central, com início em 1947. A despesa de setembro é superada apenas pelos US$ 2,41 bilhões registrados em julho deste ano. Portanto, o resultado é também o maior para meses de setembro em toda a série.

Em 2014, os gastos em viagens têm superado os resultados vistos nos mesmos períodos de 2013 em praticamente todos os meses. As exceções foram os meses de janeiro e março. Na época, o BC chegou a projetar uma desaceleração dessas despesas, o que não se confirmou nos meses seguintes. No acumulado do ano, os brasileiros já gastaram US$ 19,6 bilhões, valor também recorde e 5% acima do verificado em igual período de 2013.

Em 2013, os gastos no exterior somaram US$ 25,3 bilhões e bateram recorde para um ano inteiro, contra US$ 22,2 bilhões nos 12 meses anteriores.
Transações correntes

O gasto com viagens internacionais é um dos componentes das transações correntes, que apresentaram em setembro déficit de US$ 7,9 bilhões. Foi o maior valor para este mês do ano. O Banco Central previa resultado negativo de US$ 6,7 bilhões.

O IED (Investimento Estrangeiro Direto) somou US$ 4,2 bilhões no mês passado, queda em relação ao resultado de setembro de 2013 (US$ 4,8 bilhões). No ano, o resultado acumulado subiu de US$ 43,7 bilhões para US$ 46,2 bilhões.

Moeda americana

Apesar do dólar mais alto encarecer as passagens e os hotéis cotados em moeda estrangeira, além dos produtos comprados lá fora, o recorde de gastos de brasileiros no exterior para meses de setembro aconteceu em um período de forte alta do dólar. No mês passado, o dólar avançou 9,33%, fechando em R$ 2,44. Foi a maior valorização mensal da moeda norte-americana desde setembro de 2011, quando o avanço foi de 18,15%, de acordo com a agência Reuters.

No fim do ano passado, a moeda americana estava cotada ao redor de R$ 2,34. Em janeiro e fevereiro deste ano, oscilou por volta de R$ 2,40. Já em agosto, o dólar teve queda de 1,36% em relação ao fim de julho, fechando o mês passado em R$ 2,23.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.