Alto custo ainda gera desafio ao segmento

Voos partindo de Fortaleza para destinos internacionais podem ser mais baratos que rotas nacionais

Escrito por Redação ,
Legenda: Um dos obstáculos apontados pelas empresas é o valor do combustível, que varia muito dependendo do local e tem preço elevado em regiões mais isoladas, gerando encarecimento das passagens regionais dentro do Brasil

O desenvolvimento da aviação regional é indispensável para a integração de um país de dimensões continentais como o Brasil, onde o acesso rodoviário é difícil a determinadas regiões e falta infraestrutura do modal ferroviário. Mas a situação ainda é muito difícil para o segmento, que já vinha se deteriorando antes mesmo da queda da demanda de passageiros, entre outros efeitos da crise econômica no País.

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De acordo com o professor de Engenharia Aeronáutica Paulo Greco, da Universidade de São Paulo (USP), a aviação comercial trabalha com margens de lucro bem reduzidas e, por isso, é extremamente sensível às oscilações do mercado tanto em termos de custos quanto de demanda. "A aviação regional é especialmente prejudicada por essas oscilações e, por conta da crise atual, vem sofrendo contínua redução em todo o País", pontua.

Um voo direto de Fortaleza para Buenos Aires, operado pela Gol aos sábados, sai por cerca de R$ 1.400 em consulta para outubro, que conta com um desconto da alíquota de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Pelos mesmos parâmetros, um voo para Boa Vista, capital de Roraima, não sai por menos de R$ 2.300, sempre com duas ou três paradas na ida e pelo menos uma na volta.

Ainda utilizando os mesmos padrões de pesquisa, um voo de uma hora partindo da Capital cearense para Natal, no Rio Grande do Norte, pode sair por pouco mais da metade do preço de um voo de Fortaleza a Juazeiro do Norte, de quase mesmo tempo de duração. Enquanto a passagem de voo direto para a capital potiguar custa a partir de R$ 269, pela Latam, as duas opções encontradas para Juazeiro do Norte, pela Avianca, saem por R$ 432.

Uma das principais razões para o encarecimento das passagens regionais no Brasil, segundo Greco, é o alto custo do combustível, que varia muito entre as regiões do País e costuma ter preços muito elevados em regiões mais isoladas.

Outro desafio para o setor que ele destaca é em relação à infraestrutura disponível, à condição e aos equipamentos disponíveis nos aeroportos regionais.

"Nos voos internacionais, além de poder contar em parte da operação com o preço muito mais baixo no exterior, as companhias não pagam ICMS sobre o combustível comprado no Brasil. A diferença no número de passageiros, a distância percorrida também tem impacto no custo da passagem. Assim, uma passagem internacional pode ser mais barata que a do voo regional", explica o professor.

Crise

O professor Alessandro Oliveira, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) avalia como acertada a decisão do governo federal em reduzir o número de aeroportos atendidos pelo Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional (PDAR). "Foi prudente. Estamos em um período de crise e o projeto anterior era muito ambicioso. Não vamos passar de 100 aeroportos servidos para mais de 200 de uma hora para outra. Tem que priorizar".

O professor aponta que o segmento pode ser bem lucrativo, uma vez que o transporte rodoviário - modal mais utilizado no País - tem vários problemas de infraestrutura e, muitas vezes, não há opção de modal ferroviário. "A aviação regional pode ser lucrativa, mas é pingada, muito baixa densidade. Empresas do setor geralmente dependem de uma ligação de média ou alta densidade para sobreviver".

Alternativas

Uma possibilidade de impulsionar o segmento, na avaliação de Oliveira, é a subcontratação de empresas com aeronaves menores, adequadas a ligações de baixa densidade, pelas grandes companhias aéreas. "É com esse modelo que se trabalha nos Estados Unidos. Mas (no Brasil) precisaria facilitar esses arranjos produtivos, que gerariam tráfego nas cidades do interior. Não é só uma questão de infraestrutura, mas de demanda mesmo", explica. (YP)

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