Gabriel Boric confirma 46 mortos por incêndios florestais no Chile e teme mais vítimas
Desde 2017, o Chile enfrenta grandes incêndios florestais, que atingiram áreas povoadas de Valparaíso e outras regiões
O presidente do Chile, Gabriel Boric, confirmou, neste sábado (3), que 46 pessoas morreram devido aos incêndios florestais que devastavam áreas povoadas de Viña del Mar e da região turística de Valparaíso, no centro do país.
"Foram registrados 40 mortos durante o incêndio e outros seis devido a queimaduras", informou Boric, em Santiago, após sobrevoar de helicóptero a região afetada, com focos entre 80 km e 120 km a noroeste da capital.
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"Sabemos que o número de vítimas irá aumentar", ressaltou o presidente, que pediu aos moradores das áreas afetadas que respeitem os alertas enviados para os celulares: "Precisamos da ajuda de todos. Diante dos chamados de evacuação, deve-se reagir imediatamente, porque o fogo se propaga em alta velocidade. Todas as decisões estão sendo tomadas com especialistas."
Segundo o presidente, está sendo investigada "uma eventual intencionalidade" por trás dos incêndios. "Embora seja difícil imaginar que alguém esteja disposto a causar tanta tragédia e dor, todo o possível será feito para determinar se existem culpados."
Durante a tarde, o fogo foi reativado em Valparaíso, que se tornou um inferno devido às chamas, que devoravam os morros e deixavam um número indeterminado de pessoas atingidas.
Uma nuvem de fumaça densa voltou a dominar a paisagem da região, onde as temperaturas elevadas persistem. Autoridades decretaram um toque de recolher noturno a partir das 21h locais e emitiram novos alertas de evacuação.
ESTADO DE EMERGÊNCIA
As regiões de Valparaíso e Viña del Mar amanheceram, neste sábado, sob toque de recolher parcial para permitir a circulação de pessoas evacuadas e translado das equipes de emergência, em meio a uma série de incêndios sem precedentes, informaram autoridades do governo.
O toque de recolher obrigatório foi implementado depois de o presidente ter declarado estado de emergência pela catástrofe provocada pelos incêndios florestais.
Viña del Mar e Valparaíso ficam a 120 km a noroeste de Santiago e recebem um grande fluxo de turistas nesse período de férias. As rotas para essas praias do Pacífico foram fechadas na sexta-feira (2) depois do meio-dia, e vários focos de incêndio se expandiram muito rapidamente. As chamas queimam zonas povoadas, onde colapsaram as rotas alternativas de milhares de pessoas que tentavam deixar a área.
Uma onda de calor com temperaturas máximas assola atualmente o Cone Sul-Americano, onde o fenômeno climático natural El Niño é agravado pelo aquecimento global provocado pela atividade humana, segundo especialistas.
Os alertas emitidos pelo persistente calor sufocante estão em vigor a partir desta semana e, na próxima, em áreas da Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, além do Chile.
FOGO E EXPLOSÕES
El Olivar se transformou em um "inferno". O vento soprou o fogo dos morros para esse setor, resultando em explosões de carros e casas incendiadas, relataram sobreviventes dos incêndios florestais em Viña del Mar.
O motorista Rodrigo Pulgar, 61, estava em casa, acompanhando as notícias, quando as chamas começaram a avançar sobre sua comunidade. "Era um inferno, com explosões. Tentei ajudar o vizinho a desligar o carro, a parte de trás da minha casa começava a pegar fogo. Era uma chuva de cinzas", contou à AFP.
Pouco antes, por precaução, Pulgar havia jogado água no telhado, de madeira, e no interior da sua residência, o que evitou que o fogo a consumisse. Mas seus vizinhos não tiveram a mesma sorte. Dezenas de casas foram reduzidas a paredes queimadas. "A maioria das pessoas aqui são idosas. A vizinha morreu porque não pudemos retirá-la", contou o motorista.
Ao cair da tarde de ontem, as chamas atingiram Viña del Mar. Apenas no setor de Villa Independencia, 19 pessoas morreram, segundo autoridades.
Localizada a 10 km do epicentro da tragédia, a área residencial de El Olivar, de cerca de 13 mil habitantes e onde a maioria das casas possui telhado de madeira, vivia seu próprio drama. O vento trouxe dos morros folhas em chamas, que multiplicaram o fogo, descreveu um brigadista da Corporação Nacional Florestal. Segundo a prefeita Macarena Ripamonti, sua cidade enfrenta “uma catástrofe sem precedentes”.
Momentos de pânico
Nas redes sociais, multiplicam-se relatos e imagens de explosões de carros estacionados em frente a residências, ao longo de ruas estreitas.
Os morros voltaram a arder hoje e novos alertas de evacuação foram emitidos. Segundo o relatório mais recente, foram registados 92 incêndios, 40 deles já controlados. Com o apoio de helicópteros e aviões, as forças de socorro lutavam contra 29 focos.
Anna Karina estava trabalhando em um supermercado a quilômetros de distância quando soube que El Olivar estava em chamas. O pânico tomou conta dela.
O filho de Anna, de 14 anos, estava sozinho em casa, com a cadela da família. "A única coisa que pensei foi que meu filho estava morto, que ele havia se queimado", contou a moradora.
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Anna lembra que caminhou por vários minutos até pegar um ônibus, que quase ficou preso nas chamas. Ao chegar ao seu bairro, teve que caminhar por uma rua cercada pelo fogo.
A moradora encontrou o filho e a cadela do lado de fora da residência, que não foi atingida pelo fogo.
Desde 2017, o Chile enfrenta grandes incêndios florestais, que atingiram áreas povoadas de Valparaíso e outras regiões. O fogo se propagou por áreas com construções irregulares.
Em Quilpué, a cerca de 15 km de El Olivar, dezenas de famílias perderam casas construídas em áreas não autorizadas.