O que se sabe sobre a arma de fogo usada no ataque dentro de uma escola em Sobral

O delegado geral da Polícia Civil do Ceará concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste e falou sobre a possibilidade de adultos serem responsabilizados

Escrito por Emanoela Campelo de Melo e Thatiany Nascimento , seguranca@svm.com.br
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Legenda: A escola onde aconteceu o ataque segue fechada
Foto: Kid Júnior

Como uma arma de fogo foi parar nas mãos de um adolescente que sofria bullying? A pergunta norteia o inquérito conduzido pela Polícia Civil do Ceará e faz com que os investigadores tracem um caminho para responder à questão. Em entrevista exclusiva concedida ao Diário do Nordeste, o delegado geral da PCCE Sérgio Pereira dos Santos conta o que já se sabe neste início da investigação e fala: "a responsabilidade maior é dos adultos".

A Polícia Civil ouviu o CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador) e o pai do aluno de 15 anos, suspeito pelo ato infracional análogo à tentativa de homicídio. Na versão do CAC, ele teve a arma subtraída no fim de semana antes do ataque, mas não teve tempo de comunicar oficialmente o ato às autoridades.

O delegado geral aborda a falta de comunicação oficial sobre o suposto furto como erro inquestionável por parte do proprietário da arma. Há informação de que o armamento foi registrado pelo CAC há dois anos e ele só teria autorização para posse, ou seja, só poderia transitar com a arma em um trajeto que fosse caminho para um stand de tiro.

"O CAC alega que em algum momento essa arma foi subtraída do veículo dele. Nós não temos registros que a arma foi extraviada. Ele disse que tentou registrar a ocorrência pela internet, mas não procurou a delegacia porque estava ocupado. Não colocou isso como prioridade", afirma o delegado geral.

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Legenda: O delegado geral da Polícia Civil do Ceará viajou até Sobral e acompanha as investigações do caso
Foto: Kid Júnior

"A arma saiu das mãos de um CAC e ele não comunicou à Polícia. Ela passou pelas mãos de quem? Tudo isso o inquérito policial deve responder. Vamos comunicar ao Exército. Ele devia ter feito, não fez. Agora quem comunica é a Polícia"
Sérgio Pereira dos Santos
Delegado geral da PCCE

ADOLESCENTE FALAVA DA ARMA NA ESCOLA

Conforme o delegado geral, testemunhas disseram que o adolescente suspeito falou algumas vezes que o pai era proprietário de uma arma de fogo: "chegou a dizer isso quatro meses atrás". O pai nega à Polícia que era proprietário de qualquer arma.

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O CAC e o pai foram ouvidos na delegacia e liberados após prestarem depoimentos. Para a Polícia, a autoria dos disparos já está indicada, agora é preciso saber a responsabilidade dos adultos nesta tragédia.

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Legenda: Suspeito e vítimas não eram da mesma sala de aula, mas estavam reunidos em um espaço de costume, onde interagiam diariamente.
Foto: Reprodução

"A gente precisa atribuir responsabilidades. Qual a responsabilidade do CAC nessa tragédia, qual o papel do pai do adolescente e se tem participação de mais alguma pessoa. Trabalhamos para identificar autorias. Por enquanto, temos a autoria do adolescente pelo disparo da arma de fogo. Se a investigação indicar que essas pessoas praticaram ilícitos, serão certamente indiciadas", destaca o delegado geral.

20 testemunhas ouvidas
Em pouco mais de 24 horas do ataque, pelo menos 20 testemunhas foram ouvidas na Delegacia Regional de Sobral. A maior parte das testemunhas é adolescente, alunos da Escola de Ensino Médio de Tempo Integral Professora Carmosina Ferreira Gomes

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A versão do adolescente sobre sofrer bullying só foi dita aos policiais militares, quando ele foi encaminhado até a Delegacia. No depoimento oficial, já acompanhado do advogado, o menino optou por permanecer em silêncio.

O MOMENTO DO ATAQUE

O estudante entrou na escola, nessa quarta-feira (5), em posse de uma pistola. Ele atingiu três colegas de sala. Nem todos eram da mesma sala de aula, mas estavam reunidos em um espaço de costume, onde interagiam diariamente. 

Após o ataque, o adolescente saiu da unidade de ensino e seguiu para casa, onde foi apreendido por policiais do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio). Inicialmente ele teria negado a autoria dos disparos. Foi quando os militares disseram que várias testemunhas o apontaram como suspeito, e ele confessou. Pegou a arma e entregou aos agentes.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o garoto revelou, em depoimento, ter premeditado os disparos.

Dos três alunos atingidos, dois tiveram alta e o terceiro segue internado, intubado e com estado de saúde grave. O menino vem passando por avaliações de um neurocirurgião e foi descartada a chance de procedimento cirúrgico.

As outras vítimas foram atingidas no joelho e de raspão, na orelha. A governadora do Ceará, Izolda Cela, pede resposta rápida das forças de segurança.

 

 

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