Sítio São Roque comemora 100 anos hoje em Mulungu

Escrito por Redação ,
Um dos pioneiros no cultivo do café ecológico, o lugar é um verdadeiro santuário da fauna e da flora

Mulungu. Preservação ecológica e histórica como excelência. Conhecido como pioneiro no cultivo de café sombreado no Ceará e um dos exemplos de preservação ambiental no Maciço de Baturité, o Sítio São Roque, comemora hoje o seu primeiro centenário. O lugar é um recanto ecológico com 320 hectares situado numa área de conservação ambiental serrana, a 105km de Fortaleza. A data será festejado com celebração eucarística na capelinha do sítio e, em seguida, haverá um almoço especial. Ainda na programação, a inauguração de um espaço histórico especial, o Museu do Café.

No alto, o patriarca Gerardo Queiroz Farias, a filha Tereza, e o retrato histórico de seu casamento. À esquerda, a capela onde haverá missa em comemoração ao centenário. Em São Roque, a natureza e a memória são preservadas. Fotos: José Leomar

No encontro de gerações no santuário ecológico, a família Farias, os seis herdeiros vivos, e ainda o patriarca Gerardo Queiroz Farias, proprietários do sítio, pretendem rememorar a história do surgimento do legado do São Roque. Conforme a família, essa história começou oito anos após o casamento de Alfredo e Amélia, pais de Gerardo, hoje com 88 anos. O casal se dedicou ao cultivo de frutas, ainda hoje uma das potencialidades produtivas da região, e também a cana de açúcar, a rapadura e o café. Foi Alfredo quem escolheu o nome do santo como acolhida de título ao sítio.

"Meu avô, Alfredo, era um homem muito religioso. Durante muito tempo ele sofreu por conta de uma enfermidade na perna. Ele lembrou então de São Roque, um nobre francês muito preocupado com os pobres, inclusive abdicando de sua riqueza para socorrer as vítimas da peste negra, nas regiões da Itália e também da França, sua terra natal. Com meu pai não foi muito diferente. Nome, o sítio já tinha quando ele concluiu os estudos no Colégio Cearense, em Fortaleza, e pretendia viajar para São Paulo, para se formar em Odontologia. Acabou abdicando do seu sonho profissional para cuidar dos pais dele e do São Roque", explicou Lea Farias, uma das seis filhas de Gerardo.

Segundo Lea, na comemoração do centenário do sítio também será festejado os 100 anos de vida de sua tia Albertina, irmã de Gerardo. Ela nasceu no dia 15 de agosto de 1913. A família é extensa. A história completa será contada hoje, no sítio, por Lea, em versos.

Já a irmã, Rita de Cassia, realizou uma minuciosa pesquisa sobre a principal produção do sítio, o café arábico. Em 2008, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mulungu era o maior produtor do Ceará. Sozinho, o município detinha quase 30% da produção estadual, com 13.937 sacas de 60 quilos. A pesquisa também será apresentada na festa.

Hoje, a produção de café continua, com beneficiamento no próprio sítio. Houve até exportação do produto para Suécia, viabilizada por parceira com a Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente (Cepema), dedicada à assistência em sistemas agroflorestais ou agroecologia.

Gerardo foi o primeiro presidente da Associação dos Produtores Ecológicos do Maciço de Baturité. Ele viajou à Europa com outros produtores, para demonstrar as práticas de cultivo do café orgânico, capazes de assegurar a renda familiar para criação e educação dos filhos. Ele dividiu com a esposa, Terezinha Bezerra Farias, falecida em 2004, as responsabilidades e o sucesso produtivo.

Entretanto, nem só de produção e saudades vive o São Roque. Suas belezas naturais, as flores, os jardins, as fontes ainda hoje fornecendo água potável para a região são exemplos da imensidão da riqueza do lugar. Conforme Gerardo Farias, a gestão do sitio é um exemplo de superação da agricultura sustentável. Todavia, a cada momento, verifica-se a falta de incentivos para continuar este processo. Ele ressalta a necessidade de politicas de incentivo à conservação, de turismo cultural e científico para levar adiante a luta e amor de quem acredita nesse modelo como econômico e viável.

"A tradição popular, até o começo do presente século guardava a lembrança da tenacidade e energia desses homens corajosos e, sobretudo, portadores de um verdadeiro espírito de pioneirismo", essa foi a citação do historiador Vinicius de Barros Leal, sobre o desenvolvimento social e econômico do Maciço de Baturité, uma área de Mata Atlântica.

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR