Pesca de lagosta cresce e aumento do preço anima produtores no litoral cearense

Setor busca estratégias para concorrer com o mercado externo

Escrito por Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Pesca de lagosta em Icapuí
Legenda: A temporada de pesca da lagosta termina no fim deste mês, após seis meses de trabalho intenso no mar
Foto: Natinho Rodrigues

A produção de lagosta neste ano no litoral cearense deve ficar cerca de 4% acima da safra de 2020, cerca de 2.500 toneladas. A estimativa é do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio). Já o preço do crustáceo foi elevado entre 44% a 105%, em relação ao valor praticado no mesmo período do ano passado.

Na praia, o quilo da cauda (a parte mais apreciada) chegou a R$ 350,00 ante R$ 170,00 praticado no mesmo período do ano passado, ou seja, uma majoração de mais de 100%. Já o quilo da lagosta viva passou de R$ 90,00 para R$ 130,00 – um acréscimo de 44%.

O cenário tornou-se ainda mais favorável à produção graças ao aumento significativo da demanda por proteína animal nesse período de pandemia.

A temporada de pesca da lagosta termina no fim deste mês, após seis meses de trabalho intenso no mar. Os barcos a motor são responsáveis por 80% da captura do crustáceo, por terem autonomia de maior tempo de permanência e irem a águas mais distantes e profundas. Esse tipo de embarcação está fazendo as suas últimas viagens.

Pesca de lagosta em Icapuí
Legenda: Para os grandes e médios pescadores, a produção atual variou entre 3% a 4% em relação a 2020, mas o setor foi amplamente favorecido pelo aumento do preço da lagosta
Foto: Melquíades Junior

Aumento do preço

Para os grandes e médios pescadores, a produção atual variou entre 3% a 4% em relação a 2020, mas o setor foi amplamente favorecido pelo aumento do preço da lagosta.

Não é só o câmbio, o aumento de dólar, mas a demanda crescente por proteína animal – ave, gado e pescado – no mercado mundial, por causa da pandemia, majorando os preços no mercado externo com reflexo no setor interno”
Paulo Gonçalves
Diretor do Sindifrio

Os pescadores de jangadas também estão concluindo a pesca da lagosta, entretanto alegam queda de produção entre 40% a 50%  em relação a 2020. “As áreas onde a gente costuma pescar, neste ano, não foram favoráveis, e a captura foi melhor em águas mais distantes”, disse o pescador, Tobias Soares da Silva. “No geral compensou porque o preço mais do que dobrou”.

O mercado está aquecido e comemora o aumento no preço da lagosta. “Pesquei 630 quilos de lagosta nesta temporada e no início vendi o quilo por R$ 40 reais, mas logo disparou e chegou a R$ 1300”, contou Tobias da Silva. “Mesmo capturando menos do que a temporada anterior, ganhei o mesmo porque o preço disparou”.

Veja também

Em 2020, Tobias da Silva capturou uma tonelada de lagosta, mas neste ano foram cerca de 600 quilos. Esse índice de queda é a estimativa média feita pela Federação das Colônias de Pescadores do Ceará (Fepesce) para mais de 5 mil pescadores artesanais.

Estratégias contra o mercado externo

Para 2022, a temporada de pesca da lagosta vai ser antecipada em 30 dias e vai ocorrer entre 1º de maio e 30 outubro. É uma reivindicação do setor, da indústria e dos pescadores. A ideia é aproveitar em cerca de dois meses a janela de oportunidade no mercado externo, uma vez que outras áreas de produção – Caribe e na Austrália - ainda estão na entressafra. Dessa forma, a lagosta brasileira chegaria mais cedo aos centros consumidores.

Comércio de Lagosta
Legenda: Na praia, o quilo da cauda da lagosta (a parte mais apreciada) chegou a R$ 350,00 ante R$ 170,00 praticado no mesmo período do ano passado
Foto: Fernanda Siebra

Mapeamento

Por determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), está em andamento o mapeamento e identificação de pontos de desembarque de pescado na costa cearense nos municípios de Acaraú, Itarema, Fortim e Icapuí, de acordo com instrução normativa da pasta publicada em dezembro de 2020.

O trabalho tem por objetivo atender às normas do Mapa sobre exigências sanitárias visando adequações do mercado interno e exportador, que passam a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2022. 

“O ministério define as condições higiênicas que os pontos de desembarque do pescado têm de ter para depois os produtos serem encaminhados para a indústria”, pontuou Paulo Gonçalves. “Depois haverá auditória por parte da pasta”.

Para o diretor do Sindifrios, Paulo Gonçalves “a medida é importante para que se tenha uma matéria-prima de qualidade, tanto para a indústria como para o consumidor”.    

 

Assuntos Relacionados