Morre pai-de-santo Zé Maria Mulher

Escrito por Redação ,
Sobral. Na madrugada do Sábado de Aleluia, o pai-de-santo Zé Maria Mulher desencarnou. Conhecido como um dos maiores expoentes da umbanda da região, o misterioso José Maria de Lima, nascido em 22 de outubro de 1942, no bairro Dom Expedito, neste município, há uma semana estava internado com problemas de pressão arterial, taxas altíssimas de diabetes e dificuldades renais.

Hoje, a tenda repleta de pretos velhos e imagens está em silêncio profundo. As festas preparadas com capricho no terreiro da casa não existirão mais. As giras das terças e sextas terminaram. As mesas e consultas procuradas por centenas de clientes, de todas as camadas sociais, cessaram.

Aos 65 anos, 50 dedicados aos trabalhos espirituais, a fama dos poderes de Zé Maria ganhou o mundo, principalmente, pelos atendimentos certeiros com as cartas de Tarô, realizados na Tenda de Ogum Marinho, onde morava.

No enterro, filhos de santo vestidos com as roupas brancas dos terreiros, acompanharam o cortejo entoando hinos da umbanda. Em 2006, Zé Maria Mulher concedeu entrevista ao Diário do Nordeste como personagem de destaque na cultura popular da região.

Recebeu a reportagem no dia dedicado à Iemanjá, dentro de um vestido verde, fazendo as unhas e contou detalhes da infância em Massapê, da primeira “mesa” aos 14 anos, de preconceito, discriminação e, por diversas vezes, se queixou da pouca saúde.

“Não sou mais aquele macumbeiro de força, de arriar trabalho. Tenho alta doença na coluna vertebral, uma dor grande nas pernas que não sei se é velhice ou cansaço”, disse à época. A conga repleta de imagens de Xangô, Ogum, Oxossi, Cosme e Damião, Iansã, Preto Velho, na sala coberta por pinturas de entidades como Tranca Rua, Pomba Gira, Mãe Tutu, Pai Joaquim, Cabocla Índia e Cabocla Tapuia, continua com velas acesas, mas sem flores.

Martônio Holanda, casado com uma das sobrinhas que Zé Maria ajudou a criar, disse que, provavelmente, os trabalhos na Tenda de Ogum Marinho terminaram. “Quando um pai de santo desencarna, geralmente são os filhos que continuam os trabalhos. Mas o Zé não deixou ninguém pra fazer. É uma responsabilidade muito grande”, disse Martônio. Já Mairton Luiz conheceu de perto as épocas áureas nos terreiros de Zé Maria Mulher. “ Todos estão sentindo sua partida”.