Cerâmica de Sobral se destaca pela redução da poluição

A empresa desenvolve diversas práticas para tornar os seus processos mais eficientes, econômicos e ecológicos

Escrito por Marcelino Júnior - Colaborador ,
Legenda: Várias práticas diferenciam a empresa. Dentre elas a diminuição na queima da lenha, que, além de reduzir a pressão sobre a matéria-prima, diminui a emissão de gases poluentes
Foto: Fotos: Marcelino Júnior

Sobral. Circulando pela fábrica de cerâmica todos dos dias, onde trabalha há quase 20 anos, que o encarregado de produção Francisco Antônio Rodrigues da Silva observa atentamente tudo que acontece no ambiente, principalmente durante a queima do tijolo. A preocupação com a fumaça que sai desse processo faz com que o empregado se torne uma espécie de monitor involuntário, entre os companheiros de trabalho, sempre alertando para os riscos do material que as chaminés lançam no ar durante a fabricação da cerâmica. "Eu converso muito com quem estiver fazendo a queima, naquele momento, para ter mais cuidado com a regulagem do fogo, que determina a coloração da fumaça. A cor preta é resultado do excesso de lenha que alimenta o forno. Esse trabalho tem que ser bem dosado para diminuir ao máximo o nível de poluição do ar", ensina.

Mudança de hábito

Essa consciência em relação ao meio ambiente, que o encarregado de produção possui, é resultado de importantes medidas adotadas ao longo dos anos na busca por sustentabilidade, numa atividade onde a exploração direta de matéria-prima da natureza, como a argila para fabricação dos tijolos, a água, e a madeira que serve de lenha, tem como um dos resultados a poluição.

O monitoramento da fumaça que sai das chaminés da empresa é feito pela técnica ambiental Andreza Portela Lima, por meio da Escala Ringelmann, que dá a densidade da coloração da fumaça. "Logo que percebida, essa coloração é medida, e é gerado relatório mensal para que sejam tomadas as devidas providências. O nível de densidade da fábrica é de 29, numa escala que vai de zero a cem. Isso mostra que temos conseguido manter o controle da emissão de gases no meio ambiente", afirmou.

Instalada quase fora da zona urbana de Sobral, nos arredores do bairro Cohab I, em 1977, a Cerâmica Torres, empresa de médio porte com 17 mil metros quadrados de galpão, que emprega diretamente cem pessoas, iniciou sua mudança de postura em relação ao meio ambiente no ano 2000, atendendo ao que determinavam as novas leis relacionadas ao trato com as questões ambientais, que passaram a cobrar mais das empresas. A saída adotada foi a instalação de Programas de Qualidade Total; de Produção mais Limpa (PL), com redução às agressões ao meio ambiente; uso de Planos de Manejo Florestal, instalação de uma Central de Biomassa, entre outras medidas.

Manejo florestal

Usada como matriz geradora de energia, a lenha que alimenta os fornos é oriunda de uma área de 1.000 hectares localizada em Sobral, e de uma fazenda da própria da empresa, no município de Forquilha, na mesma região. Nesse local são reservados 500 hectares para o plantio de árvores. O projeto, elaborado por um engenheiro florestal, determina como e quando deve ser feito o corte da madeira, utilizando árvores da própria Caatinga.

A fazenda possui dez talhões, reservas de terra usadas a cada ano para extração da matéria-prima. O que, segundo o projeto de manejo, ajuda a natureza a se renovar. Neste ano, a empresa aguarda a liberação da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) para a utilização do primeiro talhão de terra, já regenerado. O processo requer o mínimo de ação da mão do ser humano, deixando a cargo da natureza a renovação.

Madeira reciclada

Ao chegar à fábrica, toda a lenha é triturada numa central de biomassa, o que dá cerca de 30% de eficiência ao processo de combustão. Mesmo com o manejo florestal, são mantidas parcerias com outras empresas de diversos setores, que fornecem material reciclável para alimentar os fornos. A ação, que dá uma destinação diferenciada a todo o material coletado, acaba por retirar da natureza o que se tornaria um sério problema ao meio ambiente. Segundo a direção da empresa, com esse trabalho, a fábrica de cerâmica chega a economizar 50% da demanda por lenha, que é queimada em três fornos.

Após a extração, seguindo normas de projeto aprovado pela Semace, pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), e Autarquia Municipal de Meio Ambiente (AMMA), a argila, retirada de uma área de 30 hectares, fica exposta às ações do Sol e da chuva, no mínimo por seis meses, para perder matéria orgânica e depois passar por uma mistura com outro tipo de material, chamado argila magra, quando ganha mais consistência, evitando o desperdício. Depois desse processo, o material é aguado e levado à sala de preparação, onde ocorre toda a mistura, laminação e formação do bloco, com ajuda de um caixão alimentador, de um desintegrador, do misturador e de uma maromba, equipamentos que compõe o conjunto cerâmico.

Queda na produção

Mesmo sendo uma empresa de destaque na região, com a comercialização de blocos e outros elementos para a construção civil, tanto no Norte do Ceará, quanto nos Estados do Piauí e Maranhão, sente o impacto gerado pelo momento de recessão que vem sofrendo o mercado, com baixa demanda na construção civil, em toda a sua escala, diminuição do ritmo do programa "Minha Casa, Minha Vida", além de outros problemas. Neste ano, a empresa registrou queda de 12% em sua produção. Com a crise no setor e seguindo algumas adequações internas, chegou a demitir dez operários.

Recontratação

"A atividade da construção deu uma parada, por conta disso houve diminuição da nossa produção para não haver muito estoque. Um dos melhores anos para o setor foi entre 2011 e 2012, depois foi só caindo. Houve uma consolidação no ano passado, e agora parou um pouco. Ninguém tem ideia de como vai se iniciar alguma reação. Mas nós estamos construindo mais um forno e esperamos recontratar mais gente, apesar da crise", afirma Fernando Ibiapina Cunha, diretor da empresa.

Reconhecimento

Além do uso consciente dos recursos naturais, tendo a preocupação com o mínimo possível de impacto ao meio ambiente, a empresa tem sido referência quando o assunto é sustentabilidade. Ao longo dos anos, diversos prêmios estaduais e nacionais vêm sendo acumulados como resultado desse trabalho. O último, em junho passado, foi o Prêmio Ambientalista Joaquim Feitosa, de preservação da Caatinga, conferido pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Ceará (Sema), reconhecendo que a cerâmica, apesar de usar como matriz energética a lenha, o faz de forma sustentável, o que pode servir de exemplo.

A Cerâmica Torres mantém parceria com o projeto Ecoelce para uso de material reciclável, além de realizar uma campanha de economia de água e seu uso racional. Na fábrica, é realizado monitoramento constante para controle da qualidade dos gases emitidos. A empresa, também é pioneira na região na implantação do Sistema de Gestão Ambiental, participando ativamente de ações socioambientais no município de Sobral.

PROTAGONISTA

Mudança de postura a partir da orientação

O queimador de lenha Juracy Machado do Nascimento afirma que quando começou a trabalhar no local, há oito anos, a poluição era bem maior. Ele afirma que não tinha muita preocupação com o que era jogado no ar e fazia a queima da lenha muitas vezes, de forma errada. Com a determinação da empresa, mudou muito