Conheça a história de Emerson Pedrosa, chef paulistano com raízes no Ceará

Fundador do Bar Kalango com a sócia, Kátia Barbosa, cozinheiro é fisgado pelo sabor nordestino desde a infância

Escrito por Diego Barbosa , verso@verdesmares.combr
Legenda: Os sócios Emerson Pedrosa e Kátia Barbosa: presença nordestina no Rio de Janeiro
Foto: Foto: Eduardo Almeida

O desejo de Emerson Pedrosa de tocar pelo paladar é justificado: conecta-se, de forma efetiva, com a infância do chef. Filho de cearenses - o pai é natural do município de Catarina, e a mãe, Maria Lúcia (Dona Dudu), de Mombaça - o paulistano, embora tenha crescido na Terra da Garoa desde a década de 1970, recorda que havia momentos do ano em que os pais recebiam caixas enviadas pelos parentes do Ceará, as quais rendiam, para sua surpresa, momentos de profunda emoção.

"Hoje eu chamo aquelas caixas de 'caixas de afeto'", revela. "Acontece que minhas avós mandavam nelas as comidas que meus pais comiam quando eram criança. Por isso mesmo, eles chegavam até a chorar quando tinham contato com aqueles pratos, coisa que nunca entendi quando era pequeno. Pensava: 'Como alguém ganha comida de presente e chora?'", brinca.

> Bar Kalango é recanto nordestino em solo carioca

É que cada alimento, ele compreendeu depois, remetia àquilo de mais profundo na trajetória dos progenitores: os primeiros gostos que sentiram quando miúdos. "Fui criado em São Paulo imerso por essas memórias", sublinha, citando itens como farinha d'água, feijão-de-corda, ovo caipira e mel de engenho como alguns que chegavam pelos Correios e transbordavam comoção no paladar.

Escalada

Dali para inaugurar o Kalango e utilizar insumos sertanejos em pratos do cardápio, passariam mais de três décadas. Nesse tempo, entre outros fatos, Pedrosa descobriu-se cozinheiro - chegou a se formar em Administração e Comércio Exterior em Fortaleza, quando do retorno de seus pais à cidade, em 1999, passando até a trabalhar na área.

Contudo, logo percebeu que sua inclinação profissional era outra. "Nos fins de semana, fazia eventos com um amigo que tem um buffet, chef Clóvis, e comecei a cozinhar para pessoas próximas. Em 2010, vim para o Rio".

A chegada em solo carioca se deu com o propósito de estabelecer e firmar laços com Roberta Sudbrack, primeira chef na história do Brasil a comandar a cozinha do Palácio da Alvorada, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

"Comecei a acompanhar a trajetória dela e me apaixonei pela pegada de trabalhar a identidade junto à comida brasileira, valorizando os ingredientes da terra, dos povos locais. Coloquei na cabeça que tinha que trabalhar com ela", conta.

Não deu outra. Emerson passou cinco anos no restaurante que levava o nome de Roberta, localizado no Jardim Botânico - fechado em janeiro do ano passado por decisão dela.

Lá, após chegar como estagiário, ocupou o cargo de sub-chef, reunindo bagagem suficiente para criar um contexto particular de atuação no negócio próprio: unir as vertentes da alta gastronomia aprendidas com Sudbrack a questões sentimentais que atravessam sua estrada enquanto pessoa.

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