Cresce o abandono de animais no Interior

As autoridades de saúde alertam para a guarda responsável e para os maus-tratos sofridos nas ruas

Escrito por Honório Barbosa - Colaborador ,
Legenda: Em Iguatu, quando há solicitação, a equipe comparece, realiza teste de triagem e coleta para sorologia, além de aplicar a vacina antirrábica
Foto: Fotos: Honório Barbosa

Iguatu/Quixadá/Sobral/Juazeiro do Norte. Nos últimos anos, vem aumentando nas cidades o número de animais de pequeno porte (cães e gatos) em situação de abandono. Os moradores reclamam e solicitam o recolhimento, mas faltam abrigos e onde há os centros ou unidades de vigilância de zoonoses ocorre o impedimento legal, segundo portaria do Ministério da Saúde.

O veterinário do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Iguatu, Igor Holanda, informou que não há mais captura de animais, exceto aqueles que possam causar risco à saúde pública. "Não podemos mais recolher os animais de rua ou semidomiciliar. Quando há solicitação, a equipe comparece, realiza teste de triagem e coleta para sorologia, além de aplicar vacina antirrábica", explicou.

Se houver confirmação para calazar ou outras zoonoses, o animal é capturado. "A responsabilidade é de todos, mas, se não houvesse abandono, não haveria animais de rua", observou Holanda. "A legislação olhou o aspecto do bem-estar, mas esses animais sofrem maus-tratos e fome perambulando pelas ruas", completou.

Holanda defende a castração de cães e gatos como medida a longo prazo para a redução do número de animais de rua. "Vamos implantar, no próximo ano, um projeto de castração, contratar mais um veterinário e passar a fazer as cirurgias", adiantou o veterinário do CCZ de Iguatu.

Castração

A representante da ONG É o Bicho, em Icó, Marconiza Brasil, disse que há muitos cães e gatos, soltos, pela cidade. "Eles sofrem maus-tratos", lamentou. Também defendeu a implantação de um programa de castração, além do apoio das administrações municipais para manutenção de abrigos. "Em cinco, seis anos, o resultado iria aparecer", ponderou.

Da mesma forma, o serviço de recolhimento de animais na maior cidade da região do Sertão Central, Quixadá, foi interrompido há alguns anos. Atualmente o CCZ do Município não realiza esse tipo de atividade. De acordo com o diretor da unidade, o médico veterinário Cláudio Medeiros, desde 2014 que o Ministério da Saúde desobrigou esse tipo de controle. "Estamos em alerta e, em qualquer sinal de risco, a equipe é acionada e o animal é retirado da rua", pontuou Medeiros.

Intensificação

O CCZ de Sobral, na zona Norte, para onde são levados os animais recolhidos, ou muitas vezes deixados no local pelos próprios donos, possui ampla cobertura de atendimento, tanto nas residências, quanto nas ruas.

Esse trabalho foi intensificado, no ano passado, quando foram recolhidos 60 cães que circulavam no entorno do mercado municipal, um dos pontos identificados como preocupantes, à época, em número de animais na rua.

Sobral e outras cidades não têm estimativa sobre o número de animais que perambulam pelas ruas em abandono ou em situação de semidomiciliados, ou seja, têm casa, mas são soltos pelos donos. O Município ainda possui um abrigo público para o resgate e permanência dos bichos até que a adoção ocorra.

De acordo com Amanda Rocha, responsável técnica pelo CCZ de Sobral, houve a adoção de um abrigo temporário, pela primeira vez, em busca de uma política voltada ao bem-estar animal no Município.

Capturas diárias

Em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, o CCZ realiza, em parceria com a Guarda Civil Municipal (GCM), a captura de animais de pequeno porte (cães e gatos) e de tração (cavalos, burros) em bairros considerados de risco, onde são frequentes os acidentes e denúncias da população. As capturas são diárias.

Segundo a legislação municipal, após a captura, o dono tem até cinco dias para recuperar o animal, mediante o pagamento da taxa de resgate e multas que correspondem a quantos dias ele passou no CCZ.

Os valores são calculados de acordo com a Unidade Fiscal de Referência do Município: R$ 5,54. No caso de animais de grande porte - bovinos, equinos, muares - chega a R$ 110,80 e a multa diária pode chegar a R$ 27,70. Caso o dono não apareça na data estipulada e o animal esteja em boas condições de saúde, o CCZ o disponibiliza para adoção ou para leilão.

Fique por dentro

Estrutura para a saúde pública e não acolhimento

As Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ) são órgãos do Sistema Único de Saúde (SUS) especializados em executar atividades de vigilância e controle de zoonoses, visando à saúde da população humana, e não órgãos de acolhimento e atendimento a animais. Estas são atividades de proteção, saúde e bem-estar animal.

Os centros de controle de zoonoses (CCZs), canis municipais, centros de vigilância ambiental e núcleos de zoonoses vinculados às secretarias municipais de Saúde são hoje denominados de UVZ, estrutura física e técnica, vinculada ao SUS, responsável pela execução de parte ou totalidade das atividades, das ações e das estratégias referentes à vigilância, à prevenção e ao controle de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, de relevância para a saúde pública. Nas cidades, onde não há UVS é obrigação da secretaria de Saúde do município realizar as atividades pertinentes.