Cariri é o maior polo calçadista do Nordeste

Escrito por Redação ,
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Em meio a muitos outros setores, foi com a indústria de calçados que o Cariri entrou em evidência no País

Juazeiro do Norte (CE)

A industrialização começou com fábricas de fundo de quintal, informalmente, como muitos negócios que surgem em Juazeiro do Norte. Mas a indústria se fortaleceu e se profissionalizou, possuindo hoje fábricas nos segmentos de sandálias de plástico e de couro, bebidas, refrigerantes, alumínio, alimentos, confecções, móveis, joias, laticínios, entre outras. Mas foi na atividade calçadista que o setor industrial colocou o Cariri em evidência.

"O polo calçadista começou há 40 anos. Surgiu pela demanda por sandálias japonesas, e quatro empresas daqui tiveram a ideia de fazer estes produtos", explica o empresário e representante do Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuário de Juazeiro do Norte e Região (Sindindústria), Marcos Tavares. A atividade se expandiu, e hoje existem mais de 200 fábricas funcionando na cidade, com diversos tipos de sandália: de moda, ou produzidas com E.V.A, borracha ou PVC.

Com este porte, o Cariri é atualmente o maior polo produtor do Norte e Nordeste, e terceiro maior do Brasil, ficando atrás apenas de Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS). A fabricação é mais de produtos de baixo valor agregado, sendo bastante competitivos no mercado.

Principais consumidores

A produção local é exportada para países como Estados Unidos, Espanha, França, Equador, Paraguai, Uruguai, Portugal, Itália, Bolívia, Argentina, Reino Unido e Grécia. Contudo, o mercado interno, principalmente o do Norte e Nordeste, é o principal consumidor dos calçados do Cariri. A atividade gera atualmente cerca de seis mil empregos diretos nos três municípios, sendo a maior empregadora da região, após o comércio.

Um dos grandes responsáveis por este vigor da indústria calçadista da região é a IBC Calçados, do Grupo Bopil, fabricante das sandálias japonesas Ballina, que ocupa a 3ª posição brasileira de market share no segmento. A empresa só perde, no Estado, para a Grendene, localizada em Sobral. Iniciando as operações há 35 anos, a Bopil possui três unidades, todas em Juazeiro do Norte. A empresa começou produzindo cinco mil sandálias por dia, e já chega a uma produção de 1 milhão de pares por mês. "É a terceira maior do Brasil em produção de sandálias", informa Marcos Tavares, que é diretor comercial da indústria. "Conseguimos com muita audácia, perseverança, alinhadas com modernidade, investindo em máquinas de última geração, que concorrem em nível internacional", conta.

As sandálias Ballina são vendidas em todo o Brasil, e 10% da produção vai para o exterior, chegando a mais de 30 países, entre Europa e América Latina. Para dar conta do volume produzido, são mil empregos diretos. Entre estes funcionários, está Patrícia Souza Tavares, de 32 anos. Há sete anos no grupo, ela foi fez carreira. "Entrei na produção. Ficava na esteira, fazendo colagem de etiqueta nas sandálias. Então, a empresa pagou o curso do Senai de técnico de segurança do trabalho. Cursei 2 anos e 8 meses e mudei de cargo, hoje sou técnica nessa área", conta. Vinda de João Pessoa, ela decidiu mergulhar na atividade. "Pretendo crescer mais, quero fazer Engenharia de Produção com especialização em segurança do trabalho. Encontrei a minha área", afirma.

EMPREENDEDORES
Pequenos são a força do setor

Não são somente as grandes e médias indústrias que formam o maior polo calçadista do Norte/Nordeste. Os micro e pequenos empreendedores também têm uma importância significativa no desenvolvimento do setor no Cariri. Do total de empresas ligadas a esse negócio na região, cerca de 90% são constituídas por esse público, segundo informa o Sebrae local.

De acordo com o coordenador do APL (Arranjo Produtivo Local) de Calçado do Cariri, ligado ao Sebrae, Frederico Feitosa, das mais de 200 indústrias calçadistas formalizadas naquela área, apenas 20 estão entre as de médio e grande porte. Todo o restante é formado por empresas de até 99 funcionários, e a maioria, aponta, com bem menos que isso.

Informalidade é grande

A informalidade ainda é grande. "Calculamos pelos menos 250 a 300 empresas de fundo de quintal aqui, não regularizadas", afirma o coordenador. Contudo, garante, o processo de formalização está se fortalecendo. "O programa federal do Empreendedor Individual (EI), e o regime de tributação do Simples têm bons resultados aqui", justifica.

Líder em lançamentos

Hoje, o Cariri faz dez coleções de sandálias anualmente para todo o Brasil, razão que faz com que o setor não seja abalado pela concorrência chinesa, que envia somente três coleções ao mundo. "A dificuldade das MPEs (micro e pequenas empresas) é a questão de mercado. Elas são atreladas a grandes empresas comerciais", explica.

Mas nem todos os menores têm essa dificuldade. É o que prova Cícero Davi, proprietário da DK Modas. Há 15 anos no batente, o empreendedor conseguiu emplacar seu produto no mercado, e hoje já recusa pedidos, que crescem em velocidade maior ao aumento que vem instalando em sua capacidade de produção. Com 35 funcionários, ele produz 18 mil pares por mês. "E já saem 100% vendidos", garante o empreendedor.

Trabalhando até então com sandálias femininas, infantis e adultas, ele entra 2011 com outro item: o chinelão. Já comprou máquina e forma. Com sandálias com preço variando entre R$ 7 e R$ 13, da venda desses produtos somente 1% é para o Ceará. Todo o resto vai para o Pará, Maranhão e Piauí.

"No começo, eram seis pessoas, em dois quartinhos na casa do meu pai. Fiz uma fabricazinha lá. Aí, ela foi crescendo, fiz galpões. Tudo sem financiamento", conta. Antes de empreender, era sapateiro em uma grande fábrica. Chegou a ser gerente e resolveu investir seu conhecimento do ramo para criar seu próprio negócio. "Eu comecei vendendo pra minha ex-patroa. Aí, fui indo a feiras e implementando novidades e investindo na compra de máquinas novas. E o negócio foi crescendo". E se mantém em crescimento. Cícero já comprou um novo terreno e, em meados do próximo ano, quer ampliar a produção, chegando a 30 mil pares mensais. Para isso, precisará contratar mais 20 ou 25 funcionários. O ingrediente do sucesso, para ele, não é segredo: "entrega na data certa. E a qualidade do produto. E tô sempre aqui, vendo o funcionamento".


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