De extraterrestres a espionagem: qual a diferença entre suspeitas que envolvem ovnis nos EUA e no CE

Estado tem uma região nacionalmente conhecida pelo suposto constante aparecimento de objetos voadores não identificados

Escrito por Redação ,
Legenda: Balões tecnológicos são confundidos com ovnis ao redor do mundo
Foto: Lauriston Trindade/U.S Department of Defense (Reprodução)

Nos últimos dias, o tema ovnis ganhou repercussão internacional porque quatro objetos voadores não identificados foram derrubados pelo governo norte-americano num movimento nomeado de “crise dos ovnis”. Embora distante, aqui no Ceará o assunto tem grande relevância, pois o Estado possui uma região altamente ligada ao estudo, observação e tentativas de identificação de ovnis: o Sertão Central, sendo Quixadá o principal município.

Objetos voadores não identificados (Ovnis) sempre foram um assunto que chamou a atenção, estando no imaginário, mas também sendo tema de estudos e observações mais profundas. Grande parte das vezes associados a suspeitas de visitas de extraterrestres, esses objetos vão além, pois podem ser inúmeros elementos, desde corpos celestes a detritos espaciais, como ainda iniciativas de tecnologia, inclusive espionagem.  

Então, diante dos incontáveis questionamentos sobre o assunto, quais as diferenças e semelhanças entre as suspeitas que envolvem ovnis nos Estados Unidos e no Ceará? 

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Enquanto nos Estados Unidos especulações sobre a presença de alienígenas já foram oficialmente descartadas pelo governo e as maiores suspeitas são de elementos de tecnologia e espionagem, no Ceará as constantes aparições registradas são outros tipos de ovnis e têm outras especulações e explicações também. 

No Estado, de um lado, ufólogos tentam provar a presença de extraterrestres, dando origem inclusive a histórias peculiares. De outro, astrônomos destacam a presença de satélites, lixo espacial, meteoros e até balões tecnológicos – como os que aparecem na América do Norte neste mês.

O Sertão Central, inclusive, desponta como a região cearense com mais relatos do tipo. E isso não acontece à toa: longe da poluição luminosa dos grandes centros urbanos, além da pouca formação de nuvens, o que passa no céu fica mais nítido.

Foto: Acervo DN

“Muitas dessas aparições são de satélites, mas as pessoas confundem e acabam fantasiando que seria algo extraterrestre. Quando tem registros melhores, a gente consegue descobrir o que está por trás”,  explica Lauriston Trindade, membro da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon). Pontos de luz, então, são vistos e criam essa aura de mistério, frisa o especialista.

Icaro Moura, membro do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Astronomia (Lepa) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) frisa que não é raro ouvir relatos ou mesmo observar fenômenos inesperados como luzes se movendo no céu, o que abre margem para especulações.

"Se antes as explicações religiosas ou espirituais dominavam o imaginário, hoje já sabemos falar sobre meteoros, satélites, aviões e outros artefatos tecnológicos como esses balões. E é aí que surge a diferença entre os relatos regionais, mais associados a elementos fantásticos que esses balões que estão pipocando nas notícias", completa.

O que são ovnis?

Mas, afinal, o que são ovnis? Podem ser qualquer forma ou luz vista no céu sem que seja possível dizer do que se trata. É nesse momento que, quem está embaixo, começa a criar várias hipóteses.

No caso das aparições nos Estados Unidos e no Canadá, especialistas apontam que o mais provável é que os objetos voadores sejam balões meteorológicos, que são usados para medir a temperatura, ou balões de espionagem.

Isso pode acontecer com base em interesses políticos e econômicos, como explica Daniel Brito de Freitas, professor doutor em astrofísica no Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Os balões são algo comum há décadas, a novidade é colocar câmeras de alta resolução para fazer algum tipo de espionagem, o que ainda não está devidamente comprovado”, completa o também pesquisador em exoplanetologia (estudo de planetas fora do sistema solar).

Ovnis e tecnologia no Ceará

A realidade cearense está bem longe dos balões de espionagem, no entanto, balões já subiram no céu do Estado para medir temperatura e até levar internet a lugares de difícil acesso.

Legenda: Balão de um projeto internacional de acesso à internet passando por Maranguape na RMF
Foto: Lauriston Trindade/Reprodução

“Esses equipamentos podem ter finalidade de espionagem, mas podem estar disfarçados de balões meteorológicos. Em Fortaleza mesmo tinha uma prática de lançar balões todos os dias, que chegavam a 30 km de altura, para depois medir a temperatura”, completa Lauriston.

Histórias de aparições no Ceará

Algumas das aparições foram noticiadas pela imprensa, reunidas pelo Centro de Documentação do Sistema Verdes Mares (Cedoc)​ e são resumidas mais abaixo nesta reportagem. Tem quem diga ter visto seres de outros planetas e até entrado em contato com eles. 

Conexão com o Sertão Central

Em 1993, o Centro de Pesquisas Ufológicas (CPU) do Ceará apontou que mais de 800 contatos visuais foram feitos no Estado, principalmente, entre os meses de abril e junho. Cidades como Quixadá e Quixeramobim, no Sertão Central, concentram os casos.

Em maio daquele ano, um cinegrafista registrou dois objetos voadores não identificados na BR-020, em Canindé. Na época foi dito que eram discos voadores e que contrariavam as leis da física nos movimentos pelo céu.

Legenda: Histórias sobre ovnis repercutem no interior do Ceará há décadas
Foto: Acervo DN

Em 1976, o comerciante Luis Barroso Fernandes relatou o que se tornou um dos casos mais conhecidos do Ceará na época. No caminho para sua fazenda, em Quixadá, ele disse ter sido surpreendido por uma grande nave estacionada.

Conforme o registro, Luis foi abordado por dois tripulantes, desmaiou e foi encontrado por um vaqueiro da região. Depois disso, o fazendeiro teria ficado com sequelas mentais do episódio vivenciado.

Ovni em São Gonçalo do Amarante

Moradores de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), contaram ter visto ovnis nos dias 24 de janeiro, 3 e 11 de fevereiro de 1994.

Um ufólogo relatou um objeto cruzando o céu numa velocidade média, com aparência de um foguete. "De frente, parecia uma grande bola branca e brilhante", conforme a descrição.

Os moradores contaram que a forma misteriosa permaneceu no céu por mais de 20 minutos até subir e desaparecer completamente. Até algumas crianças e adolescentes, que jogavam bola numa quadra, comentaram sobre a aparição.

Foto: Acervo DN

Já no dia 3 de fevereiro, moradores da rua Coronel Barroso contaram sobre um ovni que saiu de dentro de uma grande nuvem e aparentava uma bola cinzenta.

Nesse caso, as histórias eram sobre uma “nave” lenta, que parou e soltou dois objetos em formato de estrela. Um se deslocou para baixo e outro para cima por cerca de 40 minutos até desaparecer.

Por fim, no dia 11 de fevereiro, moradores de São Gonçalo do Amarante estavam na praça da Igreja, quando viram um objeto desconhecido voando em baixa altitude.

Isso aconteceu às 22h40, momento em que as pessoas disseram ver uma bola com luzes coloridas em direção ao poente.

Apesar das conversas contadas no bairro, o Comando da Base Aérea de Fortaleza, na época, informou que os radares da unidade não registraram nada de anormal nos dias e horários descritos pela população.

'Nave espacial' no Mondubim

Dois rapazes caminhavam por ruas silenciosas próximas à Lagoa do Mondubim, por volta de 23h, até atravessar os trilhos do trem. Do outro lado, perceberam as luzes dos postes oscilando e viram um objeto oval numa altura de 300 metros acima da Lagoa.

Os dois correram, quando o ovni começou a descer, em direção à casa de uma familiar que morava na região. Mas os parentes, para entender a situação, voltaram ao local.

Lá notaram a “nave” num terreno seco, ao lado da Lagoa, e disseram ter visto 5 janelas grandes, redondas e coloridas. Através dessas brechas, a família disse ter visto formas humanas dentro do equipamento.

Foto: Acervo DN

"Tudo lhes passou pela cabeça: talvez fosse um helicóptero executando algum tipo de serviço", detalha a reportagem na época. Foi quando notaram uma dessas figuras "humanoides" fora do ovni que a história quase terminou.

"Não podendo mais se conter, todos os quatros desataram uma desabalada carreira que os levou direto para dentro de casa, onde se trancaram", como foi noticiado.

Um dos rapazes decidiu voltar pela 3ª vez, mas não encontrou nada onde momentos antes tinha se assustado. Na ocasião, ele se sentiu mal e caiu desacordado.

A família contou à reportagem que depois disso o homem ficou agressivo, depressivo e apresentava uma irritação nos olhos.

Linha do tempo de ovnis nos EUA e Canadá

  • 4 de fevereiro: o primeiro balão foi derrubado pelo governo americano neste dia, na Carolina do Norte, depois de entrar no espaço aéreo tanto dos EUA quanto do Canadá desde o fim de janeiro. A China afirmou que o equipamento era para pesquisas meteorológicas.
  • 10 de fevereiro: um ovni do tamanho de um carro foi abatido por dois caças norte-americanos. O objeto não tinha piloto e estava a 40 mil pés de altitude, que é uma altura perigosa para a aviação.
  • 11 de fevereiro: outro objeto não identificado foi acertado por um caça canadense, numa altitude elevada, no Estado de Yukon. O dispositivo era de forma cilíndrica e foi descoberto pelo Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte.
  • 12 de fevereiro: uma estrutura octogonal, sem carga e numa altitude de 6 mil pés foi derrubada no Lago Huron, na fronteira entre Estados Unidos e Canadá. Não foram divulgados detalhes sobre a aparição ou a forma de voo.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, frisou que não há indícios de alienígenas envolvidos nessas aparições, em pronunciamento feito na Casa Branca, nesta segunda-feira (13).

"Eu sei que houve perguntas e preocupações sobre isso, mas não há, novamente, nenhuma indicação de alienígenas ou atividade extraterrestre com essas recentes quedas", frisou Karine numa fala repercutida pela Agência Brasil de notícias.

O astrofísico Daniel contextualiza que estamos num período de produção de imagens com alta qualidade do céu e um monitoramento com radares por todo o mundo. Ainda assim, não há evidências de outras formas de vida inteligente.

“Nós observamos o céu constantemente e nunca encontramos nada que indicasse alguém orbitando à Terra, nos vigiando ou tentando escravizar a gente. Isso são ideias hollywoodianas", completa.

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