Ceará terá centro de pesquisa que busca baratear produção de biofármacos para câncer e doenças autoimunes

A unidade é uma parceria da Fundação Oswaldo Cruz com o Instituto Pasteur de Paris e terá como sede a Fiocruz Ceará, no Eusébio

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Legenda: Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza
Foto: Divulgação Fiocruz

O Ceará passa a sediar formalmente, a partir desta sexta-feira (17), o Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia, no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza. O novo equipamento, que funcionará junto à sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Ceará, é uma parceria da instituição com o Instituto Pasteur de Paris. No local que une laboratórios e espaço administrativo, pesquisadores ligados às duas organizações irão desenvolver estudos para a produção e o barateamento de biofármacos para câncer (de diversos tipos); doenças infecciosas e negligenciadas; doenças autoimunes, neuro degenerativas e inflamatórias.

Segundo o co-coordenador da unidade, pesquisador em Saúde Pública na Fiocruz, João Hermínio Martins, o Centro já está em funcionamento com pesquisas em andamento, e será inaugurado formalmente na sexta. A unidade, explica ele, “é binacional” e foi capitaneada pela Fiocruz e a Pasteur para funcionar no Ceará tendo em vista as condições propícias que o Estado tem apresentado

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De acordo com João Hermínio, os excelentes cursos de graduação e pós-graduação presentes no Estado, com pesquisadores experientes e reconhecidos, aliados a demanda crescente, tanto do Ministério da Saúde como do próprio mercado, “de necessidade de oferecer novos tratamentos e baratear o tratamento para câncer e demais doenças citadas, que são tratamentos de alto custo”, fazem com que o Ceará tenha um cenário favorável para sediar uma instituição de pesquisa desse porte. 

“Esses tratamentos têm custo proibitivo para pacientes comuns, no SUS. Custa muito ao SUS, ao Ministério da Saúde. Então, a ideia é que a gente seja capaz de acelerar a cadeia de produção de medicamentos, tornando esses tratamentos mais acessíveis, baratos e que novas alternativas de tratamento sejam criadas. A ideia é dar mais opção e baratear custos”.
João Hermínio Martins
Pesquisador em Saúde Pública na Fiocruz

O pesquisador explica ainda que o Centro de Pesquisa deve concentrar linhas, áreas e grupos de pesquisa com diferentes bases de formação e especializações, e reunirá “desde a parte de pré- desenvolvimento no computador, com o planejamento de biofármacos, até a fase de pré-desenvolvimento e testagem dessas moléculas de alto custo”. 

Conforme a Fiocruz, entre os projetos patrocinados pelo Centro estão: 

  • O desenvolvimento de inibidores para tratamento de doenças neurodegenerativas; 
  • O desenvolvimento de conjugados anticorpo-fármacos; 
  • O desenvolvimento de fragmentos de nanocorpos/anticorpos para Doenças Tropicais Negligenciadas; 
  • Células CAR-T; e 
  • Imunoterapias para melhorar as funções das células T para combater doenças infecciosas.

No dia a dia, as pesquisas serão desenvolvidas na sede da Fiocruz no Eusébio, espaço que na pandemia de Covid foi dedicado, inicialmente, ao diagnóstico da doença, com o funcionamento da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 (Unadig). “Agora o prédio passa por modificações e está sendo adaptado para a parte de pesquisa avançada em imunologia”, completa João.

Pesquisadores e a produção de fármacos

O Centro Pasteur Fiocruz de Imunologia e Imunoterapia terá um corpo técnico composto por 7 pesquisadores, com possibilidade de aumento desse número, relata João. De acordo com ele, o incremento também deve ocorrer, pois há planos de que alunos de pós-graduação integrem a unidade tendo orientação bilateral pelo Instituto Pasteur e pela Fiocruz.

“Temos um corpo técnico bem especializado. Temos dois pesquisadores seniores, o Martin Bonamino e a Andreia Maranhão, imunologistas renomados. Temos outra co-coordenadora, a Caroline Passaes, pelo Pasteur, que é imunologista e temos alguns pesquisadores que foram contratados para o Centro de Testagem da Covid e tem a experiência daquele momento. Eles são da área biomédica e vão permanecer no centro com a gente”. 
João Hermínio Martins
Pesquisador em Saúde Pública na Fiocruz

Sobre a produção em si de biofármacos no Ceará, João explica que a Fiocruz do Eusébio trabalha alinhada a outras unidades da Fiocruz como, por exemplo, a Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, que é uma unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz. 

Foto: Divulgação Fiocruz

“Mas tem também a (colaboração) internacional com o Pasteur. Colaboração com a Universidade Federal do Ceará, com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos, com a Claudia Pessoa, que conseguem viabilizar e fazer com que outras fases desses estudos que não podem ser realizadas em um só local ou dentro da Fiocruz possam ser realizadas na UFC, na parte de pesquisa clínica”, completa. 

Outra unidade que atua de forma parceira e, segundo João, há conversas iniciais em curso é o Instituto do Câncer no Ceara (ICC). “Estamos tentando fomentar academicamente e cientificamente esse ecossistema de produção de biofármacos no Estado. Aproveitando tudo o que reunimos no país nesses últimos anos. É uma cadeia que estamos tentando acelerar o modo como essas engrenagens funcionam”, reforça. 

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