Pó de carvão prejudica famílias no Pecém

O equipamento que leva o minério desde o Porto até as térmicas está danificado e afeta comunidades

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,
Legenda: Trajeto do Porto até as térmicas passa por diversas casas
Foto: Fotos: Fabiane de Paula

A esteira transportadora de minérios no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) vem causando transtornos aos moradores do entorno, que sofrem tanto com a fuligem do carvão mineral transportado, como com os ruídos. O problema é mais grave para os residentes na Rua Aldira Mendes, no bairro Lagoa do Pecém, que ficam a poucos metros do equipamento. Segundo contam os moradores, quando chegam navios carregados de carvão mineral no Porto do Pecém, a esteira chega a funcionar por mais de cinco dias ininterruptos, até que toda a carga seja desembarcada.

Além da sujeira causada pelas partículas de carvão, os moradores alegam sofrer de problemas de saúde por conta dos resíduos". Quando a esteira começa a funcionar, o nariz entope e a gente fica como se tivesse dentro de um buraco com a poeira sufocando na garganta", diz a dona de casa Antônia Enilvânda.

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Além da sujeira causada pelas partículas de carvão, os moradores alegam sofrer de problemas de saúde por conta dos dejetos

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Com a construção de mais uma esteira, ao lado da existente, os moradores acreditam que a única solução é sair do local

"Todos nós aqui já fomos pro médico e eles sempre falam a mesma coisa, que é alergia a poeira do carvão". Quando a esteira está em operação, os moradores dizem que é preciso varrer a casa várias vezes ao dia.

Transtorno

O metalúrgico, Daniel Butrago da Silva, 48, cuja casa fica há cerca de 50 metros da esteira, diz que o problema vem ocorrendo há mais de quatro anos. E que já tentou encontrar algumas soluções para evitar que a poeira entre na sua casa, mas sem sucesso. "A gente improvisou com um pano para não respirar esse pó fino que vem para cá. Mas continuou caindo muito pó e coloquei um forro de PVC", lamentou. "Já acordei à noite com a poeira, e tive que vir aqui para fora por falta de ar", relatou.

A comerciante Agmara Miranda Saraiva, 44, há cinco anos morando no Pecém, conta que quando chegou à Rua Aldira Mendes, a esteira ainda estava sendo construída mas não imaginou como seria quando ela entrasse em operação.

"A gente não sabia que ela seria dessa maneira. Isso aí é inaceitável, porque mora gente aqui. E eles estão agindo como se não morasse ninguém", revolta-se, contando que também sente dores de cabeça, de garganta e cansaço.

Ruído

Outro transtorno para as famílias que moram próximas ao trajeto percorrido pelo equipamento é o barulho. "Quando ela (a esteira) está ligada, a gente não pode ficar aqui na área. Lá dentro, a televisão tem que ficar ligada no último volume. Se tiver navio com carvão (no Porto), ela funciona dia e noite, sábado, domingo e feriado, e até no dia de Natal. O barulho é insuportável", diz Márcio Saraiva, 47, presidente da Associação dos Comerciantes do Pecém. Incomodada pelos ruídos, Agmara Saraiva foi ao médico, "e ele me disse para tomar calmante. É difícil".

Indenização

Com a construção de mais uma esteira, ao lado da existente, os moradores acreditam que a única solução é sair do local, como já fizeram outras pessoas da rua. Mas, para isso, eles esperam ser indenizados. Há cerca de três meses, eles participaram de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado para debater o problema, mas até agora não receberam qualquer posição. "O governo falou que nos tirava daqui em 30 dias, e estamos entrando em dezembro e até agora não temos uma posição", diz Márcio Saraiva, que representou os moradores na ocasião. "O problema é que não tem como a gente ficar aqui. Tá ficando todo mundo doente, e já estão construindo a segunda esteira", falou. Ele conta ainda que são cerca de 25 famílias aguardando uma posição do governo.

Fiscalização

Contactada pela reportagem, que relatou os problemas enfrentados pelos habitantes do entorno da esteira transportadora, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) enviou nota informando "que a licença ambiental da correia transportadora está válida para funcionamento e que a autarquia vem monitorando o equipamento sempre atenta a qualquer correção que seja necessária".

Empresas

Destino das cargas de carvão mineral que aportam no Porto do Pecém, as termelétricas instaladas na região são administradas pela Eneva e Energia Pecém. Também contactadas pela reportagem, as empresas informaram que as melhorias recomendadas pela Semace para operação da esteira. "Dentre os vários procedimentos adotados foram instaladas escovas rotativas na Torre de Transferência (TT3) para intensificar a limpeza das correias, vedados os pontos de fuga de pó de carvão das Torres de Transferência, substituídos os raspadores das correias por outros mais eficientes, adquiridos novos compressores novos para o sistema e limpeza e abatimento de pó e promovida a contratação de equipe de limpeza para Torre de Transferência. Além disso, também foram instaladas bases de alinhamento para evitar o giro das correias o que poderia impactar também no escape de material particulado", detalha a nota enviada pelas empresas.

O texto ainda garante que é feito "periodicamente ações de monitoramento com Programas que medem os níveis de emissões de materiais particulados".

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