Paralisação ainda impacta de forma severa o Interior do Ceará

Falta de combustíveis e alimentos, preços mais caros e também o cancelamento de aulas são os problemas

Escrito por Alex Pimentel/ Antônio Rodrigues/ Honório Barbosa/ Marcelino Júnior - Colaboradores ,
Legenda: Bloqueios continuam mantidos nas rodovias federais que percorrem o Estado do Ceará, impedindo o fluxo de cargas nos municípios
Foto: Foto: Honório Barbosa

Quixadá/Iguatu/Sobral/Crato e Juazeiro do Norte (Sucursais). Diferente da Capital, as cidades do Interior cearense continuam com a rotina castigada pela crise de abastecimento gerada com a paralisação dos caminhoneiros. Apesar de parte da população apoiar o movimento paredista, combustíveis seguem em falta e alguns artigos alimentícios não chegam - fatores que comprometem atividades básicas dos municípios.

Os efeitos da paralisação ainda são sentidos nas cidades do Sertão Central após uma semana de protestos. Além da falta de combustíveis no fim de semana, com alguns postos ainda fechados nessa segunda-feira (28), a alta abusiva no preço da gasolina, com venda do litro a R$ 5,19 em Quixeramobim e R$ 4,99 em Quixadá, recebeu muitas reclamações dos consumidores.

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Nos outros setores, como as farmácias e supermercados, ainda não foi notado nenhum desabastecimento na região. A possibilidade de os combustíveis não chegarem até as bombas com a continuidade do bloqueio fez com que muitos moradores não saíram de casa nos seus veículos no fim se semana. No fim da manhã de ontem, o movimento começava a se normalizar.

Mesmo assim, os três maiores centros de ensino superior do Sertão Central decidiram cancelar as aulas desta semana. Boa parte dos universitários utilizam como transporte ônibus movidos a diesel, não têm como comparecer às aulas. Além do mais a semana letiva será mais curta. Na quinta-feira é feriado de Corpus Christi.

Manifestação

arte

Em Sobral, estudantes universitários vindos da Serra da Ibiapaba ficaram impossibilitados de seguir viagem porque segue sem alteração a manifestação de caminhoneiros na BR-222, no distrito de Aprazível, (quilômetro 249). Iniciado há cerca de oito dias, o bloqueio de caminhoneiros impediu a passagem de veículos, nos dois sentidos da BR, por cerca de 2 horas da manhã de ontem, 28. Cerca de 8 horas, o tráfego voltou a ser liberado apenas para veículos de passeio e ambulâncias.

 

Para tentar furar o bloqueio, alguns motoristas de caminhões têm feito desvios por caminhos alternativos, aumentando a rota para evitar prejuízos na entrega de produtos. Como é o caso de agricultores que descem a Serra da Ibiapaba com carga perecível. "Eu prefiro fugir do bloqueio, para garantir a venda das verduras", diz Tertulino Rodrigues, agricultor. Quem permanece no local, desde o início das manifestações, é o carreteiro Laércio Faustino, que também estacionou o veículo no acostamento, e diz que só sairá ao final das negociações.

Os manifestantes contam com ajuda de empresários e comerciantes locais, como Pedro de Sousa Neto, de Aprazível. "Eles têm total apoio com comida, água, refeições, banheiros, enfim, o que precisarem, pois achamos importante a manifestação", afirma. Por volta das 16 horas, os caminhoneiros impediram a passagem de três ônibus. Os motoristas foram orientados a estacionar, e ali permanecer, por cerca de 30 minutos, até serem liberados a seguir viagem.

Em Sobral, o atendimento nos postos de combustível, mesmo restabelecido segue com deficiências. Alguns pontos oferecem a gasolina comum, outros apenas a aditivada. Mas a medida tem impedido a formação de filas. Nas bancas de frutas e verduras do Mercado Público, a movimentação permanece normal, mas já existe preocupação, por parte de alguns feirantes.

"É possível que a batata e maçã comecem a faltar nos próximos dias, além de outros produtos", afirmam. Os vendedores dizem que têm tentado segurar os preços para não espantar a clientela. Mesmo assim, os consumidores estão com receio de aumento dos produtos. "Tem um carro que saiu na semana passada, da Ibiapaba, e até agora não chegou no Mercado. Isso complica muito", explica Carlos da Silva Souza, feirante. A movimentação nos maiores supermercados do município também segue com aparente normalidade. Não há prateleiras vazias, nem busca incomum por determinado produto, ou alimento.

Filas nos postos continuam

Já em Iguatu, até o fim da tarde de ontem, 28, os 16 postos na cidade permaneciam sem combustíveis. Somente um mantém fila de carros e motos na expectativa de que por volta das 20 horas um caminhão-tanque chegasse com gasolina. "O jeito é garantir a vaga e o abastecimento porque preciso seguir viagem para trabalhar como vendedor de bebida em barraca na festa de Santo Antônio, em Barbalha", contou, Valdinei Diniz. "Desde Quixeramobim e até aqui não encontramos gasolina".

Os combustíveis em Iguatu acabaram ainda no sábado pela manhã. Nesta terça-feira (29), um posto de bandeira Petrobras deve receber dois caminhões-tanque. "A fila será grande e o estoque só dará para atender até o meio-dia", prevê o frentista Carlos Souza. A paralisação afetou severamente o estoque de frutas e legumes nos mercadinhos, oriundos de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e de alguns alimentos industrializados, como pães e bebidas, vindos de Fortaleza e até da região do Cariri. "As compras não estão sendo faturadas pelas empresas porque não há como transportar", explicou o presidente do Sindicato dos Lojistas de Iguatu, Tadeu Rolim.

O técnico em assistência às granjas, Fernando Cavalcante, disse que a situação que o setor atravessa é preocupante. "O milho, que responde por 60% da ração, já começa a faltar, assim como outros componentes, farelo de soja, farinha de carne e até o ovo fértil", pontuou. A saca de 60 quilos de milho que custava R$ 42,00 passou para R$ 50,00. "As granjas estão racionando ração para tentar atravessar a crise e o reabastecimento é lento".

Escolta no Cariri

Na região do Cariri, os postos com bandeira BR começaram a receber estoque de gasolina desde o último sábado (26), quando quatro caminhões tanques foram liberados da Base de Distribuição da Petrobras de Crato. Foi feito um acordo entre os proprietários, manifestantes e as polícias Federal e Militar. A justificativa é que estes postos atendem veículos que fazem serviços essenciais como ambulâncias e viaturas. Em Crato e Juazeiro foi possível encontrar gasolina em alguns postos, com um preço médio de R$ 4,83.

Neles, se formaram longas filas, sobretudo de motocicletas. Ainda não tem faltado significantemente alimentos nas prateleiras. Verduras e legumes são, em maioria, produzidas na região. No entanto, nas cidades pequenas ainda falta combustível na maioria dos postos. Por causa disso, a direção do Instituto Federal do Ceará (IFCE), no campus de Crato, suspendeu as aulas durante esta semana porque, muitos de seus alunos, moram em cidades vizinhas ou na zona rural. Isso também afetou a Universidade Regional do Cariri (URCA), que paralisou todas as atividades acadêmicas nas unidades descentralizadas de Campos Sales e Missão Velha.

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