Balança comercial do CE muda perfil com industrialização das exportações

O Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), onde está a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), é o principal responsável pela transformação

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,

Com uma pauta de exportações historicamente baseada em bens primários, com baixo valor agregado, o Ceará passa hoje por um período de transformação industrial que vem mudando rapidamente o perfil dos produtos enviados ao exterior. Se nas últimas duas décadas, itens como castanha de caju, couros e peles, e calçados de plástico ou borracha dominavam as exportações cearenses, hoje, as chapas de aço que começaram a ser produzidas pela Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) há pouco mais de um ano já respondem por metade de tudo o que o Estado exporta.

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O principal responsável por essa mudança é o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), que inclui a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) Ceará, onde está instalada a siderúrgica. Embora as chapas de aço também não tenham alto valor agregado, a expectativa é de que a CSP seja a âncora de um polo metalmecânico no Estado, atraindo uma série de outras empresas, como do setor de autopeças, para o Ceará.

Além disso, a própria ZPE busca tem buscado atrair empresas exportadoras de diferentes segmentos, como o de pedras ornamentais. "A grande mudança do perfil industrial exportador do Ceará é a ampliação da ZPE, que terá um impacto muito grande no volume exportado pelo Ceará, pois sem essa nova área ficaríamos limitados à CSP", diz Antônio Balhmann, assessor de Assuntos Internacionais do Governo do Estado do Ceará. Além do segmento de autopeças, Balhmann diz que os segmentos de processamento de minérios e o de confecção também devem aumentar sua atuação no Estado.

Histórico

Desde meados do século 19, o Ceará passou por diversos ciclos de produção voltada ao mercado externo, como ocorreu com o algodão, couros e peles, cera de carnaúba, café, produtos têxteis e de confecção, lagosta, camarão. Dos itens exportados pelo Estado, apenas a castanha de caju permanece, desde a segunda metade do século passado, como um dos principais produtos da pauta cearense. Já nos anos 1990, o Estado começou a se destacar nos segmentos da fruticultura irrigada e calçadista, tornando-se o maior exportador de melões e de pares de calçados do Brasil. Agora, com a consolidação do setor siderúrgico e do Cipp, o Ceará deve elevar sua participação nas exportações brasileiras, que historicamente não chegam a 1% do volume nacional. De janeiro a julho deste ano, o Estado exportou US$ 1,1 bilhão, correspondendo a 0,89% das exportações do País.

Para Balhmann, diferentemente do que ocorreu em outros momentos, a atual fase não é de substituição de produtos da pauta de exportação cearense, mas de ampliação. "No passado, nós nos afirmamos como exportador de peles, lagosta. Agora temos os couros acabados, com maior valor agregado, que vão para a indústria automobilística. E na parte de calçados, que já somos líder, com certeza nós vamos ampliar as exportações".

Para que as expectativas se confirmem, o economista Cláudio Ferreira Lima diz que é preciso focar, principalmente, na formação de mão de obra, já que os principais setores exportadores do Estado não dependem de trabalho qualificado. "A nossa mudança é lenta. O nosso perfil é de indústrias tradicionais, cuja formação se deu por atividades agropecuárias. Mesmo na industrialização na década de 1960, nos setores de alimentos e bebidas e têxtil, as pessoas eram pouco qualificadas", diz.

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