A conta de luz do consumidor em todo o País vai cair até 20% em abril, por conta da devolução de uma cobrança indevida de energia atrelada à usina nuclear de Angra 3. A decisão anunciada nesta terça-feira, 28, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) atinge todas as distribuidoras de energia, com exceção de apenas três empresas, a Sulgipe, a Companhia Energética de Roraima e a Boa Vista Energia.
A queda ocorrerá apenas no mês de abril. Com a decisão, a conta de luz do consumidor residencial da Eletropaulo, de São Paulo, cairá 12,44%. No caso da Light, do Rio de Janeiro, a queda será de 5,3%. A Cemig, de Minas Gerais, vai cortar em 10,61% a sua tarifa de abril. A CEB, de Brasília, terá redução de 5,92%.
A queda varia entre cada uma das distribuidoras por conta dos diferentes prazos de cobrança da energia de Angra 3. No caso da Eletropaulo, por exemplo, o valor foi cobrado indevidamente por nove meses.
A usina termonuclear está em construção no Rio de Janeiro e só deve ficar pronta a partir de 2019, mas acabou entrando irregularmente nas cobranças de conta de luz. Os valores que serão devolvidos chegam a cerca de R$ 1 bilhão e foram devidamente corrigidos pela taxa Selic dos períodos cobrados.
Pela decisão, a conta cobrada por sete distribuidoras do País vai cair de 15% a 20%. São elas: Celpe, Coelba, Cosern, CPFL Jaguari, CPFL Paulista, Energisa Borborema e Energisa Sergipe. Outras 22 empresas apresentarão queda de 10% a 15%. Para 29 distribuidoras, a redução será de 5% a 10%. As demais 32 distribuidoras apresentarão um corte entre 0% e 5%. A decisão atinge 44 concessionárias e 20 permissionárias, todas elas distribuidoras de energia.
A diretoria da Aneel já havia determinado, em dezembro de 2015, que a tarifa de energia relacionada a Angra 3 não devia entrar na conta de luz, porque a usina - previsto para operar em 2016 - não ficaria pronta no prazo. Por um erro interno da agência, porém, a cobrança acabou sendo incluída na conta.
Segundo o diretor da Aneel, André Pepitone, trata-se de um erro inédito, mas a agência tomou medidas para que não volte a ocorrer. A correção dos valores cobrados a mais já tinha sido identificada pela agência nos reajustes tarifários da Energisa Borborema, Light e Ampla, que começaram a ter devoluções mensais por conta da cobrança irregular. A decisão da Aneel, porém, foi de zerar a conta de uma única vez, em abril.
"Foi um erro, mas não houve má fé", disse Pepitone. "A complexidade do processo é enorme. Esse episódio nos trouxe um ensinamento. Precisamos dar um passo adiante e tornar esse sistema ainda mais seguro", comentou.
A Aneel vai criar mais etapas no processo de análise do sistema tarifário, incluindo novas áreas técnicas para homologar as cobranças
Em dezembro de 2015, a Aneel foi questionada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) a respeito de Angra 3. A CCEE é a responsável por fazer a estimativa de custos da conta responsável por recolher recursos do Encargo de Energia de Reserva (EER). Cabe à Aneel aprovar esse orçamento.
É por meio desse encargo, cobrado na conta de luz, que Angra 3 seria remunerada quando entrasse em operação. Pelo contrato de concessão, a usina deveria estar pronta e começar a gerar energia a partir de janeiro de 2016. Mas o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não conta com a usina até 2021. Por isso, a Aneel decidiu autorizar a CCEE a não pagar Angra 3.
Ainda assim, a cobrança foi feita e repassada a consumidores de todo o País, na data de reajuste tarifário de cada distribuidora. O dinheiro ficou no caixa das distribuidoras de energia e não foi repassado nem à CCEE, nem à Angra 3.
Caso o processo seguisse adiante, com a cobrança por 12 meses dos consumidores de todo o País, o valor da cobrança indevida seria de R$ 1,8 bilhão a mais para Angra 3.
Projeto do governo militar, Angra 3 teve as obras paralisadas em 1986. O empreendimento foi retomado em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deveria ficar pronto em 2014, mas sofreu novos adiamentos. Em 2015, as obras foram novamente paralisadas, devido a problemas financeiros da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, e denúncias de corrupção descobertas no âmbito da Operação Pripyat, um dos braços da Lava Jato. Vice-almirante da Marinha, o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva foi condenado e preso por envolvimento no esquema.
Confira a lista completa com os descontos por distribuidora:
EBO (-19,47%)
COSERN (-16,66%)
CPFL JAGUARI (-16,49%)
COELBA (-15,46%)
ESE (-15,36%)
CELPE (-15,31%)
CPFL PAULISTA (-15,28%)
CPFL LESTE PAULISTA (-14,81%)
CPFL MOCOCA (-14,71%)
CAIUA (-14,49%)
CPFL SUL PAULISTA (-14,29%)
EDEVP (-14,23%)
CNEE (-14,19%)
COELCE - atualmente Enel (-13,95%)
EMS (-13,81%)
AES SUL (-13,76%)
CPFL SANTA CRUZ (-13,41%)
AMPLA (-13,36%)
EMT (-13,17%)
BRAGANTINA (-12,69%)
ELETROPAULO (-12,44%)
COPEL-D (-11,88%)
RGE (-10,89%)
CFLO (-10,72%)
COCEL (-10,70%)
CEMIG-D (-10,61%)
ESCELSA (-10,37%)
UHENPAL (-10,22% )
DEMEI (-10,11%)
MUXFELDT (-9,90%)
EMG (-9,85%)
ENF (-9,34%)
ELETROCAR (-9,32%)
IENERGIA (-8,93%)
ETO (-8,90%)
ELEKTRO (-8,89%)
EPB (-8,84%)
CELESC-DIS (-8,51%)
HIDROPAN (-8,40%)
ELFSM (-8,00%)
CEAL (-7,66%)
COOPERALIANÇA (-7,49%)
CELPA (-7,38%)
FORCEL (-7,34%)
CEMAR (-7,33%)
EFLJC (-7,21%)
DMED (-7,09%)
CEPISA (-7,01%)
BANDEIRANTE (-6,95%)
CPFL PIRATININGA (-6,80%)
EFLUL (-6,75%)
CELG-D (-6,30%)
CEEE-D (-5,96%)
CEB-DIS (-5,92%)
CERAL DIS (-5,66%)
LIGHT (-5,35%)
AME (-5,05%)
CEA (-5,03%)
CERBRANORTE (-4,79%)
CERON (-4,74%)
CERTEL (-4,57%)
CHESP (-4,45%)
COOPERMILA (-4,38%)
COOPERA (-4,26%)
COPREL (-4,26%)
ELETROACRE (-4,10%)
CEJAMA (-3,72%)
CERSUL (-3,49%)
CERMC (-3,44%)
CERGAL (-3,27%)
CERMISSÕES (-3,11%)
CERGRAL (-2,95%)
CETRIL (-2,92%)
CERIM (-2,69%)
CEDRI (-2,67%)
CERAÇÁ (-2,62%)
CERILUZ (-2,55%)
COOPERCOCAL (-2,52%)
CERMOFUL (-2,51%)
CRERAL (-2,47%)
CERGAPA (-2,32%)
CEREJ (-2,22%)
COORSEL (-2,17%)
CERPALO (-2,08%)
COOPERLUZ (-1,91%)
CRELUZ-D (-1,73%)
CEDRAP (-1,38%)
CEPRAG (-1,34%)
CERAL ANITÁPOLIS (-1,14%)
CERTREL (-0,95%)