Na crise, consumo vai girar R$ 8 bi na Capital

O segmento com maior expressão nos gastos do fortalezense é o da alimentação fora de casa, com R$ 3,1 bilhões

Escrito por Carol Kossling - Repórter ,
Legenda: Gastos são com alimentação fora de casa, roupas, higiene e eletrodomésticos
Foto: FOTO: JULIANA VASQUEZ

Mesmo em cenário de crise, em 2015, são previstos gastos da ordem de R$ 8 bilhões pelos fortalezenses em somente quatro setores do comércio e serviços, de acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e apresentada durante a 4ª Edição do Brasilshop, realizado ontem, em Fortaleza, pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).

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O segmento com maior expressão é o da alimentação fora de casa, com R$ 3,1 bilhões em consumo. Na sequência, estão os gastos com roupas, com R$ 2 bilhões; produtos de higiene e beleza, com R$ 1,6 bilhão; e eletrodomésticos e produtos eletrônicos com R$ 1,3 bilhão.

Força da classe C

Em todos os setores, é disparada a participação da classe C em relação às demais , A, B e DE. Tanto na alimentação fora de casa como em gastos com roupas, a classe C representa 60% do montante. Esse indicador sobe para 61% quando o setor é de higiene e beleza, e para 66%, nas compras de eletrodomésticos e produtos eletrônicos. "A classe C é disparada o melhor mercado consumidor em Fortaleza", diz Renato Meirelles, presidente do Data Popular.

Perfil diferenciado

Essa camada social se desenvolveu mais no Nordeste do que nas outras regiões do País. E em Fortaleza teve um crescimento muito grande, além de mudança no perfil. Atualmente, 58% dos lares da capital cearense pertencem à classe média; 36%a classe DE; 3% são da B e 2% da A.

Hoje a classe C é liderada por jovens que estudaram mais que os pais (74%), acima da média nacional que é 71%, são mais conectados e respondem como formadores de opinião.

As mulheres também lideram, principalmente as que foram para o mercado de trabalho formal ou se tornaram empreendedoras. Hoje de cada R$ 10 da maioria dos produtos que se compra em shopping R$ 6 são da classe C. "Na prática não se pode pensar em crescimento de negócios sem falar com esse cliente", orienta Meirelles. Os consumidores locais são ávidos por novidades, mas não tem muito dinheiro para gastar e experimentar e seguem indicações de conhecidos.

Percepção

Segundo o Data Popular, 79% da população brasileira têm a percepção de que o País está em crise, em Fortaleza são 71%. No total nacional, 52% acham que essa é a maior crise que o país já viveu, aqui esse índice é de 59%. No Brasil, nove em cada 10 brasileiros acreditam que a crise econômica já atingiu a sua vida pessoal, representado por 88%. Em Fortaleza, o número é um pouco menor (81%).

Pesquisa de preço

No período econômico atual, o comprador da classe C faz muita pesquisa de preço porque procura a relação custo/benefício. "Ele não pode errar na compra", diz Meirelles. Entre as marcas de sua confiança, a opção vai ser para a mais barata. As compras de oportunidades também cresceram e são feitas em mais de um supermercado, variando com os valores dos produtos.

Para Meirelles, a crise tem um ponto positivo: "o consumidor está pensando mais antes de comprar, está mais maduro, pesquisando mais preços e priorizando a relação custo/benefício", pontua. Ele afirma que não existe meio de sair dessa situação sem passar pelo fortalecimento da classe C que é o maior mercado consumidor.

Como desafios para o País sair da crise, estão a manutenção dos empregos formais para estimular o consumo e promover o empreendedorismo. "Essas são as formas de fazer crescer a economia nesse momento", indica Meirelles. Ele prevê que não ocorra expansão da classe C nos próximos dois anos, mas passado o período ela voltará com força. Além de fatores da economia, essa faixa de consumidores aumenta também pela questão sociodemográfica.

O número de pessoas que estão entrando em idade socioeconomicamente ativas é muito maior do que em outras classes. A classe DE tem um número maior de jovens, enquanto A e B têm maior número de pessoas que irão se aposentar.

Estratégias nas vendas

O foco do momento é proporcionar ao consumidor a melhor oportunidade custo/benefício e não mais simplesmente marcas ou status. É preciso criar um senso de urgência. "Não adianta fazer promoção toda hora. Ela tem data para acabar", diz. Também é importante explorar dias próximos ao recebimento de salários.

As empresas cometem alguns erros frequentes que afastam os clientes. Na avaliação de Meirelles, os principais são: achar que as pessoas compram apenas por marca ou status e que o conceito aspiracional da classe C é ser classe A. "Ele quer ser o vizinho que deu certo", afirma.

Dentre as práticas que afastam a clientela dessa camada social, também está vender produtos inferiores a preços baixos e lembrar que ela é pobre. "Errar a mão para cima ou para baixo são os maiores erros", conclui.

Meirelles acredita que em relação ao mercado de shopping centers a tendência é a ampliação de novos modelos, como o surgimento e transformação de centros comerciais. De um lado tem um movimento grande de shoppings populares que pretendem transformar os camelódromos em centros de lazer e entretenimento. "Isso tem crescido muito no Nordeste e vai continuar".

Outro é haver centros comerciais menores em cidades que não estão em regiões metropolitanas. Além da transformação de hipermercados em shoppings com lojas de segmentos variados e cinemas.

Experiência

O consumidor está mais exigente e quer um local não apenas para comprar, mas que proporcione experiência de consumo. Que ofereça estacionamento, cinema, ar-condicionado e segurança para fazer diferença.

"O cliente entendeu que o shopping é um lugar que oferece todas as ofertas com conforto. Erram os empreendimentos que tentam sofisticar e passam a impressão de ter altos preços", considera. Em Fortaleza, ele defende que os novos shoppings têm que ser destinados a classe C, de acordo com as pesquisas apontadas pelo setor. O segredo de sucesso desses empreendimentos é fazer o público se sentir à vontade e ser incluído no contexto.

Área rural

De forma geral, no Brasil, Meirelles constata que a importância do setor rural na economia nacional é pouco reconhecida. A classe média rural também está em ascensão pela questão do empreendedorismo, já a urbana cresceu pelo aumento do emprego formal. No Brasil a região que mais cresce é a do Centro-Oeste.

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