Jeans cearense 'briga' para manter competitividade

Retração do mercado é sentida por empresários do setor e cada vez menos indústrias focam na matéria-prima

Escrito por Redação ,

Mesmo sendo considerado um importante polo industrial de moda, o Ceará não tem apresentado terreno muito favorável à confecção de peças em jeans, especialmente nos últimos quatro anos. A pesada carga tributária aplicada sobre o setor e os investimentos na produção que vem sendo realizados por outros estados fazem com que as peças cearenses fiquem em desvantagem na competição de mercado, especialmente quando o critério de comparação é o preço.

"Em Estados como Pernambuco, Goiás e São Paulo, a carga tributária corresponde a 50% da nossa, isso nos tem feito perder competitividade e espaço para outros mercados que possuem mais incentivos", alerta o presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções no Estado do Ceará (Sindiconfecções), Marcus Venicius Rocha.

Segundo o Rocha, o Ceará, que já ocupou a segunda posição no ranking nacional de confecção de jeans, hoje gravita entre a quinta a sexta colocações.

"Entre 2011 e 2012, o mercado deu uma encolhida, foi uma retração de quase 22%", contabiliza o empresário.

Concorrência externa

Além da dificuldade representada pelos impostos, o segmento sofre influência dos produtos importados, apesar de não ser tão atingido como o setor de confecções, de maneira geral. "Enquanto a agressão do mercado externo sobre as malhas e sintéticos é de 30%, no jeans, isso é cerca de 10%. Parece pouco, mas não deixa de impactar", pondera.

A retração no mercado é sentida pelo sócio-diretor da Fill Sete, Adriano Mota, mesmo com os resultados positivos da marca nos últimos anos. Em 2013, a empresa de Mota cresceu cerca de 30%, e as estimativas para 2014, segundo o diretor, são de crescimento de 20%. Apesar de considerar vantajosa a produção com jeans devido ao potencial de consumo, Mota admite perceber que o material é cada vez menos trabalhado no Estado. "Os empresários estão preferindo a malha porque o jeans demora a dar retorno. Mas a gente poderia estar ganhando muito dinheiro com essa matéria-prima, o que está faltando é investimento no setor, qualificação e incentivos do Governo".

O ônus dos tributos

Com menos indústrias focadas no jeans, segundo Mota, o Estado perde parte do referencial no comércio de confecções. Para o empresário Lúcio Albuquerque, presidente Handara, os impostos, especialmente os federais, vêm pesando a produção nos últimos dois anos. "Do total de vendas, cerca de 15% vão para os impostos, fora os 25% levados pelo Imposto de Renda", destaca o empresário.

Segundo Albuquerque, atualmente, os maiores vilões tributários do setor são o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Para reduzir os custos, a Handara decidiu investir na criação do próprio parque industrial, no fim de 2011. "Deixamos de ser compradores e passamos a ser produtores, isso é um problema para as pequenas fábricas das quais comprávamos o jeans", avalia o presidente da marca.

Já o empresário Otácio Dantas Filho, fundador da Kokid, que até o ano passado afirmava não ter sentido o impacto da tributação ou da concorrência estrangeira, reconhece, em 2014, uma crise que atinge toda o mercado. "As pessoas estão com medo de investir, e com a confecção não poderia ser diferente". Para este ano, a expectativa de crescimento da Kokid, dentro das perspectivas mais otimistas de Dantas, não deve ultrapassar 10%.

Por outro lado, um dos fatores que ajuda a manter a produção, segundo o empresário, é a exigência do cliente pela qualidade dos produtos. "Eles valorizam a marca, a qualidade do tecido, e nisso os importados não nos superam", garante. O Festival da Moda de Fortaleza, que será realizado esta semana pelo Maraponga Mart Moda, deve ajudar a alavancar as vendas, segundo o fundador da Kokid.

Esforço de recuperação

Para resistir aos entraves, o setor tem buscado medidas que possam fazer o Estado recuperar o ritmo de crescimento de outrora, como investimentos em melhoria da produtividade e qualificação da mão-de-obra, além do pedido de revisão dos impostos cobrados sobre a produção. "Fizemos um pleito, junto à Sefaz e ao Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico, para reduzir de 8% para 4% o ICMS da confecção", explica o presidente do Sindiconfecções, que deve se reunir com os representantes do governo ainda este mês para obter a resposta do pedido.

Rocha adiantou, ainda, que o Sindicato, através da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Vestuário, está programando, para abril de 2015, o Ceará Moda Contemporânea, feira de moda voltada exclusivamente para a exposição da indústria local.

Jéssica Colaço
Repórter

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