Itataia: Galvani buscará novo contrato de financiamento
O acordo anterior, firmado com o Banco do Nordeste, expirou e não será mais retomado nos mesmos moldes
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A Galvani, empresa privada que faz parte do Consórcio Santa Quitéria, que explorará a mina de urânio e fosfato de Itataia, terá que fazer um novo contrato de financiamento para o empreendimento. O documento anterior, firmado com o Banco do Nordeste (BNB), ainda em 2009, e renovado por duas vezes, expirou e não será mais retomado nos mesmos moldes. A empresa ainda não definiu se solicitará um novo empréstimo à mesma instituição financeira ou buscará novas fontes.
"O contrato inicial expirava em 2011 e tivemos uma renovação até o ano passado. Posteriormente, renovamos até 2014, e, há algumas semanas, foi decidido que, nos moldes contratuais existentes, o documento terá uma interrupção e só será retomado com o amadurecimento do projeto de Santa Quitéria", explicou o gerente corporativo de Suprimento e Inteligência de Mercado da Galvani, Ronaldo Galvani Júnior.
Esse amadurecimento, explica, já está próximo. O Ibama, responsável pelo licenciamento ambiental do empreendimento, inicia amanhã (20), a etapa de audiências públicas com a comunidade local para apresentar o projeto e colher contribuições. O processo é pré-requisito para que seja emitida a Licença Prévia (LP) do complexo mínero industrial a ser instalado, documento que, segundo Galvani Júnior, é esperado para o início de 2015.
"Já com a LP em mãos, será mais adequado para nós buscarmos linhas de financiamento. Pode ser pelo BNB, pelo BNDES ou mesmo alternativas dentro da própria casa, da empresa", informa o gerente, acrescentando que o grupo ainda não definiu que percentual do valor das obras deverá ser solicitado em crédito. Mesmo após revisões no projeto, com a definição da rota tecnológica que será usada na usina para separação do urânio do fosfato, ele afirma que o valor previsto do empreendimento continua o mesmo, orçado em US$ 380 milhões.
Exploração
A Galvani fechou o consórcio com as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), ligada ao governo federal, para a exploração da mina de Itataia em 2009. A empresa privada é que será responsável pela instalação do complexo, que será constituído por uma mina e duas unidades industriais: uma para o processamento do fosfato e outra para a produção de concentrado de urânio.
A compra de equipamentos para o complexo, alguns deles vindos de fora do Brasil, só será iniciada após a definição de todo o processo de licenciamento. Os equipamentos que exigem o maior prazo para a entrega demoram de 12 a 18 meses entre a aquisição e sua chegada. Contudo, Galvani Júnior garante que esta etapa está alinhada com as expectativas de cronograma do empreendimento.
"Quando iniciarmos as obras, começaremos com a terraplenagem e a construção de bases, das fundações, o que deverá tomar de seis a nove meses e são realizadas antes de instalarmos os equipamentos", explica.
Se o processo de licenciamento transcorrer dentro das previsões, será possível iniciar as obras em Itataia ainda no próximo ano, com projeção para início da produção comercial em 2018, reforça o gerente.
Suporte
No Memorando de Entendimentos assinado entre as empresas e o governo estadual, renovado este ano, o Estado será responsável pela oferta da infraestrutura necessária ao empreendimento, como água, energia e acessos rodoviários. O governo também já possui uma Licença Prévia para a construção de uma adutora no local, informa Galvani Júnior, mas as obras de infraestrutura só começarão quando o licenciamento do empreendimento estiver totalmente resolvido.
Produção deverá substituir importações
O início das operações do complexo míneroindustrial de Santa Quitéria deverá fazer com que as regiões Norte e Nordeste cessem a atual importação de derivados de fosfato, utilizados na agricultura e na pecuária. Esta é a expectativa apresentada pelo gerente corporativo de Suprimento e Inteligência de Mercado da Galvani, Ronaldo Galvani Júnior.
"Temos uma necessidade grande de importação e, no Norte e Nordeste, a dependência é ainda mais crítica. A produção de fertilizantes é mais em São Paulo e Minas Gerais e tem pouca oferta no Norte e Nordeste. Queremos, com a usina de Itataia, substituir as importações que são feitas hoje da China e do Marrocos, por exemplo".
Os principais mercados a serem abastecidos com o empreendimento são o oeste da Bahia e os estados do Maranhão e do Piauí. "Mas queremos fornecer a outros mercados, como no Ceará, para que possa ser melhorada a tecnologia e a produtividade das atividades agropecuárias", acrescenta. "Atualmente, sai mais barato trazer os derivados de fosfato da China do que de São Paulo", compara, afirmando que os produtos da usina terão mais competitividade.
Capacidade
O complexo de Santa Quitéria terá capacidade de produzir 810 mil toneladas anuais de fertilizantes granulados, que são utilizados na agricultura, e 240 mil toneladas/ano de fosfato bicálcico, usado como ração animal. Atualmente, a Galvani produz cerca de um milhão de toneladas de derivados de fosfato em duas unidades da empresa, em São Paulo e Bahia. Assim, somente a unidade de Itataia será responsável por dobrar essa produção.
A previsão é de que a mina de Itataia - que também produzirá 1.600 toneladas/ano de concentrado de urânio, usado na produção de energia nuclear - tenha vida útil de 20 a 25 anos. (SS)
Sérgio de Sousa
Repórter