Indústria torce contra cortes nos investimentos

O mais abalado setor produtivo cearense teme por ter maiores perdas no próximo ano sem aplicações no CE

Escrito por Redação ,
Legenda: Com previsões de números acima do PIB nacional para a indústria brasileira, a expectativa do Ceará é que o setor, no Estado, siga em ritmo igual e tenha melhor desempenho em 2015
Foto: Foto: HONÓRIO BARBOSA

Manter o otimismo e torcer para que, em 2015, o Ceará não venha a sofrer cortes significativos, que impactem mais fortemente no crescimento do Estado. É o que espera para o novo ano o economista e industrial Fernando Castelo Branco, que preside o Conselho de Economia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Sem querer arriscar projeções para 2015, ele afirma que "qualquer perspectiva para a indústria cearense nesse momento, só mesmo com bola de cristal".

É que, segundo ele, as medidas que deverão ser tomadas pelo governo federal em relação à política fiscal irão afetar o desempenho da economia dos estados, já que boa parte de suas receitas são oriundas de transferências da União. "Receio que realmente teremos cortes nos investimentos. Mas não há ainda como saber o quanto isso poderá afetar nosso desempenho", diz.

Inter-relação

Fernando Castelo Branco explica que há uma inter-relação muito grande entre a economia cearense e a indústria do Estado. "Se um projeto que tem capilaridade, como o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), sofrer cortes, isso afetará diretamente a construção civil, refletindo em várias outras atividades da indústria como nos segmentos cerâmico, metalúrgico, de serrarias, entre outros. Então, uma hipótese dessa mexeria com um número bastante significativo de segmentos, o que resultaria num efeito dominó", explica.

Esperanças

Uma esperança, segundo ele, é o fato de o desempenho do Ceará estar sempre acima da média do País. Outro ponto positivo, na opinião de Castelo Branco, é que as previsões para indústria nacional em 2015 são superiores à previsão do PIB (Produto Interno Bruto) estimado para o Brasil no próximo ano.

"A previsão do PIB do Brasil está em torno de 0,7% e para indústria o crescimento está estimado em 1,2%. Em relação ao Ceará, já que o Estado vem crescendo acima da média nacional, é de se esperar que isso continue acontecendo", diz.

Balanço positivo

Fazendo um balanço de 2014, Fernando Castelo Branco considera que a indústria teve bom desempenho. "O faturamento do segmento industrial no Ceará sofreu redução no acumulado de janeiro a outubro desse ano frente a igual período de 2013. Tivemos redução de 1,1% no valor adicionado, queda de 2% na produção física industrial e queda de 1,7% no faturamento da indústria. Mas, apesar disso, houve geração de emprego, com alta de 3,7%. Nossas exportações tiveram 16,1% de alta, enquanto no Brasil a queda foi de 4,2%. Então nossos números foram bem melhores do que na economia brasileira", compara.

Consolidação de aplicações

O industrial tem a expectativa de que se consolidem investimentos no Estado na área de infraestrutura, porém descarta a refinaria Premium II.

"Acredito que a refinaria não deve sair tão cedo, tanto pelas questões sobre a Petrobras (denúncias de corrupções e investigações), como também pela atual conjuntura, com a queda no preço do petróleo", afirma. "Mas temos que manter o otimismo", completa.

CSP ainda é o maior destaque para a metalmecânica no CE

A crise pela qual passa a indústria brasileira ficou mais intensa neste ano. O setor metalmecânico, por exemplo, foi bastante afetado com a alta no preço da energia elétrica em 2014. Isso sem falar em antigos problemas que continuaram deixando o Brasil menos competitivo, como o excesso de burocracia e a alta carga tributária.

No Estado do Ceará, na análise do presidente da Durametal, Fernando Cirino Gurgel, a importância da conclusão da construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que deverá começar a operar entre o fim de 2016 e o início de 2017, ainda é o que mais possui atenção do segmento no Ceará. "A CSP é a coisa mais positiva que vem ocorrendo, em âmbito estadual, para o setor", afirma.

Voltando ao cenário nacional, o anúncio da nova equipe econômica do segundo governo da presidente Dilma Rousseff, no entanto, já começou a gerar otimismo no mercado. Nomes como o do futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, agradam empresários dos mais diferentes segmentos.

Rumo certo à vista

"Na minha opinião, a equipe foi bem montada. São nomes que agradam o mercado. Acredito que, se a presidente resistir às pressões dos partidos políticos, conseguiremos colocar a economia do País no rumo certo", destaca o presidente da Durametal.

Um dos principais desafios do próximo governo, na opinião dele, será criar meios para que o dinheiro público seja gasto com responsabilidade. Criar ou aumentar impostos, afirma, não é a melhor saída para retomar o crescimento do Brasil, que já suporta uma das maiores cargas tributárias do mundo.

CPMF e dólar

Cirino critica, inclusive, a articulação que está sendo feita por governadores eleitos no Nordeste para a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), ideia defendida pelo próximo governador do Ceará, Camilo Santana.

O empresário considera a alta do dólar bom para o País, pois deixa o mercado mais competitivo nas exportações. Ele acredita que a moeda americana continuará valorizada ante o real, em um patamar favorável aos empresários locais.

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