'CE é o estado do NE que mais pode atrair investimentos'

Estado tem potencial para receber aportes sul-coreanos em energias renováveis, diz embaixador

Escrito por Murilo Viana - Repórter ,
Legenda: Embaixador participa hoje, em Fortaleza, do Fórum de Responsabilidade Social Corporativa, promovido pela Embaixada com apoio da CSP
Foto: FOTO: REINALDO JORGE

Além da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que conta com investimentos coreanos (Dongkuk e Posco), quais outros tipos de investimentos da Coreia do Sul podemos ter para o Ceará?

Uma das áreas que nós achamos que pode receber muito investimento é a de energias renováveis, incluindo energia eólica e solar. A Coreia do Sul já está muito ciente do potencial dessa área, que pode ganhar muitos investimentos.

Alguma dessas empresas sul-coreana já manifestou interesse em investir no Ceará?

No fim do ano passado, nós preparamos um seminário sobre energia solar (em São Paulo) com participação de empresas coreanas. Não temos uma empresa concretamente, mas há as empresas que participaram do seminário e elas são muito fortes em produzir equipamentos, fazer instalações para energia solar.

Quais outros atrativos o Ceará apresenta para investidores da Coreia do Sul ?

Infraestrutura é uma área muito importante. Já visitei 19 estados no Brasil, e a demanda para essa área é muito grande. Acho que aqui há muitas demandas aqui também, nas áreas ferroviária, rodoviária, portuária e aeroportuária. E também dentro das cidades há demanda por luz e reciclagem.

Quais são as dificuldades para se investir no nosso País?

São muitas, incluindo a parte de leis trabalhistas e dos impostos. Há muitos impostos para se pagar, e eles são de difícil compreensão para quem vem de fora. Há muita burocracia. Seria bom que existisse um sistema em que empresas que vêm de fora do País pudessem ter o mesmo ambiente de negócios das empresas aqui do Brasil. As estrangeiras enfrentam muito mais burocracia para investir aqui por aqui. Mas isso está mudando com a reforma trabalhista.

Essas mudanças nas leis trabalhistas influenciam na decisão das empresas sul-coreanas de virem para cá?

Pela distância territorial do Brasil em relação à Coreia, muitas vezes elas não conseguem captar logo essas informações ou conseguem captar de uma forma mais superficial. A embaixada repassa essas informações para as empresas coreanas de uma forma mais detalhada para que eles possam ver que realmente está tendo uma transformação, uma mudança. Vai leva um certo tempo para que elas percebam isso.

Nós temos única Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em atividade no Brasil. Como é que a Coreia do Sul avalia o diferencial dessa área na atração de investimentos para o Estado?

A ZPE aqui do Ceará é considerada um sucesso, devido aos benefícios (incentivos fiscais) que ela oferece, além da localização dela. A parte logística também é muito bem avaliada. Então, não só empresas coreanas como de outros países devem considerar essa uma área muito boa para investimentos. Também acho que apoio do governador Camilo Santana é muito forte, é muito importante nesse aspecto.

O presidente da CSP, Eduardo Parente, disse, no evento de celebração das operações da CSP que o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), em São Gonçalo do Amarante, poderia ser uma "mini Coreia", tendo em vista o potencial de desenvolvimento econômico e a educação de referência do Estado. O senhor acha que isso é possível?

Esse complexo pode ser chamado de "mini Coreia" mais por incluir a CSP, que foi um projeto que teve sucesso no estado, com a união entre empresas coreanas (Dongkuk e Posco) e uma brasileira (Vale). E isso fez com que o Estado e a Coreia do Sul se aproximassem mais. A região do Pecém vai começar a liderar essa nova relação que há entre o Estado e a Coreia do Sul, tanto na parte de desenvolvimento econômico, como na parte de cooperação entre os governos. Essa é uma região muito importante.

A Coreia do Sul importa do Ceará, principalmente, itens como calçados, ceras vegetais, sucos e peixes, além de ferro e aço. Quais outros produtos cearenses podem ganhar o mercado sul-coreano?

Essa é uma questão mais detalhada. O que eu posso dizer é que, desde 2012, as importações que a Coreia do Sul fez do Brasil vêm diminuindo. A partir deste ano, pela primeira vez eu vi um crescimento dessas importações. E com certeza entre o Estado do Ceará e a Coreia do Sul vai haver esse crescimento a partir de agora, por causa dessa recuperação na economia do País. Estamos tentando construir um acordo comercial entre o Brasil e a Coreia do Sul que é muito importante. Quanto menos taxas nós tivermos, mais nós poderemos importar do Ceará e fazer com que os produtos do Ceará cresçam no mercado coreano.

Esse acordo será documentado?

Sim, oficial. O governo do Ceará está dando muito apoio para que esse acordo saia logo (segundo o embaixador, não há previsão para que essa pareceria seja firmada). Um fato importante é que esse acordo comercial ele precisa ser levado como algo positivo. Seo Estado do Ceará começar a importar produtos coreanos, de uma forma mais barata, com melhor qualidade, então muitas pessoas que produzem o mesmo produto aqui vão ser contra, pois vão estar perdendo mercado. Então, o bom é levar todo esse acordo comercial de uma forma positiva. Ele vai ser bom tanto para o Brasil como para a Coreia do Sul.

O senhor pode adiantar algum termo desse acordo e como o Ceará pode ser beneficiado por isso?

Isso ainda é muito preliminar, mas normalmente esse tipo de acordo busca isentar muitas taxas de importação e exportação e fazer com que haja essa liberdade de troca de produtos, de serviços, e consequentemente, fazer com que se atraiam mais investimentos. Um bom resultado de um acordo comercial entre países ocorreria, por exemplo, se nós pudéssemos aproveitar do Ceará algum tipo de tecnologia que nós não temos na Coreia. Por outro lado, podemos oferecer outra tecnologia para vocês que vocês não tem. Até anos atrás, a Coreia era uma grande fabricante de calçados. Hoje em dia, nem tanto. Como a qualidade dos calçados do Ceará é boa, a Coreia os importa.

O que mais do Ceará pode aproveitado pela Coreia?

Com as viagens que eu fiz no Nordeste, eu vi que o Nordeste tem potencial para atrair empresas coreanas, mas o problema é que elas não sabem muito, não tem muitas informações suficientes para verem que o Estado do Ceará é uma área que pode receber uma atenção especial. Esse é o Estado mais importante do Nordeste, é o que tem mais potencial para atrair investimentos sul-coreanos. Um fator muito importante é a localização. O Ceará nós sentimos que ele está mais perto da Ásia, e isso faz com que nós tenhamos mais interesse por esse Estado. A localização do estado facilita a movimentação de cargas e as exportações e importações. Espero que no futuro tenhamos voos diretos entre Fortaleza e Seul, na Coreia do Sul. Isso será possível com o desenvolvimento da tecnologia de transportes. Essa região do Nordeste, incluindo Belém, São Luiz, e Fortaleza, se tivesse voos diretos (para Seul) faria uma grande diferença. Nós sempre temos que descer até São Paulo e depois vir para cima para chegarmos aqui.

Nós teremos um centro de conexões aéreas da Air France-KLM. O senhor acha que agora seria viável um voo Fortaleza- Seul?

Sim, com certeza. Se realmente tivermos um hub, seria muito bom, mas temos que ter um pouco mais de evolução tecnológica no setor aeroportuário. Mas isso é uma possibilidade. Mais para frente, talvez nós tenhamos isso.

A crise política do Brasil chega a interferir nas intenções de investimentos coreanos no nosso País?

Desde quando estourou o escândalo envolvendo o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista tememos que muitos investidores deixassem de investir no Brasil, mas isso não aconteceu. Não sabemos o quanto irá durar essa crise política, se vão aparecer novos fatos no futuro, mas estamos vendo essa recuperação na economia do Brasil e podemos assegurar que não vai haver esse medo das empresas coreanas investirem no Brasil.

Jeong Gwan Lee é embaixador da Coreia do Sul no Brasil.

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