Aulas ensinam finanças para a vida

Ensinamentos buscam fazer das crianças multiplicadores das lições de consumo consciente no mundo

Escrito por Redação ,
Legenda: As pequenas Mariana e Sofia acompanham as aulas de finanças pessoais nas classes de matemática, nas quais livros infantis são usados na metodologia que visa fazer delas consumidores conscientes no futuro
Foto: Fotos: Kid Júnior

Enquanto folheiam o livro fininho mas repleto de ilustrações, Mariana e Sofia, de 8 e 7 anos, respectivamente, relembram a história das gêmeas Maria e Helena, personagens da narrativa que se desenrola em torno da questão de economizar dinheiro. "A Helena só sabe gastar, e a Maria só economiza. Mas a Maria é que está certa, porque ela só gasta com o que precisa", atesta Mariana sobre a história.

Empenhadas em demonstrar o que aprenderam com a história, elas trazem o exemplo das gêmeas para suas próprias realidades. "Eu estou economizando dinheiro para uma coisa que talvez eu precise comprar um dia", revela Sofia acerca da reserva de moedas que ela faz em casa - mas que serão substituídas por cédulas quando atingirem um valor mais alto.

"Um dia, eu estava em dúvida para comprar uma boneca, mas lembrei que tinha outras em casa e que eu não brincava com elas. Então, eu comecei a brincar com elas", explica Mariana sobre seus dilemas pessoais.

Consciência no consumo

As comparações logo desaparecem de cena quando o assunto é o Dia das Crianças, já que ambas não abrem mão de novos brinquedos de presente. Mas a consciência do consumo que elas adquiriram, ainda que não se apresente com frequência, já representa um grande passo para a professora Mônica Barros, responsável por trabalhar com elas a relação entre necessidade e desejo durante as aulas.

"Muitos deles (alunos) já sabem a diferença entre consumista e consumidor, mas não é uma coisa que dá para fazer da noite para o dia. Fica mais fácil eles entenderem com os livros, a gente (professores) explora as imagens, descobre a história e vai questionando com eles", explica a professora, que dá aulas para as crianças do 2º ano do ensino fundamental.

A conscientização para o consumo faz parte do projeto Consumo Consciente, praticado há oito anos no Colégio Santa Cecília, no bairro Aldeota. A iniciativa faz parte da rotina de aulas das turmas do 2º ao 5º ano do ensino fundamental, contemplando cerca de 700 alunos. "Ele está inserido na disciplina de matemática. Transversalmente, vamos trabalhando a parte da identificação do dinheiro, o custo que ele tem e, principalmente, qual a diferença entre o desejo e a necessidade", detalha a supervisora pedagógica do Ensino Fundamental Séries Iniciais do colégio, Ana Christine Façanha.

Idade mede ensino

Os conceitos são trabalhados de acordo com as idades de cada série, explica a supervisora, e sempre associados aos conteúdos matemáticos e ações parecidas com as situações vividas no cotidiano.

"Os meninos do 5º ano, por exemplo, vão um dia ao supermercado mas não para comprar, e sim para pesquisar os preços, ver as informações das embalagens", acrescenta.

Já com os alunos do 2º ano, a experiência do supermercado é vivida na própria escola, e os produtos são representados por embalagens vazias. Os valores são estabelecidos pelos próprios alunos, que também se colocam no papel de consumidores analisando os preços.

"Quando o valor era muito alto, alguns compravam, mas outros reclamavam e iam procurar outros", conta a professora.

Ambiente familiar

O aproveitamento dessas vivências aprendidas na escola, no entanto, depende também de outros fatores, como o ambiente familiar de cada um das crianças. "Isso é um trabalho de conscientização, mas sabemos que depende muito da família. Trabalhamos com as crianças como forma de reflexão, e não de imposição", explica supervisora pedagógica do colégio.

Especificamente com o público que trabalha, a supervisora destaca o fato de ser uma classe muito consumista como o principal desafio de fazer as aulas terem resultados.

"Mas as crianças são pequenos multiplicadores, são gotinhas no oceano que a gente vai plantando", diz, esperançosa.

Jéssica Colaço
Repórter

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