Vaticano classifica barriga de aluguel, aborto e eutanásia como ameaças 'à dignidade humana'

Documento foi aprovado pelo papa Francisco

Escrito por Diário do Nordeste/AFP ,
Papa Francisco. Vaticano classifica barriga de aluguel, aborto e eutanásia como ameaças à dignidade humana
Legenda: Iniciativa é considerada uma forma de apaziguar divisões na Igreja, após escândalo sobre bênçãos para casais homoafetivos
Foto: ALBERTO PIZZOLI / AFP

Um documento do Vaticano, aprovado pelo papa Francisco e publicado nessa segunda-feira (8), classifica a barriga de aluguel, o aborto, a eutanásia, a "ideologia de gênero", entre outros temas, como "violações concretas e graves" à dignidade humana.

Em quase 20 páginas dedicadas ao respeito à "dignidade humana", a instituição denuncia a prática do aborto e a ideologia de gênero, além de defender os direitos dos migrantes e das pessoas LGBTQIAP+. A iniciativa pode ser considerada uma forma de apaziguar as divisões dentro da Igreja, quatro meses após o escândalo em torno da instauração de bênçãos para casais homoafetivos.

Segundo o texto, a gestação por barriga de aluguel entra "em total contradição com a dignidade fundamental de cada ser humano" e "a aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei" reflete "uma crise de moralidade muito perigosa."

Sobre o fim da vida, a Igreja reitera no documento a firme oposição à eutanásia e ao suicídio assistido.

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Na ocasião, pela primeira vez de forma tão específica, o Vaticano denuncia veementemente a "ideologia de gênero", que Francisco chama de "colonização ideológica muito perigosa": "Qualquer intervenção de mudança de sexo corre o risco, de forma geral, de ameaçar a dignidade única que uma pessoa recebe no momento da concepção", diz o documento. 

Várias associações católicas LGBTQIAP+ na Itália e no exterior se mostraram decepcionadas com o novo texto, por considerarem que afeta a imagem e os direitos das pessoas trans.

Equidade de direitos

Em contrapartida, a Igreja recorda no texto que as pessoas LGBTQIAP+ devem ser respeitadas e denuncia que "em alguns lugares, muitas são presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual".

Uma parte também é dedicada à violência de gênero, afirmando que "nunca será suficientemente condenada".

Documento levou 5 anos para ser elaborado

Denominado "Dignitas infinita" — "Uma dignidade infinita" —, o documento, resultado de 5 anos de trabalho, foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, o poderoso órgão da Santa Sé encarregado do dogma que lista casos de "violações concretas e graves" da dignidade. 

Desde a sua eleição em 2013, o papa Francisco tem insistido na importância de uma Igreja aberta a todos, incluindo os fiéis LGBTQIAP+, mas seus esforços encontraram forte resistência. 

Perante a imprensa, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, próximo ao pontífice e signatário do texto, respondeu aos crescentes ataques que o acusam de trair a doutrina católica. Ele disse esperar que este novo texto tenha o mesmo sucesso de "Fiducia Supplicans" (Confiança Suplicante), consultado, segundo ele, 7 bilhões de vezes on-line.

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