Tim Maia e o 'Universo em Desencanto' de volta aos muros do país

Legenda: Morte de Tim Maia completou 25 anos em 2023
Foto: Reprodução

Voltou aos muros do país a pichação “Universo em Desencanto”. Vi recentemente no sertão do Crato e no litoral paulista, nos arredores da rodoviária de Caraguatatuba. Curioso rever uma das inscrições de rua mais populares do Brasil nos anos 1970 e 1980. Que viagem!

Fundada em 1935, na cidade do Rio de Janeiro, por obra e graça do médium Manuel Jacintho Coelho, a Cultura Racional é uma entre muitas “religiões OVNI” que surgiram no mundo ao longo do século 20. Em nenhuma outra parte do planeta, no entanto, nenhuma corrente mística teve o privilégio de gerar duas obras extraordinárias de Tim Maia, um dos maiores artistas brasileiros de todas as eras.

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Uma religião OVNI é qualquer corrente mística baseada na crença em extraterrestres. Os adeptos botam fé nos ETs como criaturas empenhadas no bem-estar da humanidade. Cerca de mil livros da coleção “Universo em Desencanto”, publicada entre outubro de 1935 e junho de 1990, dão o lastro teórico para os adeptos. Por este motivo, o principal mandamento é a inscrição “leia o livro”, como vemos pichada novamente em algumas cidades.

Embora tenha sido fundada na década de 1930, essa religião só fez sucesso mesmo com a adesão de Tim Maia, nos anos setentões. Nessa fase mística, o artista deu ao planeta “Racional, Vol. I” e “Tim Maia Racional, Vol. II”.

Os dois álbuns, lançados em 1974 e 1975, sofreram duras críticas na época, mas adquiriram, ao longo do tempo, status de “cult”. Em 2007, a revista Rolling Stone considerou o primeiro disco como o 17º melhor da história fonográfica brasileira. Ainda é pouco. Acho que merecem ficar entre os cinco primeiros de qualquer lista.

O médium Manuel Jacintho morreu em 1991, aos 87 anos. Tim largou a crença em 1975. A separação foi escandalosa. Segundo Nelson Motta, biógrafo do artista, ele saiu à janela de casa furioso e começou a gritar para a rua que o “guru” era um pilantra, um ladrão e um tarado. Um barulho totalmente ao estilo do “síndico”.

Para os mais jovens, a fase racional do artista reverberou nas pistas e festas com o balanço “No caminho do bem”, música incluída na trilha do filme “Cidade de Deus” (2002).

Voltando às antigas, vale finalizar com outro hino religioso belíssimo, “Padre Cícero” (faixa de outro vinil clássico de 1970), uma oração de Tim Maia aos devotos do Nordeste, uma homenagem ao santo popular de Juazeiro. Viva o Tim Maia profano, salve o Tim Maia sagrado!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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