Os testes que encontraram uma concentração de urânio até sete vezes acima do permitido na água da cidade de Santa Quitéria configuram um novo elemento indigesto para o projeto multibilionário da usina de urânio e fosfato que pode se instalar na cidade cearense.
O polêmico projeto se arrasta por décadas, tendo sido reconfigurado e hoje sendo de responsabilidade do Consórcio Santa Quitéria, formado por Galvani e INB (Indústrias Nucleares do Brasil).
A contaminação da água, frise-se, não tem relação direta com o empreendimento, afinal, este ainda nem tem autorização do Ibama para iniciar suas obras e operações. Contudo, lança mais uma controvérsia sobre um tema espinhoso do ponto de vista ambiental, alvo de críticas de especialistas e também no campo político.
Esse novo elemento tem força para repercutir negativamente na opinião pública e na comunidade local, onde o sentimento sobre a usina é dicotômico. Parte dos moradores teme uma eventual tragédia ambiental, enquanto outra parcela é esperançosa quanto às possíveis oportunidades de emprego e renda.
Parlamentar critica projeto
O vereador Gabriel Aguiar, de Fortaleza, é uma das principais vozes contrárias ao projeto.
"Explorar esse urânio é um grave erro. A jazida precisa ser deixada onde está, sem exploração, para que as vidas humanas e os ecossistemas sejam poupados. Caso contrário, cenas muito perturbadoras podem aparecer", comenta.
O parlamentar afirma ainda que o urânio, em seu estado natural, embaixo do solo, "não é tão perigoso, mas quando as empresas furam o solo, resolvem minerar a jazida e quebram essas rochas, é gerada uma poeira fina que contamina as águas, as plantações, as casas e os corpos das pessoas".
Posição do Consórcio
Em nota, o Consórcio Santa Quitéria ressalta que o projeto está em fase de licenciamento ambiental, "não tendo iniciado nenhuma construção ou operação na cidade de Santa Quitéria".
"A ocorrência de concentrações de urânio na área mencionada não está associada à Jazida de Itataia, que tem uma distância de 70 Km de Trapiá", diz a nota.
Plano de contingência
O Governo estadual tem executado um Plano de Contingência na localidade desde o dia 28 de setembro.
Segundo o Estado, o comprometimento da qualidade do recurso natural se dá por causas naturais, pois o solo apresentou alta concentração do material.
Veja as medidas adotadas:
- Criação de um Comitê Emergencial para Gerenciamento de Riscos e Contenção de Danos, formado pelas secretarias da Casa Civil, Recursos Hídricos, Saúde e Procuradoria-Geral do Estado, além dos órgãos Cagece, Cogerh, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Militar;
- Interdição imediata dos pontos de coleta das amostras em que foi identificada a presença de urânio;
- Orientação e acompanhamento multidisciplinar da população local, inclusive com a visita de técnicos de saúde e de abastecimento e realização de audiência pública;
- Garantia do abastecimento à população da localidade com 15 carros-pipa diários;
- Início do funcionamento da adutora nesta semana, que levará água do açude Araras até a localidade, com vazão de 18m³/h;
- Elaboração de Plano de Contingência em resposta ao evento adverso, a partir de estratégia planejada e intersetorialmente articulada, objetivando minimizar efeitos
Este conteúdo é útil para você?