Corresponsabilidades na manutenção do Parque do Cocó e de outras áreas verdes urbanas

O Parque do Cocó se espalha por muitos bairros da Capital e seus limites se avizinham a empresas de todos os tipos, a comunidades e a sei lá quantos empreendimentos residenciais de alto padrão

Legenda: Somente com padrões de governança democrática e de corresponsabilidade que minimizaremos os graves problemas socioambientais
Foto: Thiago Gadelha

Um novo incêndio de médias proporções causou danos ao Parque do Cocó. Quando esses incidentes desagradáveis acontecem, janelas de reflexão se abrem. Medidas de controle e contenção são óbvias, assim como a investigação acerca das causas do sinistro. No entanto, apontaria, como questão fundamental para a discussão, as dificuldades e os desafios na gestão de espaços verdes em ambientes urbanos como Fortaleza.

Sendo uma unidade estadual, o Parque é de responsabilidade da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, de seu gestor e de seu aparato de governança. Contudo, mesmo que cobremos eficiência desses entes e, da mesma forma, apontamentos para a necessidade de aplicação do Plano de Manejo da Unidade, seria leviano olvidar a corresponsabilidade de outros agentes sociais no processo de cuidado e manutenção de tão importante espaço verde urbano.

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O Parque do Cocó se espalha por muitos bairros da Capital e seus limites se avizinham a empresas de todos os tipos, a comunidades e a sei lá quantos empreendimentos residenciais de alto padrão. Em relação a esses últimos, não são raras as ações de marketing imobiliário a utilizar a natureza do parque como um fator agregador de valor aos imóveis residenciais.

Onde quero chegar? Se todos sabemos que o Parque, e os demais espaços verdes, da cidade são ambiental, social e economicamente estratégicos para a coletividade, é coerente a participação da sociedade civil e da iniciativa privada no cuidado, na proteção e na conservação natural.

O acúmulo de resíduos sólidos, o lançamento não tratado de efluentes, o desmatamento e a produção de focos de incêndio são práticas intoleráveis, porém frequentemente constatadas. Empresas sérias que coadunam com os preceitos da responsabilidade socioambiental, além de cumprir as leis ambientais, deveriam incorporar a proteção da natureza às suas ações corriqueiras.

Incêndio no Cocó
Legenda: Quando esses incidentes acontecem, janelas de reflexão se abrem. Medidas de controle e contenção são óbvias, assim como a investigação acerca das causas do sinistro
Foto: Thiago Gadelha

São exemplos viáveis a formação de fundos, a abertura de editais e o financiamento de pesquisas e de ações de educação ambiental. Organizações não-governamentais e as Instituições de Pesquisa cearenses estão preparadíssimas para contribuírem na execução desses projetos.

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Ações de educação ambiental tem o objetivo de transformar todos os moradores do entorno do parque em parceiros da gestão. Uma verdadeira revolução: de supostos degradadores, os moradores se configurariam em verdadeiros guardiões do verde. Criado esse acordo socioambiental, qualquer ação de degradação seria rapidamente identificada, denunciada e, por lei, o Estado agiria de acordo com seu papel constitucional.

Como defende o economista e sociólogo mexicano Enrique Leff já passou da hora de entendermos que não há complexidade social sem uma nova perspectiva da importância da dimensão ambiental. Parece difícil, porém, somente com padrões de governança democrática e de corresponsabilidade que minimizaremos os graves problemas socioambientais. O intuito maior é manter os espaços verdes e nos tornar uma sociedade melhor.